O índice que mede a confiança dos produtores agropecuários voltou a cair, mas com mais força do que no terceiro trimestre.
A forte alta dos insumos e a piora das perspectivas para a economia brasileira determinaram a queda no quarto trimestre do ano passado do Índice de Confiança do Agronegócio (ICAgro), calculado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e pela CropLife Brasil. A escalada das tensões entre Rússia e Ucrânia tornou o cenário mais nebuloso neste primeiro trimestre.
O indicador fechou o período de outubro a dezembro em 109,6 pontos, 11,5 pontos abaixo do resultado do terceiro trimestre. A escala do IC Agro vai de zero a 200, e 100 é o ponto neutro. O resultado é dimensionado a partir de 1,5 mil entrevistas (645 válidas) com agricultores e pecuaristas de todo o país. Cerca de 50 indústrias também são ouvidas.
O braço do indicador que mede especificamente a confiança das indústrias que atuam antes e depois da porteira atingiu 109,3 pontos no quarto trimestre, com baixa de 12,7 pontos em comparação com o período anterior. Gargalos logísticos e alta de preços de matérias-primas como petróleo e gás natural já eram tidos como pontos de preocupação, e a guerra na Ucrânia piorou o cenário de maneira flagrante.
Já o índice que mede a confiança dos produtores agropecuários voltou a cair, mas com mais força do que no terceiro trimestre. A retração entre outubro e dezembro foi de 9,8 pontos, para 110 pontos, pressionada pela piora do humor de agricultores e pecuaristas. Com os riscos de escassez de fertilizantes e a disparada de preços desses insumos, é de se esperar que novas quedas ocorram.
“Estamos diante de um quadro de grandes incertezas para os próximos meses, potencializado pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia”, diz, em nota enviada ao Valor, Antonio Carlos Costa, superintendente de departamentos da Fiesp. “Nesse cenário, é esperado que a confiança do setor passe por muitas oscilações, sendo que, neste momento, a tendência é claramente de queda”.
- Nelore Vera Cruz adere ao PMGZ Carne e prova rentabilidade do touro PO
- Transações via Pix caem em relação a dezembro, mas crescem em 12 meses
- Governo prevê o crescimento da piscicultura e quer mudança na lei
- Exportação de café em dezembro recua 8,1% ante dezembro de 2023, diz Cecafé
- Cultivo de centeio no Brasil ganha zoneamento agrícola de risco climático
Ipsis Litteris
Gilbert Houngbo, presidente do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), da Organização das Nações Unidas (ONU), alertou nesta quinta-feira que, caso a guerra na Ucrânia se prolongue, a oferta de alimentos básicos pode diminuir, o que elevaria os preços desses produtos e acentuaria a insegurança alimentar global. Em comunicado, Houngbo lembrou que a região do Mar Negro é central na oferta de alimentos, já que exporta 12% de todas as calorias alimentares comercializadas no planeta.
Ele também ressaltou que 40% das exportações ucranianas de trigo e milho são para o Oriente Médio e a África, regiões “que já estão lutando com questões da fome” e nas quais, segundo ele, pode haver “levantes sociais” caso haja mais restrição de oferta. O líder do braço da ONU para a promoção de segurança alimentar defendeu que o fundo vai “continuar seu trabalho para aumentar a autossuficiência e resiliência dos países mais pobres, mas que no curto prazo será difícil mitigar os impactos globais dessa crise”. Para ele, “interromper o conflito é agora a única solução”
Fonte: Valor Econômico