Conheça a lenda da mula Besta Ruana, de Tonico e Tinoco

Relembre um dos hinos caipiras que resistiram ao tempo e preservam a cultura do campo brasileiro; Besta Ruana foi gravada em 1956 e conta a história de uma mula de nome Princesa

A música caipira brasileira, com suas raízes fincadas no sertão e nos interiores do país, sempre foi um espelho da vida simples do homem do campo. No século passado, violas e cantos retratavam o cotidiano da roça — as colheitas, as saudades da família, os amores não correspondidos e, claro, a relação íntima com os animais de trabalho. Era uma arte que nascia da terra e para a terra, feita por vozes que carregavam o sotaque do interior e histórias reais de suor e superação.

Entre as duplas que eternizaram esse gênero, Tonico e Tinoco se destacam como verdadeiros ícones. Nascidos em São Manuel (SP), os irmãos José Perez (Tonico) e João Perez (Tinoco) levaram a música caipira para todo o Brasil, gravando mais de 100 discos e compondo clássicos que até hoje ecoam nas rodas de viola.

Suas letras simples, porém profundas, falavam do caboclo, do boiadeiro e das paisagens rurais que iam se transformando com o tempo. Com harmonias vocais marcantes e um repertório que mesclava toadas, cururus e modas de viola, eles se tornaram símbolos de uma cultura que resistia à modernização acelerada do país.

Dentre suas muitas canções, “Besta Ruana” se tornou um marco. A música, gravada em 1956 e composta por Ado Benatti e Tonico, é uma narrativa que expressa a relação profunda entre um peão e sua montaria, a besta ruana chamada Princesa.

Através de uma melodia que evoca a tradição sertaneja raiz, a letra descreve as qualidades excepcionais da besta e as aventuras vividas juntos, ressaltando a habilidade e a beleza do animal. A ruana é apresentada como uma companheira insubstituível, cuja presença é essencial para o sucesso do peão em suas tarefas rurais.

O segundo momento da canção traz um tom de tragédia, quando a ruana sofre um acidente e fica gravemente ferida. A narrativa se aprofunda na dor e no dilema do peão, que se vê obrigado a tomar uma decisão angustiante para aliviar o sofrimento do animal.

A escolha de sacrificar a besta é retratada como um ato de misericórdia, mas também de imenso pesar para o peão, que perde mais do que um simples animal de carga; ele perde um ser querido, uma parte de sua própria identidade.

Por fim, a música fecha com uma cena tocante de luto e homenagem. O peão presta suas últimas homenagens à Princesa, enterrando-a com respeito e marcando seu túmulo com uma cruz. A canção se torna um tributo à lealdade e ao amor entre o homem e o animal, e reflete sobre a dura realidade da vida rural, onde a perda é uma constante e as escolhas podem ser dolorosas, mas necessárias.

‘Besta Ruana’ é uma expressão da cultura sertaneja que valoriza a conexão com a terra e com os animais, e a aceitação da morte como parte do ciclo da vida.

Encontro Nacional de Muladeiros
Mula Monique

A cultura da Mula no Brasil

As mulas, resultantes do cruzamento entre jumento e égua, sempre foram fundamentais no transporte e no trabalho com o gado no Brasil. Conhecidas por sua força, resistência e, muitas vezes, por seu temperamento difícil, elas se tornaram companheiras indispensáveis de tropeiros e peões. A expressão “mula de patrão” refere-se justamente a animais de elite, bem treinados e valiosos, usados por fazendeiros e capatazes.

Hoje, mesmo com a mecanização da agricultura, as mulas ainda são cobiçadas em leilões especializados, onde exemplares de linhagem podem alcançar valores exorbitantes — alguns ultrapassam R$ 100 mil. Essa valorização reflete não apenas sua utilidade, mas também o status que carregam como símbolos de tradição e resistência rural.

Infelizmente, não se fazem mais músicas como “Besta Ruana”. O sertanejo de hoje, embora ainda popular, trocou as narrativas do campo pelo universo urbano — festas, baladas e dramas amorosos longe dos currais e das plantações.

Tonico e Tinoco, assim como outras duplas clássicas, deixaram um legado que hoje soa como registro de um Brasil que se transformou. Mas, enquanto houver viola, moda de rodeio e memória afetiva, a música caipira seguirá viva, mesmo que apenas nas vozes daqueles que ainda sabem o que é “besta marchadeira”.

Com informações do site Letras

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