Charolês: raça de ‘gigantes’ no tamanho e na qualidade

Com uma presença em mais de 68 países nos cinco continentes, o Charolês transcendeu fronteiras e se estabeleceu como uma das raças bovinas mais valorizadas em diversos mercados; conheça a raça de gigantes no tamanho e na produção de carne

A pecuária desempenha um papel crucial na sustentabilidade alimentar global, fornecendo não apenas fontes essenciais de proteína, mas também contribuindo para a economia e o desenvolvimento rural. No contexto dessa atividade, a produção de carne bovina se destaca como um pilar fundamental, alimentando populações ao redor do mundo e impulsionando setores econômicos. Nesse cenário, o gado da raça Charolês emerge como uma raça bovina de extraordinária importância, reconhecida por seu notável tamanho, qualidade de carne impressionante, características genéticas distintas e contribuições significativas para a pecuária global.

Ao longo deste artigo da Compre Rural, exploramos a origem e expansão global do Charolês, abordamos suas características físicas distintas, discutimos as vantagens e desafios associados à criação dessa raça, desde sua capacidade de rápido crescimento até questões de temperamento e saúde.

Concluímos ressaltando o impacto do Charolês na pecuária global, consolidando-se como um protagonista na busca por práticas agropecuárias eficientes e responsáveis; confira

Origem do gado Charolês

A história do gado Charolês remonta às pitorescas paisagens da França, mais precisamente às regiões de Charolles e Brionnais, localizadas no Departamento de Saône-et-Loire, no Distrito de Charolles. Com uma origem profundamente enraizada na Idade Média, esta raça bovina desempenhou inicialmente um papel essencial nas atividades agrícolas da província francesa de Charolles.

raça bovina gigante
Supreme Champion AJR farms / Foto: British Charolais Cattle Society

Seu desenvolvimento ganhou impulso significativo a partir do século XVIII, quando criadores locais começaram a notar as características únicas dessa espécie. A escolha por esta raça específica para trabalhos agrícolas não foi por acaso. O gado Charolês apresentava uma estrutura robusta, magreza, musculatura notável e um excepcional potencial de crescimento. Sua capacidade de servir tanto como animal de trabalho quanto como fornecedor de carne de qualidade fez com que a raça ganhasse destaque entre os criadores.

Ao longo dos séculos, o gado Charolês passou por melhoramentos genéticos que o transformaram de um animal de trabalho para uma das principais raças produtoras de carne. Esta mudança na orientação de seleção, que começou há cerca de três séculos, definiu o Charolês como um dos protagonistas da produção bovina mundial, rivalizando com raças como o Angus.

Foto: Associação Brasileira de Criadores de Charolês (ABCC)

Características físicas notáveis da raça

O gado Charolês destaca-se por uma série de características físicas distintas que contribuem para sua reputação como uma raça de qualidade superior. Com uma pelagem predominantemente branca ou branco-creme, focinho rosa e cascos claros, os animais dessa raça possuem uma estética única que os diferencia em pastagens ao redor do mundo. A cabeça curta e larga, aliada a um corpo profundamente musculoso e membros posteriores robustos, confere ao Charolês uma presença imponente e uma estrutura física ideal para a produção de carne de alta qualidade.

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Os bovinos são reconhecidos pelo seu notável porte físico. Com pesos médios que variam entre 700 kg e 1,2 mil kg, esses animais podem alcançar recordes acima dos impressionantes 1,5 mil kg. Além do peso robusto, a altura média varia entre 130 cm e 150 cm, proporcionando uma presença imponente nos pastos. Essa combinação de peso e altura contribui para o excelente rendimento de carcaça, característica essencial para a produção de carne de qualidade superior.

