Tradição rural centenária transforma a aparência das ovelhas e confunde quem visita a Irlanda, Escócia e Inglaterra.
A cena tem se tornado cada vez mais comum nos feeds de viajantes: ovelhas completamente amarelas espalhadas por colinas verdes na Irlanda, Escócia e Inglaterra. As imagens viralizaram ao redor do mundo, levantando teorias sobre novas raças, mutações genéticas e até mudanças ambientais. Mas a explicação, ao contrário do que muitos imaginam, é simples, prática e parte do cotidiano de quem trabalha com ovinos há séculos no Reino Unido.
O amarelo intenso que muitos turistas enxergam na lã dos animais é, na verdade, uma tinta especial. Chamada de sheep marking paint, ela é usada para identificação rápida, organização de lotes, controle reprodutivo e até gestão sanitária. O método é um dos mais eficientes para regiões onde os rebanhos caminham por longas áreas e se misturam facilmente entre propriedades vizinhas.
Essas tintas são atóxicas, resistentes à chuva e removidas facilmente durante o processamento da lã. O objetivo não é estético, mas funcional.
Segundo o consultor britânico de ovinos James McAllister, da Sheep Ireland, “o amarelo é uma das cores que mais se destacam na lã branca, principalmente em dias nublados ou com neblina — algo muito comum nas ilhas britânicas”.
Apesar de existirem várias cores disponíveis, o amarelo e o laranja se destacam porque:
- permanecem visíveis a longas distâncias
- não desbotam rapidamente em clima frio e úmido
- ajudam a identificar animais recém-marcados pós-tosquia
- contrastam perfeitamente com a paisagem “cinza-esverdeada” do Reino Unido

Em regiões montanhosas da Escócia, por exemplo, é comum ver rebanhos únicos distribuídos por áreas enormes. Sem marcação visual, o manejo seria quase impossível.
Uma das tradições mais curiosas — e também mais antigas — é a marcação feita durante a estação de monta. Carneiros usam um equipamento chamado raddle harness, uma espécie de cinto com bloco de tinta preso ao peito.
Quando o macho monta a ovelha, deixa um carimbo colorido no dorso dela.
Essa técnica permite ao produtor:
- saber quais ovelhas foram cobertas
- prever datas de parto
- separar lotes por estágio de gestação
- identificar fêmeas que repetiram o cio

As cores variam ao longo da estação: muitos produtores começam pelo amarelo, passam ao verde e terminam com vermelho, permitindo acompanhar a fertilidade de cada animal.
Além da reprodução, o amarelo também é aplicado após:
- vermifugações
- aplicação de vitaminas
- seleção genética
- movimentações entre pastos
- tosquia
Em feiras tradicionais, como as da Inglaterra rural, é comum ver rebanhos inteiros pintados da mesma cor antes do transporte.
A prática é tão antiga que acabou se tornando parte da paisagem. Hoje, as “ovelhas amarelas” são fotografadas por turistas do mundo todo, aparecem em blogs de viagem e até em matérias de TV.
Mas, para quem vive no campo britânico, trata-se apenas de eficiência e tradição.
A veterinária inglesa Helen Fairbairn, da National Sheep Association, resume bem:
“A tinta facilita tudo. É simples, barata, não estressa os animais e mantém o rebanho organizado.”
Importante reforçar: a coloração não tem relação com genética, deficiência nutricional, fungos, poluição ou qualquer alteração biológica. A lã volta a ser branca após a lavagem industrial.
O visual chamativo é, antes de tudo, uma ferramenta de trabalho, usada muito antes de a internet transformar essas imagens em fenômeno viral.
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