Argentina zera imposto de exportação de grãos e carnes; entenda impactos para o agro brasileiro

Medida do governo Milei que zera imposto de exportação de grãos e carnes até 31 de outubro, busca entrada rápida de dólares, mas levanta dúvidas sobre competitividade e impactos no Brasil

A Argentina surpreendeu o mercado internacional ao zerar temporariamente os impostos de exportação sobre grãos e carnes, conhecidos no país vizinho como retenciones. A medida, válida até 31 de outubro de 2025, abrange produtos-chave como soja, milho, trigo, girassol, carne bovina e aves.

O objetivo declarado pelo governo é atrair até US$ 7 bilhões em um curto intervalo de tempo para reforçar as reservas cambiais e reduzir a pressão sobre o peso argentino. O anúncio ocorre em meio a semanas de instabilidade no câmbio, quando o Banco Central foi obrigado a intervir no mercado vendendo mais de US$ 1 bilhão para conter a escalada da moeda norte-americana.

Com a suspensão das tarifas, a Argentina barateia imediatamente seus embarques, permitindo que exportadores aumentem margens e acelerem contratos internacionais. Até então, o país cobrava taxas que variavam entre 9,5% e 26% dependendo do produto — valores que agora ficam temporariamente em zero.

Esse movimento tende a liberar grandes volumes de grãos e proteínas, especialmente de estoques que estavam represados, buscando aproveitar a janela de preços internacionais.

Reações no campo argentino

A decisão, porém, gerou divergências entre entidades do agro argentino:

  • Sociedade Rural Argentina (SRA): elogiou a iniciativa e defendeu que a eliminação das retenciones se torne permanente, argumentando que o setor produtivo é quem sustenta a geração de divisas no país.
  • Federação Agrária Argentina (FAA): foi mais crítica, apontando que pequenos e médios produtores já venderam a maior parte de sua produção e não conseguem se beneficiar da medida. Assim, o impacto real seria maior para grandes exportadores com maior capacidade de armazenagem e negociação.

Reflexos para o Brasil

O Brasil, como principal concorrente em grãos e carnes, observa com atenção:

Soja e derivados

A Argentina é o maior exportador mundial de farelo e óleo de soja. Com os impostos zerados, o país ganha força imediata no mercado, podendo pressionar prêmios internacionais e reduzir a atratividade da soja brasileira nos portos do Sul, especialmente no Paraná e no Rio Grande do Sul.

Milho e trigo

Os dois países disputam espaço em mercados como Oriente Médio e Norte da África. O embarque argentino mais barato pode afetar cotações internacionais e gerar ajustes internos nos preços brasileiros, principalmente nas regiões exportadoras do Centro-Oeste.

Carne bovina e aves

Na bovinocultura, o impacto tende a ser regional e pontual. O Brasil continua líder mundial e mantém vantagens de escala e sanidade, mas em determinados mercados — como o Chile e alguns países da Ásia — a Argentina pode disputar contratos com preços mais agressivos. No setor de aves, o efeito deve ser limitado, já que a participação argentina no comércio global ainda é restrita.

Um alívio temporário

Apesar do impacto imediato, a medida tem caráter pontual e emergencial. O governo Milei precisa mostrar resultados no curto prazo, mas especialistas lembram que em novembro a situação pode voltar ao cenário anterior, com o retorno das tarifas.

Até lá, o mercado deve acompanhar:

  • O ritmo dos registros de exportação e embarques argentinos;
  • O comportamento dos prêmios nos portos do Prata em comparação com Santos e Paranaguá;
  • A reação política e econômica diante da pressão de produtores por uma mudança mais estrutural.

Argentina zera imposto de exportação de grãos e carnes: O que está em jogo?

A Argentina busca enxugar o peso da intervenção estatal no agro, mas enfrenta a tensão entre garantir dólares para o caixa e manter competitividade no campo. Para o Brasil, a principal lição é clara: qualquer alteração regulatória no vizinho impacta diretamente as disputas comerciais em grãos e proteínas, exigindo atenção redobrada nas próximas semanas.

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