
Com nova tarifa de 50% prestes a entrar em vigor nos EUA, Planalto tenta articulações diplomáticas, acena com reciprocidade e elabora plano de contingência para proteger empresas e empregos diante do tarifaço de Trump
Faltando apenas quatro dias para a entrada em vigor do tarifaço de 50% imposto pelo governo Trump sobre produtos brasileiros, o Brasil se encontra em uma encruzilhada diplomática e econômica. Sem conseguir estabelecer um diálogo direto com o presidente americano, o governo Lula intensifica esforços para negociar, proteger setores estratégicos e minimizar os impactos da medida, que promete afetar mais de 10 mil empresas no país. Em resumo: governo corre contra o tempo para evitar tarifaço de Trump.
Tentativas de negociação esbarram em barreiras políticas
Desde o anúncio feito por Donald Trump em 9 de julho, o Palácio do Planalto, liderado pelo presidente Lula e pelo vice Geraldo Alckmin, tenta uma aproximação com a Casa Branca. No entanto, o cenário é de isolamento diplomático, enquanto países como Japão, União Europeia, China, Indonésia e Vietnã já conseguiram acordos bilaterais com os EUA para amenizar ou modular os efeitos das tarifas.
Alckmin chegou a falar por telefone com o secretário de Comércio americano, Howard Lutnick, e descreveu a conversa como “proveitosa”. Ainda assim, nenhum avanço concreto foi obtido até o momento.
Pressão internacional e estratégia nacional
Na tentativa de reverter o quadro, o governo brasileiro enviou uma carta oficial aos Estados Unidos, ressaltando os impactos negativos da medida e defendendo a manutenção das relações históricas entre os países, que somam mais de 200 anos. Em paralelo, o Itamaraty apresentou uma denúncia na Organização Mundial do Comércio (OMC), alegando que as tarifas representam uma violação da soberania brasileira.
O presidente Lula, embora mantenha o discurso diplomático, deixou claro que a soberania e o estado democrático de direito são inegociáveis. O governo também indica que poderá adotar medidas de reciprocidade após o início da vigência das tarifas, que se dará em 1º de agosto.
Congresso e diplomatas em ação nos EUA
Uma comitiva composta por oito senadores brasileiros desembarcou nesta segunda-feira, 28, nos Estados Unidos para reuniões com empresários e diplomatas. O encontro inicial foi realizado na residência da embaixadora Maria Luiza Viotti, seguido de painéis com lideranças da Câmara Americana de Comércio. Paralelamente, o chanceler Mauro Vieira também se encontra em solo americano, participando de conferências e reforçando a tentativa de diálogo, embora não haja agenda oficial com Trump.
Contingência para mitigar impactos
Enquanto isso, o governo prepara um plano de contingência que deve ser apresentado a Lula até a próxima sexta-feira, prevendo:
- Linhas de crédito com juros subsidiados para empresas afetadas;
- Compras públicas para absorver estoques de produtos que perderem mercado;
- Criação de um fundo privado temporário para apoio emergencial;
- Exigência de contrapartidas sociais, como a preservação de empregos.
De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a medida já passou pela fase técnica e aguarda agora avaliação política. Haddad também acusou aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro de atuarem para dificultar o reestabelecimento do diálogo com os EUA, citando diretamente o deputado Eduardo Bolsonaro e o influencer Paulo Figueiredo.
Um tarifaço de Trump não tem precedentes
A imposição de tarifas de 50% sobre produtos industrializados, agrícolas e minerais brasileiros representa um dos maiores embates comerciais da história recente entre Brasil e Estados Unidos. O impacto deve ser ainda mais severo para pequenos exportadores, que não têm estrutura para redirecionar produtos a outros mercados no curto prazo.
A expectativa no Planalto é de que as pressões internas nos EUA por parte de importadores americanos possam influenciar uma possível revisão da medida. Contudo, analistas avaliam que o tempo é curto e o cenário é desfavorável.
O Brasil vive uma semana decisiva na tentativa de frear uma medida que pode desorganizar cadeias produtivas e exportadoras inteiras. Sem margem para erros, o governo aposta em uma combinação de diplomacia, plano emergencial e resistência política. A depender do desfecho, o tarifaço de Trump poderá marcar um novo capítulo nas relações bilaterais entre os dois países — e redefinir a forma como o Brasil lida com disputas comerciais globais.
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