
Resultado de 13 anos de pesquisa, o “super gado” desenvolvido na Indonésia, o gado Gama combina genética europeia e tropical, prometendo revolucionar a pecuária de corte asiática — e com potencial para transformar também o mercado brasileiro.
A Indonésia acaba de apresentar ao mundo uma inovação genética que promete transformar a pecuária global: o gado Gama, também chamado de Gagah ou Macho, nome que remete à força e imponência do animal. Desenvolvido pela Universidade Gadjah Mada (UGM), em parceria com a empresa Widodo Makmur Perkasa (WMPP), o Gama acaba de ser reconhecido oficialmente como uma nova raça bovina pelo Ministério da Agricultura da Indonésia, por meio do Decreto nº 840/Kpts/HK.150/M/09/2025.
Foram 13 anos de cruzamentos, estudos e testes genéticos até chegar ao equilíbrio ideal entre produtividade, adaptabilidade e bem-estar animal. A cerimônia de reconhecimento da raça contou com a presença do vice-ministro da Agricultura da Indonésia, Sudaryono, e autoridades locais — um marco histórico para a pecuária do país.
O nascimento do “gado de músculos duplos”, o gado Gama
Batizado de Gama, uma abreviação de “Gagah e Macho” (em tradução livre, “forte e másculo”), o bovino é fruto do cruzamento entre touros da raça Belgian Blue — conhecidos por sua hipertrofia muscular natural — e vacas Brahman Cross selecionadas na Indonésia. Essa combinação resultou em um animal robusto, de carne macia e com alta eficiência produtiva, adaptado ao clima tropical quente e úmido do país.
Segundo o pesquisador Professor Ali Agus, líder do projeto, a principal dificuldade foi adaptar a genética europeia — mais produtiva, porém sensível ao calor — para as condições tropicais, sem comprometer a reprodução. O desafio foi superado com o uso de matrizes Brahman, que têm quadris largos e partos mais fáceis, reduzindo drasticamente os casos de cesariana comuns na Belgian Blue.
Essa combinação buscou resolver um dos maiores desafios da pecuária tropical: obter animais altamente produtivos sem comprometer a capacidade reprodutiva.

Resultados impressionantes: peso, rendimento e precocidade
Os números do gado Gama impressionam. Os bezerros nascem com cerca de 36 kg, peso menor que o Belgian Blue (que pode chegar a 60 kg), o que facilita o parto. Mesmo assim, atingem de 700 a 800 kg em apenas 2,5 anos, com rendimento de carcaça superior a 65%, chegando em alguns casos a 68%, segundo os dados oficiais da UGM.
Os números falam por si. O gado Gama nasce com cerca de 36 quilos, mas chega aos 700 a 800 quilos em apenas 30 meses (2,5 anos), quando atinge o ponto ideal de abate.
Além disso, apresenta rendimento de carcaça médio de 65%, chegando em alguns casos a 68%, um índice considerado excepcional até mesmo para padrões internacionais. Outro diferencial está na estrutura corporal: o Gama tem ossos menores e músculos densos, o que aumenta o volume de carne aproveitável sem elevar o peso estrutural do animal.

Essas características colocam o Gama em uma posição privilegiada no cenário global da pecuária. Ele reúne duas vantagens raramente vistas juntas: alto rendimento de carne e eficiência reprodutiva, tornando-se um modelo de produtividade sustentável para países tropicais.
Adaptação e comportamento em clima tropical
Outro ponto estudado pela equipe da UGM foi o comportamento dos animais em ambientes de temperaturas elevadas. Observou-se que os bovinos Gama mantêm equilíbrio térmico natural, alternando períodos de descanso e alimentação, buscando sombra para ruminar e suportando bem o calor extremo.
Essa resistência demonstra que, além da genética de alto desempenho, a raça possui excelente adaptabilidade climática, uma das maiores barreiras enfrentadas por raças europeias em países tropicais. Com isso, o Gama se mostra mais estável e sustentável, reduzindo custos de manejo e risco de mortalidade por estresse térmico.
Impacto para a pecuária asiática — e potencial no Brasil
Com a oficialização da raça, a Indonésia dá um passo estratégico para reduzir sua dependência de importações de carne bovina, além de fortalecer a economia rural e posicionar o país como exportador de genética de corte premium.
O projeto também reforça o avanço da biotecnologia aplicada ao agro no continente asiático, que busca autossuficiência alimentar e sustentabilidade produtiva. O sucesso do Gama é comparável, em escala regional, ao impacto que raças como Nelore, Guzerá e Senepol tiveram na América do Sul.
No contexto brasileiro, especialistas acreditam que a introdução do Gama poderia incrementar cruzamentos industriais com raças zebuínas, unindo rusticidade e ganho de carcaça — características altamente valorizadas pela pecuária nacional. Em rebanhos comerciais, essa genética poderia aumentar o rendimento frigorífico e reduzir o tempo de confinamento, tornando-se uma ferramenta de competitividade no setor exportador.

Uma nova era para a genética de corte
Para o professor Budi Guntoro, decano da Faculdade de Zootecnia da UGM, o reconhecimento oficial da raça marca o início de uma nova fase na produção de carne premium na Indonésia.
“Nosso objetivo é continuar expandindo a população do Gama de forma sustentável, contribuindo para a soberania alimentar nacional e servindo de modelo para outros países tropicais”, afirmou o pesquisador.
A criação do Gama demonstra o poder da integração entre ciência, inovação e necessidade produtiva. Em um mundo onde o consumo de proteína animal cresce e os desafios climáticos se intensificam, raças como essa apontam para o futuro da pecuária: mais carne, menos tempo e maior eficiência ambiental.
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