A nova voz, na pecuária leiteira e no mundo!

O advento da interatividade na comunicação por meio das redes sociais e de aplicativos de mensagem surgiu como uma avalanche contagiando a todos.

Reencontramos familiares distantes, amigos do passado, pessoas com quem estudamos e compartilhamos a juventude. Longas distâncias que separavam as pessoas se reduziram a nada e a interação social atingiu um novo status global. É bem verdade que a revolução meteórica da comunicação interativa reduziu o calor humano das relações, trazendo o distante para perto, mas distanciando quem está próximo de verdade.

Essa grande mudança que está ocorrendo na história da humanidade também democratizou a informação. Em um passado não muito distante, a velocidade da imprensa — desde a captação de uma notícia, edição até a veiculação em rádio, jornais e TV — já impressionava.

Lembro-me bem que por volta do início dos anos 90, meu pai permitiu que um distribuidor do jornal “O Globo” descarregasse diariamente pilhas e mais pilhas de jornais na varanda da nossa casa, em Rio Bonito/RJ, a 70 km da capital. Chegavam às 3 horas da manhã e deixavam os impressos para que outras pessoas os redistribuíssem por volta das 6 horas. Eu era um menino apaixonado por futebol e ficava nos dias posteriores aos jogos do meu Flamengo acordado, aguardando o periódico com detalhes das partidas. Sempre me impressionava muito a rapidez com que a notícia sobre os jogos era veiculada. Muitas vezes as partidas terminavam às 23 horas do dia anterior e logo pela madrugada já tinham informações, análises e fotos sobre tudo o que aconteceu.

Ao contar essa história hoje, certamente eu seria ridicularizado por um menino de 18 anos, ao me gabar da agilidade com que o Jornal “O Globo” processava uma informação no início da década de 90. A informação atualmente é instantânea, quase que imediata, quando não é de fato imediata.

A comunicação é, de longe, o setor que teve o desenvolvimento tecnológico mais acelerado na humanidade. Grande parte das pessoas que completam 70 anos em 2020 já atualizam rotineiramente seus status do Facebook e no Instagram, mesmo tendo sido testemunhas oculares dos primeiros televisores que chegaram ao Brasil.

Tudo o que foi dito até aqui parece traçar uma realidade fascinante, de uma evolução que somente trouxe ganhos para a humanidade. Mas, infelizmente, nem tudo são rosas.

Pessoas que antes não manifestavam suas opiniões, preferências, desejos e intimidades foram surpreendidas do dia pra noite transitando do anonimato para o papel de ator principal. Descobriram que comentar, opinar, discutir, informar e expor suas rotinas íntimas geram likes, um “carinho digital” ao ego. Passaram a se aproximar de indivíduos com pensamentos parecidos e alijar quem é diferente. Aí que a coisa começou a sair do controle.

A distância entre a verdade e a mentira no surgimento das informações passou a ser mínimo e então nos deparamos com um poderoso turbilhão de notícias duvidosas que invadiu a sociedade gerando insegurança e risco para todos.

A exposição das opiniões políticas, sociais e de simples preferências sobre quaisquer assuntos exacerbou os ânimos, causando um claro distanciamento entre opostos. A mesma rede que deu voz a boas ideias trouxe à tona pensamentos radicais, por vezes preconceituosos, e uniu todo tipo de gente por uma causa pontual qualquer.

Surgiram ainda aqueles que defendem teses loucas, teorias da conspiração e desafiam o conhecimento científico com “pesquisas” que desenvolvem em alguns caracteres. Em não mais que alguns minutos publicam conclusões de “grande complexidade”.

É o culto à ignorância no ponto mais alto que já se teve notícia. Daí surgiram movimentos que comprovaram indubitavelmente que a terra é plana e que seres humanos não precisam mais de vacinas, por exemplo.

Imagem: Pixabay

Mas, o que isso tudo tem a ver com o leite?

O ambiente se tornou inóspito para quem tem que promover alguma coisa. Marqueteiros foram tomados de assalto com uma legião de consumidores que elogiam, recomendam, criticam, questionam, sugerem, agridem ou denigrem uma empresa ou uma marca.

Enquanto permanecem no campo do consumidor como avaliador individual, podemos tirar uma vantagem de quase todas essas ações. Conhecendo as insatisfações sobre um produto e podendo quantificá-las, é possível seguir com melhorias que levem a excelência.

Mas e quando as ações são somente agressivas e, por vezes, coletivas?

No nosso setor, enfrentamos agressões organizadas e não organizadas que surgem na maioria das vezes por pessoas radicais que se intitulam veganas e outras que são “legítimas defensoras dos animais”, que, por gostarem muito de cachorros e gatos, enxergam vacas como “pet”. Há ainda aqueles que não gostam de leite, que preferem outro produto e outros que simplesmente vão na direção de qualquer onda que combinar com a capa do seu “perfil”. Nunca foi tão atual a fala do nosso grande cantor Cazuza: “ideologia, eu quero uma para viver”.

Todos esses tipos de opositores enxergam suas preferências e pensamentos como um padrão a ser seguido. Por terem se tornado tão donos das suas próprias histórias — que são atualizadas diariamente nas redes sociais—, entendem como inaceitável que qualquer ser vivo ouse pensar diferente e que consumam produtos que eles não aprovam. Passaram a ser criadores das regras e precisam monitorar a todo tempo os costumes alheios. 

O fato é que, na maioria das vezes, as manifestações radicais surgem de ideias completamente estapafúrdias, sem nenhuma origem científica e que transformam “achismos” em verdades virais.

Já vi até produtor de leite criando teorias escalafobéticas quanto ao risco do surgimento de pandemias mortais a seres humanos em confinamentos de vacas de leite. Isso mesmo! Um produtor de leite “teorizando” um absurdo que pode impactar diretamente na imagem do seu produto simplesmente porque ele prefere o sistema de criação de gado a pasto.

O desafio não fica só no ponto de vista de marketing setorial, na gestão de marca das empresas. Qualquer deslize, inconformidade ou associação negativa de impacto social ou ambiental a uma marca, mesmo que mentirosa, pode causar um estrago enorme.

Quando estamos em família, sempre tem uma tia urbana que vem perguntar: “O leite tem hormônio?”, “sai sangue do peito da vaca?”, “vaca é maltratada?”, “dói pra tirar leite?” etc. Saímos sempre com a impressão de que fizemos um bem ao setor por desmistificar absurdos. Se tem tanto efeito sobre “uma tia”, imagine em um ambiente que tem milhares de participantes que impactam outro milhões diretamente. Exercite vistoriar em sua lista de amigos do Facebook, quantos não tem qualquer ligação com o setor. Quantos são vulneráveis a desinformação.

É preciso fazer tudo cada vez melhor no setor. Focar em processos, bem-estar animal, higiene e preservação ao meio-ambiente. Uma imagem errada em forma de foto ou vídeo publicada em uma mídia social por um dos “opositores” ao consumo de leite pode ser o estopim para uma crise, mas também precisamos aprender a falar bem do que fazemos.

Fonte: Milk Point

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