Colostro bovino é o novo ouro das fazendas?

Será possível consumir colostro produzido por vacas? Será que conseguimos desfrutar de seus benefícios depois de adultos?

Colostro, até então tratado como leite sujo, pode ser o novo ouro das fazendas leiteiras. Rico em anticorpos, decisivo para a sobrevivência de bezerras, vem ganhando espaço no cenário internacional como uma aposta de novo produto lácteo de alto valor.

O colostro é o primeiro alimento produzido pelas mães de mamíferos. Não é leite, porém trata-se de  uma substância riquíssima que garante aos recém-nascidos vitalidade e crescimento saudável. Foi utilizado também na fabricação da primeira vacina oral contra poliomielite em 1950 pelo pesquisador Albert Sabin. Mas, será possível consumir colostro produzido por vacas? Será que conseguimos desfrutar de seus benefícios depois de adultos? E mais, conseguimos gerar valor na prateleira ao consumidor?

Colostro ao redor do mundo

Muito tem se falado e pesquisado sobre a utilização de colostro bovino na suplementação de atletas, medicamentos e produtos anti-idade. Um exemplo é a empresa alemã Colostrum BioTec ao relatar que estudos recentes mostraram que não apenas diferentes influências ambientais e estresse causaram um aumento nas chamadas doenças da civilização moderna, mas que a nutrição insuficiente a longo prazo também tem esse efeito.

“O colostro é um suplemento dietético único, contendo nutrientes que não estão mais presentes ou estão presentes apenas em pequenas quantidades na alimentação adulta. O colostro é o suplemento dietético para pessoas de qualquer idade, oferecendo ingredientes adequados para todos, desde jovens a idosos. Ele resolve déficits existentes, aumenta a força e estimula os processos de cura”, declara a empresa.

O colostro é rico em imunoglobulinas, citocinas, lactoferrinas, lisozimas, lactoperoxidases, fatores de crescimento, oligossacarídeos e glicoconjugados além de vitaminas e minerais em concentrações bem diferentes do leite tradicional. Traduzindo: É um caldo de moléculas importantíssimas para o funcionamento de organismos com baixo repertório ou capacidade imune ou mesmo para quem quer reforçar a imunidade. Utilizando este argumento, milhares de produtos estão à venda em diversos países.

No Brasil, acaba de ser lançado um whey com 15g de proteína e que utiliza colostro em sua formulação, além de outras iniciativas mais tímidas ainda nesse mercado. Produtos estes direcionados a atletas.

Pesquisas comprovam a utilização de colostro 

Não basta haver uma percepção de que determinado produto pode ser um grande boom no mercado, é preciso validar os benefícios com pesquisas que vão garantir sua longevidade. Especialmente quando voltado a um público tão crítico, com acesso à informação e suporte técnico de nutricionistas, médicos, etc., como é o caso de atletas ou pessoas comuns mas de alta renda preocupadas com o bem estar. Eis algumas pesquisas realizadas demonstrando o uso de colostro na alimentação humana:

  • Melhora do desempenho em atletas com imunidade aprimorada contra o estresse de treinamento e competição intensa. Buckley e Scammell (2000)
  • Melhora do desempenho atlético e  recuperação; e melhora da massa corporal magra. Antonio et al. (2001); Kerksick et al. (2007)
  • Eficaz contra mucosite induzida por quimioterapia; gastroenterite viral; lesões intestinais induzidas por drogas antiinflamatórias não esteróides; grande variedade de distúrbios intestinais, incluindo doença inflamatória intestinal e danos nos tecidos intestinais. Howarth et al. (1996); Sarker et al. (1998); Playford et al. (1999); Khan et al. (2002)
  • Eficácia do colostro na profilaxia da gripe. Cesarone et al. (2007)
  • Capacidade de recuperação e auxílio no desenvolvimento do tecido ósseo. Borad; Singh (2018)
  • Pode contribuir para ganho de força na parte inferior do corpo, além de diminuir a reabsorção óssea em idosos. Du Ming et al; Duff et al. (2014)

Colostro nas fazendas brasileiras

O Brasil produz em torno de 2 bilhões de litros de colostro ao ano, sendo que 20% disso é destinado à alimentação das crias. O excedente infelizmente é desprezado, considerando que vacas podem chegar a 40 ou 50 kg de colostro produzido e o bezerro não tem tal capacidade de ingestão.

