
Após um mês marcado por quedas e incertezas, mercado dá sinais de estabilização e analistas projetam reação moderada no mercado do boi gordo para o início de agosto
O mês de julho foi um verdadeiro teste de resistência para o mercado do boi gordo no Brasil. Pressionado por diversos fatores, o setor enfrentou quedas consecutivas nas cotações da arroba, instabilidade nos negócios e incertezas provocadas por tensões externas. A pergunta que fica agora é: o pior já passou?
De acordo com analistas de mercado, os primeiros sinais de agosto indicam uma possível trégua, ainda que modesta, com expectativa de preços mais firmes impulsionados por maior consumo interno e um redesenho das exportações globais de carne bovina.
Julho sob forte pressão: queda nas cotações do boi gordo e confiança abalada
Segundo a consultoria Agrifatto, o mercado físico do boi gordo foi marcado por um “forte clima de incertezas” ao longo de julho, com ritmo de negócios reduzido nas principais praças produtoras. O principal motivo para isso foi a abundância de animais terminados em confinamento, incluindo uma oferta ainda significativa de fêmeas, especialmente na região Norte .
No Estado de São Paulo, a arroba do boi gordo caiu abaixo da marca dos R$ 300 pela primeira vez em 2025, fechando a R$ 295/@ no dia 25/7, segundo a Scot Consultoria. O recuo também foi observado em outros estados, como Mato Grosso e Rondônia, conforme mostram os dados comparativos:
Estado | Cotação (24/7) | Variação Semanal |
São Paulo (Capital) | R$ 290,00 | -1,69% |
Goiás (Goiânia) | R$ 278,00 | -0,81% |
Minas Gerais (Uberaba) | R$ 285,00 | Estável |
Mato Grosso (Cuiabá) | R$ 295,00 | -1,67% |
Rondônia (Vilhena) | R$ 258,00 | -2,64% |
Para o zootecnista Felipe Fabbri, da Scot Consultoria, “o mês foi desastroso” para o mercado do boi gordo, mas ele acredita que ainda há espaço para reação no segundo semestre. “Os preços atuais, apesar das quedas, ainda estão acima dos patamares registrados há um ano”, relembra .
Exportações aquecidas e reposicionamento global favorecem o Brasil
Mesmo diante da ameaça do tarifaço dos Estados Unidos — que prevê um aumento de até 50% nas tarifas sobre a carne brasileira a partir de agosto —, o Brasil segue com desempenho positivo nas exportações. Em julho, o país embarcou 172,7 mil toneladas, faturando US$ 958 milhões, com aumento de 50,5% no valor médio diário exportado em relação ao mesmo mês de 2024 .
Com a entrada de países como Austrália, Uruguai, Argentina e Nova Zelândia no mercado americano, analistas como Fernando Iglesias, da Safras & Mercado, destacam que essas nações precisarão redirecionar parte de sua produção, abrindo espaço para que o Brasil preencha lacunas em regiões como Ásia e Oriente Médio. “Estamos diante de um rearranjo da corrente do mercado global”, afirma .
Agosto começa com mais firmeza e consumo estimulado
A expectativa para agosto é de uma leve recuperação nas cotações, especialmente durante a primeira quinzena. A entrada dos salários e o Dia dos Pais, tradicionalmente uma data de aumento no consumo de carne bovina, são vistos como gatilhos importantes para a retomada da demanda interna .
Fernando Iglesias avalia que o mercado físico do boi já assimilou os efeitos do tarifaço e vem buscando alternativas para os embarques. A resistência dos pecuaristas em vender a preços muito baixos também tem contribuído para a estabilização. “Produtores passaram a negociar volumes menores, com mais seletividade, o que ajudou a equilibrar as negociações”, afirma a Agrifatto .
Varejo e proteínas concorrentes seguem desafiando
Apesar dos indícios de recuperação, o mercado atacadista ainda mostra lentidão, reflexo de uma reposição lenta entre varejo e atacado. Soma-se a isso a forte competitividade da carne de frango e suína, que seguem mais acessíveis ao consumidor brasileiro .
As cotações da carne bovina seguem estáveis, com o quarto traseiro a R$ 21,50 o quilo, o dianteiro a R$ 17,50 e a ponta de agulha a R$ 17,00 .
Cautela no curto prazo, esperança no médio
Embora o setor ainda sinta os reflexos da turbulência de julho, as perspectivas para agosto são mais animadoras, com possibilidade de recuperação moderada nas cotações do boi gordo e novo fôlego às exportações brasileiras. Contudo, os especialistas alertam: ainda é preciso cautela, especialmente diante de fatores externos e da competitividade crescente entre proteínas.
Como bem resume o analista Felipe Fabbri: “Com margem pequena, ninguém quebra, mas, de prejuízo pequeno em prejuízo pequeno, uma hora a conta não fecha. Aproveitar as oportunidades deixadas na mesa hoje é fundamental.”
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