
A estratégia tem se mostrado eficaz em transformar a carne bubalina em um produto mais leve, macio e valorizado
Durante muito tempo, a carne de búfalo foi vista com desconfiança por boa parte dos consumidores. A imagem de um animal rústico e selvagem gerou o mito de uma carne dura e pouco atrativa. No entanto, essa percepção vem mudando rapidamente graças a uma revolução silenciosa no campo: o abate precoce.
A estratégia tem se mostrado eficaz em transformar a carne bubalina em um produto mais leve, macio e valorizado. Criadores vêm adotando práticas que permitem a entrega de cortes nobres com qualidade semelhante — ou até superior — à carne bovina tradicional. Um exemplo dessa transformação vem do Centro-Oeste do país.
No coração de Mato Grosso do Sul, o empresário Daniel Borges criou a marca Búfalo Beef MS. Com base em Bodoquena, ele aposta em hambúrgueres artesanais, linguiças e cortes especiais voltados para o churrasco. A chave do sucesso está no manejo: os búfalos são desmamados por volta dos 10 meses, castrados e engordados de forma planejada. O abate acontece entre 18 e 24 meses, bem antes da média convencional, que gira em torno de 36 meses.
Inspirado por práticas observadas na Itália, Daniel buscou adaptar o modelo à realidade brasileira. O resultado tem chamado atenção. Ainda que a comercialização se concentre em Campo Grande e região, a demanda já ultrapassa as fronteiras do estado. Há interessados em São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e até mesmo fora do país, como nos Emirados Árabes e Estados Unidos.
A capacidade produtiva, no entanto, ainda é limitada. Com cerca de dois anos de existência, a Búfalo Beef opera com uma produção mensal de aproximadamente 2 toneladas de carne. Para atender novos mercados, será necessário expandir a operação e conquistar certificações que permitam a venda interestadual e internacional.
O apelo da carne de búfalo não é apenas sensorial — ela também se destaca no valor nutricional. Em comparação com a bovina, apresenta cerca de 55% menos calorias, 40% menos colesterol, além de possuir mais proteína, ferro e minerais.
Liderança na produção
No sul do país, essa transformação também está em curso. No Rio Grande do Sul, estado que lidera a produção nacional de carne bubalina, o abate precoce ganhou força nos últimos anos. De acordo com Raphael Gonçalves, criador e vice-presidente da Associação Gaúcha de Criadores de Búfalos, a mudança de perfil tem atraído novos pecuaristas.
Enquanto estados como São Paulo e Minas Gerais mantêm foco na produção de leite e derivados, os gaúchos estão apostando forte na carne. “O mercado está se renovando com criadores mais voltados para o corte de qualidade, e isso muda toda a cadeia”, explica Raphael, que atua em municípios como Rosário do Sul e São Gabriel.
A presidente da mesma associação, Desireé Möller, também destaca outro ponto de interesse: a rusticidade do búfalo. Com alta resistência ao carrapato, os animais requerem menos medicamentos, o que abre portas para um sistema de produção mais limpo e, futuramente, com certificação orgânica.
Com sabor marcante, textura agradável e um perfil nutricional diferenciado, a carne de búfalo deixa para trás os preconceitos e abre caminho para uma nova fase no mercado de proteínas. A pecuária bubalina, antes tímida, agora se apresenta como uma alternativa viável, rentável e sustentável para o futuro da alimentação.
Escrito por Compre Rural
VEJA MAIS:
- Alta produção de biomassa impulsiona uso da BRS Capiaçu na geração de energia renovável
- Mais de 35 mil fazendeiros correm risco de perda do imóvel para a União
ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias
Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.