O animal destaca-se não apenas pela sua habilidade em produzir carne de alta qualidade, mas também por sua longevidade e eficiência reprodutiva. Com um processo de parto relativamente simples e sem complicações, as novilhas podem começar a parir aos três anos de idade. Além disso, as vacas da raça são produtivas na produção de leite, fornecendo cerca de 3 mil litros por lactação. Essas características não apenas destacam a versatilidade da raça, mas também a tornam uma escolha valiosa para criadores que buscam eficiência em diferentes aspectos da produção pecuária.

Foto: Associação Brasileira de Criadores de Charolês (ABCC)

Expansão global e reconhecimento internacional

Com uma presença em mais de 68 países nos cinco continentes, o Charolês transcendeu fronteiras e se estabeleceu como uma das raças bovinas mais valorizadas em diversos mercados. Seu sucesso em diferentes regiões é testemunho não apenas de sua versatilidade, mas também da qualidade de sua carne e da eficácia em atender às demandas variadas da produção pecuária global.

Na África, por exemplo, o Charolês experimentou uma excelente adaptação e tornou-se uma escolha frequente para cruzamentos industriais, especialmente com o gado Brahman. A versatilidade da raça, combinada com sua musculatura notável e resistência, a tornou uma opção valiosa para satisfazer as necessidades específicas dessas regiões.

Foto: Divulgação

Nas Américas, os Estados Unidos e o Canadá apresentam exemplos de plantéis ricos e selecionados, com posição de destaque em diversas exposições oficiais. A Argentina dedicou atenção especial à raça, estabelecendo até mesmo um padrão racial específico. O Uruguai, por sua vez, desempenha um papel crucial na formação do plantel brasileiro, contribuindo para o desenvolvimento do gado no país.

A chegada do Charolês ao Brasil, por meio do Rio Grande do Sul, foi marcada por uma trajetória impressionante. Desde os primeiros reprodutores importados em 1885, a raça se adaptou de maneira excepcional, encontrando espaço em todos os estados brasileiros. Atualmente, o país conta com um rebanho estimado em 100 mil animais PC e 50 mil animais PO, evidenciando a aceitação e expansão da raça.

O reconhecimento internacional do Charolês não se limita apenas à quantidade de cabeças, mas também à qualidade da carne produzida. Em diferentes partes do mundo, os cortes da raça são valorizados pela maciez, marmoreio e sabor, alcançando uma média de preço de R$ 90 por quilo no Brasil. Esse reconhecimento não apenas fortalece a posição da raça nos mercados globais, mas também destaca sua contribuição significativa para a produção de carne de alta qualidade.

Matrizes Charolês da Cabanha Cezar
Matrizes Charolês da Cabanha Cezar / Foto: Gustavo Rafael

Charolês brasileiro

Consultada, a Associação Brasileira de Criadores de Charolês (ABCC) disse que o Charolês brasileiro vem passando por um rigoroso processo de seleção e de melhoramento genético no Brasil, que buscou ao longo dos anos, qualificar a raça para que a mesma pudesse atender as demandas e os padrões da pecuária de corte moderna.

Tal processo, culminou em uma legítima “transformação zootécnica” da raça em nosso país. Esse trabalho, foi realizado com base no direcionamento dos acasalamentos (a partir das distintas linhagens da raça) para multiplicação de animais que atendam os critérios de seleção de interesse para a realidade atual.

Outro fator importante, é a participação do Charolês desde o início da implantação do Promebo – Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne, que neste ano completa 50 anos de atuação, sendo conduzido pela Associação Nacional de Criadores Herd Book Collares e pela Embrapa, e que realiza a avaliação de 14 características.

Importante destacarmos também, as provas de avaliação a campo (PAC) e de eficiência alimentar (PEA), que ocorrem nas dependências da Embrapa Pecuária Sul em Bagé/RS e que estão na 7ª edição, com a participação e avaliação de animais do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Os resultados demonstram ano a ano o grande potencial do Charolês em produzir carne em sistemas totalmente a pasto ou em confinamento, com médias expressivas de ganho médio de peso diário (GMD).

