Bezerro desvaloriza quase R$ 100/cab na última quinzena; E agora?

Os impactos do período de baixa nos preços dos bovinos, determinados pelas fases do ciclo pecuário, seguem forçando negativamente os valores de negociação do bezerro e, claro, deixando a pecuária da cria menos atrativa neste momento; E agora, qual o futuro? Confira!

A pecuária, há muito tempo, tem sido uma das espinhas dorsais da economia agropecuária em muitas regiões do mundo. Dentro dessa atividade, existe um fenômeno na bovinocultura de corte que se chama “ciclo pecuário” e que passa batido por muita gente. Mas é fato, “ele tarda mas não falha!”. Observando os dados atuais, percebemos que os preços boi gordo seguiram uma trajetória de grande desvalorização ao longo dos últimos meses (excluindo o mês de setembro onde tivemos uma ligeira recuperação), o que acabou puxando para baixo o valor das demais categorias, entre elas a do bezerro.

Os impactos do período de baixa nos preços dos bovinos, determinados pelas fases do ciclo pecuário, seguem forçando negativamente os valores de negociação do bezerro e, claro, deixando a pecuária da cria menos atrativa (ou lucrativa) neste momento; E agora, qual o futuro? Confira!

Vamos, antes de mais nada, entender como andam os preços dos animais pelas principais praças pecuárias e, claro, quais são as oportunidades dentro desse cenário atual e futuro. Dessa forma, tomando como base o estado do Mato Grosso do Sul, reconhecido pela sua grande influência nos preços da categoria mais jovem – os bezerros, observamos uma grande desvalorização, ou correção, nos preços.

Segundo o Indicador do do Bezerro Esalq/Cepea, os animais sul mato grossense estão cotados em R$ 2.001,88/cab (08/nov) o que representa uma desvalorização de quase R$ 100 por animal, considerando o período dos últimos 15 dias de análise do Indicador, R$ 2.098,53/cab (18/out). Outro dado importante a ser levado em consideração é a queda no peso médio dos animais para o mesmo período, atualmente na média abaixo dos 200 kg de peso vivo.

Já na praça paulista, onde os preços do boi gordo tiveram maiores valorizações no último mês e seguem mais estáveis, o valor do bezerro está cotado em R$ 1.925,00/cab. Entretanto, é esperado que o cenário se estabilize nesses atuais patamares.

O que esperar e quais as oportunidades no mercado do bezerro?

Entender o ciclo pecuário é fundamental para tomar decisões mais qualificadas e aprimorar a gestão na comercialização de animais na propriedade rural. Esse ciclo está intimamente relacionado com a produção de bezerros, o abate de fêmeas e os preços correspondentes, ocorrendo aproximadamente a cada 5-6 anos. Lembrando que, alguns analistas, já apontam uma redução no período do ciclo devido a maior intensificação e, consequentemente, redução nas idades de abate.

É até compreensivo ou aceitável (mas não recomendável) que, empresas mais novas, além de produtores e profissionais recentes na atividade, desconheçam total ou parcialmente o mecanismo deste ciclo, pois certamente ainda não o atravessaram por completo. Mas, atenção! Sem a sua compreensão, grandes chances dentro do mercado podem ir por água a baixo, afirmou em uma de suas análises o grande jornalista Ariosto Mesquita, pós-graduado em Administração de Marketing e Comércio Exterior e mestre em Produção e Gestão Agroindustrial.

A evolução cíclica dos preços, com fases de alta (que tendem a estimular a retenção de matrizes e o investimento na pecuária) intercaladas com fases de baixa (caracterizadas por um aumento das taxas de abate de vacas e consequentemente, uma redução do capital investido no setor), pode não ser benéfica nem para os produtores nem para os consumidores. Ela parece favorecer principalmente os setores de comercialização e especulação, que têm um impacto mais significativo sobre os pecuaristas de menor porte.

Atualmente, estamos presenciando taxas de abate de fêmeas atingindo recordes em muitas regiões do país. A análise do ciclo pecuário de preços do boi gordo quando realizada em conjunto com a análise histórica da taxa de abate de fêmeas, nos permite fazer algumas inferências sobre o futuro dos preços.

O período de pico de preços, historicamente, tem ocorrido a cada seis anos e coincide com o período de redução da taxa de abate de fêmeas. Portanto, espera-se que os preços subam a partir de 2024, atingindo seu pico em 2026. Em suma, os novilhos comercializados na próxima alta do preço do boi gordo serão os filhos das matrizes acasaladas em 2023. Isso destaca a importância de planejar estrategicamente a produção de bezerros e a gestão do ciclo pecuário.

Entre muitas lições valiosas que podemos aprender com o ciclo pecuário, destacam-se três principais:

Conhecimento do Ciclo: O produtor que não conhece ou não compreende o ciclo pecuário está
navegando na contramão do mercado. É crucial estar ciente das fases de alta e baixa para tomar
decisões financeiramente sólidas.

Oportunidade de Aprendizado: Estamos passando por uma oportunidade de aperfeiçoamento e
aprendizado na gestão das fazendas. Isso inclui estratégias de manejo, reprodução, venda de animais
e compra de categorias de reposição nos melhores momentos.

Investimento na Cria: Em momentos de preços baixos, como nas categorias de reposição, incluindo
matrizes e touros, é hora de investir na cria. Isso garantirá um suprimento sólido de animais prontos
para o mercado quando os preços estiverem em alta novamente.

As flutuações sazonais e cíclicas dos preços são elementos chave que caracterizam o sistema de comercialização da pecuária de corte no Brasil. Por conseguinte, os produtores que não estão familiarizados com essas variações ou não se prepararam para estes eventos frequentemente enfrentam desafios financeiros mais intensos durante os períodos de queda nos preços.

Prova de reprodutores Hereford e Braford começa no Sul
Foto: Ana Virgínia Guterres

Diante disso, surge uma oportunidade para adquirir conhecimento e aprimorar a gestão das fazendas. Nesse contexto, os produtores frequentemente se questionam: “O que fazer enquanto o ciclo pecuário não sofre alterações?”

A tomada de decisão e as ações devem se concentrar nos aspectos da produção em que intervenções
imediatas são possíveis. Alguns elementos internos do sistema de produção, quando desalinhados, podem expor a atividade a riscos, mas podem ser ajustados com o uso de conhecimentos que não demandam necessariamente investimento financeiro direto.

Excesso de lotação, falta de planejamento forrageiro e sanitário, ausência de coleta e registro de dados e deficiência em planejamento financeiro são exemplos de causas internas que podem gerar problemas significativos nos resultados econômicos durante a fase de cria. Esses problemas podem manifestar-se na forma de baixos índices reprodutivos, desequilíbrio no fluxo de caixa, redução das taxas de desmame e baixo peso dos bezerros no desmame.

Ajustar a taxa de lotação da fazenda de acordo com a capacidade forrageira ao longo do ano, desfazer-se dos animais não produtivos e realizar a venda de animais gordos em momentos estratégicos pode contribuir para equilibrar o fluxo de caixa da fazenda, gerando um impacto positivo no resultado financeiro geral.

Em tempos de mudança e desafios constantes, a pecuária demonstra sua capacidade de adaptação e resiliência, e aqueles que compreendem os ciclos pecuários e aplicam estratégias adequadas estarão posicionados para enfrentar as adversidades e prosperar no setor. Portanto, é hora de investir na pecuária, aproveitando as oportunidades que o ciclo pecuário oferece.

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