A qualidade na agropecuária: mais que um diferencial

O controle de qualidade na agricultura pode garantir alimentos mais saudáveis, práticas mais sustentáveis de cultivo e um conjunto de outras ações que agregam valor aos produtos

Por Fernando Mendes Lamas* – Independentemente do elo da cadeia agroalimentar, o aspecto qualitativo do produto de origem agropecuária é cada dia mais importante. Tanto para o mercado interno como para o externo, qualidade é algo fundamental. O controle de qualidade na agricultura pode garantir alimentos mais saudáveis, práticas mais sustentáveis de cultivo e um conjunto de outras ações que agregam valor aos produtos, além de auxiliar os produtores a conquistarem seu espaço junto aos consumidores. Para a maioria dos produtos, tanto os de origem animal como vegetal, existem parâmetros qualitativos, mensuráveis, que permitem classificar o produto.

Um exemplo é o algodão, tão importante quanto a produtividade é a qualidade avaliada por um conjunto de características da fibra. Assim, para cada forma de utilização do algodão, deve ser apresentado um conjunto de características que atendam à demanda da indústria têxtil. Características como a finura da fibra, o comprimento, a uniformidade, a resistência, dentre outras, são características que definem a qualidade do produto, podendo em alguns casos levar a algum tipo de deságio do preço no momento da comercialização.

A qualidade da fibra interfere em vários aspectos, desde a produção do fio até o tingimento de um tecido. A presença de determinadas espécies de plantas daninhas também pode interferir negativamente na qualidade do produto. Um exemplo no caso da produção animal é a carne bovina, onde aspectos como o sistema de criação, a idade de abate, a espessura da camada de gordura, o marmoreio, o diâmetro do olho do lombo, dentre outras, são características exigidas pela indústria frigorífica para atender à demanda do consumidor.

Com os exemplos acima, fica evidente o quanto a questão da qualidade é importante. Mas não é só isso, especialmente para o mercado externo é analisado, por exemplo, a quantidade de sementes de outras espécies na soja. Em alguns casos, apenas uma semente de outras espécies que não a soja, é suficiente para que uma carga seja recusada pelo comprador. Especialmente, quando se deseja conquistar mercados, é fundamental se preocupar com os aspectos qualitativos do produto, que também são fundamentais para fidelização do parceiro. No caso de produtos de origem agropecuária, muitas configurações qualitativas são definidas ainda no campo, assim, é preciso tomar medidas para evitar a deterioração do produto durante o processo de colheita, beneficiamento e armazenamento.

Ainda utilizando o exemplo do algodão, o momento da colheita, a operação de colheita e o beneficiamento podem causar danos. A temperatura e o tempo de secagem de grãos armazenados também podem interferir negativamente na qualidade de um produto. Além dos aspectos intrínsecos da qualidade, aspectos externos também são utilizados para estabelecer padrão e valor do produto. Se o aspecto externo de um determinado produto, especialmente frutos, descaracteriza-o, esse pode ficar sem valor comercial, pois o consumidor não aceita tal mercadoria.

A qualidade do produto pode ter diferentes percepções ao longo da cadeia, ou seja, as exigências no que se refere à qualidade podem sofrer variações quantitativas e qualitativas ao longo da cadeia. No caso de um artigo agrícola, a qualidade começa a ser definida no campo. Assim, práticas agrícolas adequadas devem ser consideradas quando se pensa em qualidade, tais como: época de semeadura, população de plantas, adubação, manejo de plantas daninhas, de pragas e de doenças. A época de semeadura tem impacto tanto no aspecto quantitativo como no qualitativo da produção. Se, na época da colheita do algodão ou quando da maturação do trigo e do feijão, ocorrerem chuvas prolongadas e intensas, a condição do produto a ser colhido poderá ser severamente comprometida. Vale lembrar que época de semeadura é um fator de produção com custo zero. Máquinas utilizadas no processo de colheita e beneficiamento, se não devidamente reguladas, podem comprometer a qualidade do produto. Os usos de produtos químicos em quantidade superiores e fora da época adequada podem interferir negativamente na qualidade do produto e, neste caso, também na saúde do consumidor, especialmente, mas não só, nos produtos consumidos de forma in natura.

Além dos aspectos já comentados e seus principais efeitos sobre a qualidade dos produtos, outros fatores também devem ser considerados. A questão do bem estar animal vem ganhando importância cada vez maior. Assim, a forma o animal foi criado, transportado e abatido passa a ser considerado pelo consumidor. Um exemplo bastante ilustrativo é a questão de produção de ovos por galinhas mantidas em gaiolas ou criadas soltas. O consumidor começa a dar preferência por ovos oriundos de galinhas criadas livres. Garantir as melhores práticas de controle de qualidade na agropecuária vai além da vantagem competitiva.

É uma questão de saúde pública, ética e respeito ao meio ambiente. Antes as preocupações estavam muito voltadas para os aspectos quantitativos, por conseguinte, esse era o mais importante. No entanto, nos dias atuais, a qualidade é tanto ou mais importante do que a quantidade. É importante ressaltar que a qualidade deve ser considerada durante todo o processo de produção de um produto de origem vegetal ou animal. Aspectos relativos ao uso e à conservação do solo e da água são muito importantes quando se pensa em qualidade.

Pesquisador Fernando Mendes Lamas
Pesquisador Fernando Mendes Lamas

Fernando Mendes Lamas é Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste

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