Conheça a história do Rei do Gado contada na música de Tião Carreiro

Muito além da pecuária, empresário bem sucedido, Antônio Joaquim de Moura Andrade, fundou cidades e ajudou a trazer a aviação civil para o Brasil

“Quem quiser meu endereço, que não se faça de arrogado, é só chegar lá em Andradina e perguntar pelo rei do gado”, não tem quem não conheça ou nunca tenha ouvido esse trecho final da música da dupla Tião Carreiro & Pardinho do álbum Rei do Gado lançado no ano de 1961 que fez sucesso nacional?

O Rei do Gado citado na canção é um dos mais famosos da pecuária nacional do século passado. Antônio Joaquim de Moura Andrade, além de grande pecuarista e renomado empresário realizou outros importantes feitos como a fundação de cidades e auxiliou na concretização da aviação no país.

tiao Carreiro - Cantor sertanejo
Tião Carreiro

O empresário, além de ter fundado as cidades de Andradina em São Paulo e Nova Andradina no Mato Grosso do Sul, participou da fundação de Águas de São Pedro junto com o irmão Octávio, localizada no interior paulista.

Antônio Joaquim de Moura Andrade - Rei do Gado
Antônio Joaquim de Moura Andrade – Rei do Gado

No setor da aviação, junto com o amigo e magnata das comunicações Assis Chateaubriand, iniciou e concretizou a aviação civil no país.

Segundo a neta do Rei do Gado, Stela de Andrade Haik, o empresário tinha uma memória incrível.

“O vovô tinha uma memória incrível e eu me lembro de que chegávamos à Fazenda Guanabara e ele perguntava dos peões pelo nome. Ele tinha 14 fazendas e guardava o nome dos peões. Se ele fosse à casa de um dos peões e conhecesse a mulher do peão, ele guardava o nome, era impressionante!”, lembrou a neta.

Stela de Andrade Haik
Stela de Andrade Haik

Stela contou que seu avô era piloto e juntamente com o Assis Chateaubriand trouxeram os primeiros “aviões”, fundando a Aviação Civil no Brasil.

“Eles se admiravam mutuamente. O vovô também falava que ele era uma pessoa muitíssimo inteligente. E gostavam da companhia um do outro. Além dessa questão de terem feito algumas viagens juntos, também pelo próprio interesse jornalístico do Assis Chateaubriand no fato do vovô na época estar em evidência e ascendência, tendo fundado uma cidade que estava progredindo muito, numa época que era do “pós-guerra”. Era inegável que meu avô era uma pessoa muito influente. O Chateaubriand era um jornalista muitíssimo inteligente e por ser isso, sempre procurava se  cercar de pessoas influentes. O pessoal fala que ele sempre fazia amizade com esse pessoal que tinha muito dinheiro. E, como gostava muito de obras de arte, então sempre tendo oportunidade e sendo amigo dessas pessoas influentes, sempre estava dando uma “facadinha” (vamos dizer assim né) “oh, eu gostei de um quadro assim, muito bonito, você não quer fazer uma doação, pro nosso museu?”, contou Stela.

Reviravolta com o café

Inteligentíssimo, Antônio Joaquim de Moura Andrade via oportunidades e sabia aproveitá-las. Em um determinado período se mudou para a cidade de Santos, pois alugou um armazém para estocar café, porque ele acreditava que estava em vias de estourar a guerra e por isso teve uma crise do café no Brasil e começaram a vender muito barato. Ele falou para o sócio que ia começar a comprar café e o sócio na época Seraphim Collettes disse: “Antônio você pirou de vez, se você quer comprar café eu estou fora da sociedade, comprem por conta de vocês”. Daí permaneceu ele e o Guilherme Moura.

Então eles estocaram cada vez mais café e quando a guerra estourou ele tinha estocado e vendeu em dólar, que foi onde ele ganhou muito dinheiro e começou a comprar terra. Isso fez com que o outro sócio desistisse do negócio. O Guilherme Moura disse que não ia acompanhar mais, pois não queria ir para o interior já que sua esposa era poetisa e queria publicar livros.

“Quando os vovôs eram vivos, as férias eram sempre na fazenda perto de Mogi Guaçu, chama Fazenda Cataguá e era a fazenda preferida da minha avó. Quando morávamos em São Paulo, passava minhas férias com a vovó e iam todos os netos. Na adolescência, com 13 anos, vinham para minha casa, onde hoje é a Friboi. Às vezes, meus tios queriam ir para a Europa, mas meus primos vinham para Andradina.Tem uma história engraçada: minha irmã foi estudar secretariado no Mackenzie e tinham as menininhas tudo “grã-fininhas”. No final do período, perguntavam: “pra onde vocês vão nas férias?”. Umas para os Estados Unidos, outra para a França, a minha irmã e minha prima estudavam na mesma classe, e elas diziam: “vamos pra Andradina City”, e era aqui!”, contou.

fundacao da cidade de andradina - sao paulo - Andradina, a Terra do Rei do Gado
Foto: Reprodução

Vilas nas fazendas

Segundo Stela todas as fazendas dele eram aparelhadas de forma que tinha uma preocupação social, as fazendas tinham escola de boa qualidade, pronto socorro, dentista para os funcionários. Ela mesma fez o primário no colégio que tinha no frigorífico.

“Nas Fazendas Guanabara (Andradina), Cataguá (Mogi-Guaçu) e Primavera (Nova Andradina) tinha uma parte social (estrutura), onde os funcionários podiam fazer festas. Tinham Capela para casamento e batizado, elas eram aparelhadas como uma micro vila onde os funcionários tinham esses serviços. E, a maioria das fazendas tinha uma horta comunitária que os empregados tomavam conta e usufruíam e também mandavam verduras para a sede”, disse.

Sobre a política, Stela contou que seu avô era um pouco avesso à política. E, apesar de ele ser uma pessoa que articulava muito bem e transitava em todas as áreas, ele não gostava da política partidária.

“Tanto que, quando meu tio Auro falou que queria ser político e ia se lançar, ele falou assim: ‘Meu filho, eu acho que você vai fazer uma besteira, mas você tá dizendo que é isso que você quer, primeiro me diz, por que você quer?’ Então meu tio Auro falou que ele tinha vontade de fazer alguma coisa pelo país. ‘Então se é uma ideologia sua, é uma coisa que você acha que vai ajudar outras pessoas, nós podemos até pensar nisso, mas eu já vou te avisando que não vou gastar um ‘tostão’’. Mas, depois que ele entrou, meu avô apoiava, mas não o mantinha com dinheiro. Já o meu pai (Antônio Soares de Andrade) foi prefeito em Andradina duas vezes, mas ele não tinha a mesma veia política que meu tio Auro. O tio Auro, era um advogado e tinha o dom da palavra. Os discursos dele sempre mexiam com o civismo, ele falava muito bem, tinha um português bem articulado”, contou e emendou “Meu pai foi prefeito porque ele era filho do fundador. Mais por um apelo popular. Como a gente morava em Andradina, ele gostava muito da cidade, então as pessoas começaram a dizer: ‘Você é filho do fundador, precisa fazer alguma coisa’. Mas só foi prefeito de Andradina e nunca pensou em ser senador ou deputado, nunca quis fazer carreira política”, disse.

Para finalizar, Stela afirma que nos 68 anos de vida, sempre pode notar nesses anos é o respeito com que todos têm com a sua família. “Eu sempre viajei muito especialmente dentro do Brasil. São incríveis as inúmeras pessoas que escutam o nome de Moura Andrade e falam bem. Nunca escutei uma coisa pejorativa, sempre falam que Moura Andrade era uma pessoa admirável”.

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