Cavalo com “cara inchada”, você já viu?

A criação de equinos é uma atividade que cresce a cada ano, movimentando o mercado do Agronegócio constantemente devido aos vários segmentos de lazer e esportes em que a criação destes está envolvida.

Segundo IBGE 2014, o Brasil possui um rebanho de aproximadamente 5.451 milhões de equinos, sendo que 3,9 milhões são animais de lida (trabalho). Estes atuam principalmente na pecuária e na criação de outros animais, segundo a Revisão do Estudo do Complexo do Agronegócio do Cavalo de 2016.

Em razão do baixo investimento na criação de equinos, tradicionalmente a suplementação nutricional dos animais de lida fica em segundo plano, acarretando uma nutrição inadequada dos mesmos. E, dentre os vários distúrbios ocasionados por este fator, a Osteodistrofia Fibrosa, também conhecida como “cara inchada”, é a mais corriqueira.

A predominância das forragens do gênero Brachiaria spp no território brasileiro traz consigo uma concentração alta de ácido oxálico, que, na presença de íons de cálcio, forma o oxalato de cálcio. Nessa forma, o cálcio torna-se indisponível para o animal, diminuindo a sua concentração na corrente sanguínea, desequilibrando a relação cálcio:fósforo.

A relação cálcio:fósforo deve ser próxima de 2:1. Com a redução na absorção de cálcio, eleva-se a concentração de fósforo na corrente sanguínea, causando uma hiperfosfatemia. Para o reequilíbrio da relação cálcio:fósforo, o animal aumenta a liberação de paratormônio (PTH) pelas paratireoides, que atuam na retirada de cálcio dos ossos, liberando-os para a corrente sanguínea. E os primeiros ossos que sofrem essa remoção de cálcio são os da face. O tecido ósseo é removido e substituído por um tecido sem cálcio (aerado), que apresenta um volume maior, ocasionando o aumento dos ossos da face, deixando o animal com o aspecto de “cara inchada”.

Além das forragens com altas concentrações de oxalato, existe outro fator que potencializa esse problema: a suplementação nutricional dos animais. Tradicionalmente e erroneamente, as fazendas com cavalos de lida fornecem o suplemento nutricional de bovinos para os equinos. Essa atitude amplifica o efeito da osteodistrofia fibrosa (“cara inchada”), porque os requerimentos nutricionais são completamente distintos entre as espécies, como podemos observas nas tabelas 1 e 2. Como sabemos, os suplementos nutricionais de bovinos são ricos em fósforo. Devido à baixa disponibilidade nas forragens brasileiras, o consumo desses suplementos aumenta o desequilíbrio da relação cálcio: fósforo.

Fonte: DSM

Mesmo fornecendo uma suplementação adequada, ainda assim os equinos não estão livres do risco da osteodistrofia fibrosa, pois a maioria dos suplementos possui o cálcio na forma inorgânica, e sabemos que nutrientes na forma inorgânica têm menor biodisponibilidade. Uma opção para a prevenção da doença seria a utilização do cálcio na forma orgânica, em razão da sua maior biodisponibilidade para o organismo do animal, tornando sua absorção mais rápida e, consequentemente, reduzindo as ligações do cálcio com os ácidos oxálicos.

Fonte: DSM

Estudo realizado na USP – Pirassununga abordou o uso de minerais orgânicos na alimentação de potros, avaliando a deposição óssea de cálcio e fósforo através de biopsia e densitometria óssea. Os animais, com idade entre 10 e 13 meses e peso aproximado de 221 kg, foram distribuídos aleatoriamente nos tratamentos de minerais, orgânicos e inorgânicos. Como resultado, foi observado um incremento significativo na deposição óssea dos animais tratados com cálcio orgânico após 90 dias de tratamento, quando comparados com o tratamento de cálcio inorgânico (SOARES, 2007).

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Outro trabalho realizado na USP – Pirassununga

Avaliou a prevenção do hiperparatireoidismo nutricional secundário (“cara inchada”), suplementando equinos com minerais orgânicos. Na dieta, foi adicionado ácido oxálico, com o intuito de provocar um desequilíbrio entre cálcio e fósforo. Os tratamentos foram realizados em dois grupos de animais, sendo um grupo com minerais inorgânicos e outro, com minerais na forma orgânica (Kromium® DSM). O resultado do trabalho mostrou que o grupo de animais suplementados com minerais na forma orgânica (Kromium® DSM) apresentou valores médios de paratormônio de 54,32 pg/ml (picograma/mililitro) de sangue, enquanto o grupo suplementado com minerais na forma inorgânica teve 232,43 pg/ml de sangue. Esse resultado demonstra que os minerais na forma orgânica apresentam uma maior disponibilidade para os animais, mesmo em situações críticas de ácido oxálico, prevenindo o desenvolvimento da osteodistrofia fibrosa (“cara inchada”) (WAJNSZTEJN, 2010).

Concluímos que o fornecimento de suplementos nutricionais específicos para equinos é importantíssimo, pois tem efeito positivo na prevenção de algumas doenças. Além da suplementação específica, os minerais na forma orgânica apresentam resposta positiva na prevenção da osteodistrofia fibrosa ou “cara inchada”.

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Referências

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário 2014. Disponível em: <https://seriesestatisticas. ibge.gov.br/series.aspx?vcodigo=PPM01>. Acesso em Julho 2018.

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BR), Secretaria de Mobilidade Social, do Produtor Rural e do Cooperativismo. Revisão do Estudo do Complexo do Agronegócio do Cavalo. Brasília: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2016.

SOARES, A. Minerais orgânicos na alimentação de potros. 2007. 72 f. Dissertação de Mestrado – Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. Departamento de Nutrição Animal, Pirassununga, 2007.

WAJNSZTEJN, H. Minerais orgânicos na prevenção de hiperparatireoidismo nutricional secundário em equino. 2010. 120 f. Dissertação de Mestrado – Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. Departamento de Nutrição Animal, Pirassununga, 2010.

Fonte: DSM

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