No Brasil, o rebanho Charolês é formado por várias linhagens, sendo que nestas últimas décadas, houve forte incorporação de genética norte-americana, através do uso de touros desta origem nos rebanhos com base francesa e inglesa, por exemplo. Isto faz com que hoje, os animais da raça apresentem porte, conformação e desempenho diferentes quando comparados aos exemplares de linhagens específicas e que foram amplamente difundidas em boa parte do tempo, como o caso da francesa e/ou da inglesa (entre outras).” – ressaltou Nathã Carvalho, zootecnista e gerente de fomento da raça no Brasil.

“Desta forma, podemos afirmar, que no Brasil atualmente, a grande maioria dos animais Charolês possuem porte médio e são o resultado de um melhoramento genético direcionado para maior precocidade (sexual e de acabamento), maior funcionalidade a campo e inclusive, qualidade de carne. Também é importante reforçar, que hoje a grande maioria dos animais criados no Brasil são naturalmente mochos. Esse trabalho vem sendo conduzido com o cuidado de manter também, a grande vocação do Charolês, que é apresentar rápido crescimento, possuir considerável ganho de peso e produzir carcaças de alto rendimento ao abate.” – afirmou Nathã.

Nathã também confessa que ainda existe a socialização de muitos conceitos errôneos e antigos sobre a raça, sendo estes já superados pelo trabalho realizado citado acima. Um deles, refere-se ao peso ao nascer. O gráfico abaixo, disponibilizado pela associação mostra, através de dados do PROMEBO, o quanto o Charolês brasileiro evoluiu na redução do peso ao nascer, reduzindo-se significativamente os problemas de parto que outrora faziam parte da rotina das propriedades.

Associação Brasileira de Criadores de Charolês (ABCC).
Fonte: Associação Brasileira de Criadores de Charolês (ABCC).

Vantagens genéticas e contribuições para a pecuária

A contribuição do gado Charolês para a pecuária é notável em vários aspectos, destacando-se pela qualidade excepcional da carne que produz. A reputação do Charolês é respaldada por cortes macios, marmorizados e saborosos, resultando em um reconhecimento mundial e valorização no mercado, onde seus cortes são comercializados a uma média de R$ 90 por quilo no Brasil. Além disso, sua versatilidade genética é crucial para a melhoria de rebanhos, pois o Charolês é frequentemente utilizado em cruzamentos, gerando bezerros mestiços de alto desempenho, notadamente quando cruzado com raças como Angus, Hereford e Brahma, contribuindo assim para a eficiência e sustentabilidade na pecuária global.

Foto: Associação Brasileira de Criadores de Charolês (ABCC)

A contribuição do Charolês transcende o âmbito da produção de carne de qualidade. Sua adaptabilidade a diferentes climas, resistência a condições adversas, eficiência reprodutiva e longevidade oferecem benefícios adicionais para a pecuária, promovendo práticas mais sustentáveis. A capacidade do gado de prosperar em diversas condições ambientais não apenas facilita sua criação e manejo, mas também contribui para o desenvolvimento de sistemas pecuários mais resilientes e eficazes, alinhados com as demandas contemporâneas por uma produção animal responsável e eficiente.

Desafios na integração do Charolês nos rebanhos

No entanto, ao considerar a incorporação do gado em rebanhos, é crucial abordar os desafios que os criadores podem enfrentar. Problemas de saúde, como dificuldades reprodutivas e vulnerabilidades à exposição solar, conjuntivite e câncer nos olhos devido à sua cor clara, são fatores a serem considerados no clima tropical brasileiro.

O Charolês também tende a exigir suplementação alimentar e atinge a maturidade tardiamente, tornando a gestão do rebanho mais desafiadora. Portanto, embora as vantagens genéticas sejam notáveis, é fundamental que os criadores estejam cientes e preparados para lidar com os desafios específicos associados à criação de Charolês.

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Foto: Associação Brasileira de Criadores de Charolês

Escrito por Compre Rural.

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Juliana Freire sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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