Primeiramente é preciso notar que o colostro ainda é pouco compreendido no campo. Na maioria das fazendas não se entende o valor da colostragem e por isso o processo não é feito com maior cuidado, já que a maior parte dos produtores não tem informação de que pode assegurar maior sobrevivência e resposta aos desafios que os bezerros vão enfrentar logo no começo da vida até adquirirem imunidade própria. Em grande parte das vezes os funcionários ou produtores se referem ao colostro como “leite sujo” e o veem até com um certo nojo, por se tratar de um líquido mais amarelado que o leite e sem valor comercial.

Prova de que o colostro ainda é algo muito pouco valorizado é que poucas fazendas tem um banco de colostro e menos ainda avaliam o colostro para fornecimento aos filhotes. Técnica relativamente simples e que implica em menos manejo em relação ao tratamento de bezerros doentes. Ou seja, prevenir é mais barato e fácil do que remediar.

Colostro pode ser um produto comprado por laticínios?

Sim! Obviamente é um material que exige mais cuidados técnicos na coleta e avaliação de qualquer tipo de adulteração e qualidade, mas já tem movimentado um mercado de muito valor em vários países. Nos EUA em 2001 (20 anos atrás) já movimentou U$101 milhões de dólares, sendo uma boa oportunidade de negócios com boa margem para laticínios e produtores. Suplementos com pouco ou nenhum respaldo técnico tem sido vendido às toneladas à frequentadores de academias, porque o colostro com tantas propriedades altamente valiosas para mercados de alto nível não seria?

A legislação brasileira de acordo com o artigo 501 do Riispoa prevê que o leite não pode ser misturado a colostro, porém não delimita o uso de colostro coletado de forma separada e ademais se as legislações de outros países permitem, por ora é possível comprar a matéria prima importada e fazer a comercialização localmente. Não delimita também a coleta de colostro como produto a parte do leite, já que são realmente muito diferentes em sua composição. Há tentativas várias de mudar a legislação nesse sentido e é importante que essas possibilidades sejam consideradas, já que é oportunidade de negócio para tantos laticínios que estão em busca de inovação e atingimento de maior penetração no mercado. Há um relatório fazendo o pedido de mudança na legislação, no que concerne a este tema, clique aqui para visualizá-lo.

Propriedades do colostro:

Além das propriedades físico-químicas descritas acima, o colostro como citado anteriormente dispõe de várias moléculas de alto valor e que podem ser utilizadas como argumento de venda. Como se pode notar ao longo das horas de pós-parto o colostro vai transitando para a composição de leite, aumentando o teor de lactose e diminuindo consideravelmente o teor de proteína e gordura. Interessante notar que o teor de Matéria Seca total sai de 26% e cai para 12%. Há produtos como queijo em outros países que utilizam o colostro para aumento de sólidos. Segue abaixo uma lista de nutrientes potentes presentes no colostro:

  • 50g por litro de IGg (80% da proteína total)
  • Fator de crescimento 1
  • Lactoferrina
  • Lactoperoxidase
  • Albumina
  • Alfa-lactoalbumina / Beta-Lactoglobulina
  • Citocinas
  • Peptídeos
  • Fatores imunes

Em conclusão, podemos dizer que o colostro é uma oportunidade de negócio com robusta base científica para apoiá-lo e pode ser a bola da vez para nutricionistas e médicos fazerem as pazes de vez com o leite e seus derivados. Além de produto inovador, ele pode ser um abre-alas para um marketing positivo e muito bem fundamentado sobre quão saudável moléculas de origem animal podem ser. Enquanto uns consideram a linhaça, nós temos colostro.

Fonte: MilkPoint

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