Custo faz produtor no Sul paralisar confinamento, enquanto margens menores são toleradas em SP e MT; Confira abaixo a pesquisa!
A fazenda da Guarda, no município de Dom Pedrito, na porção centro-sul do Rio Grande do Sul, estaria mal das pernas se não fizesse parte de um grupo maior, a Coradini Agropecuária, com cerca de cinco mil hectares de cultivo, entre o arroz e a soja. Foi nessa propriedade que o produtor Rodrigo Coradini abriu uma unidade de confinamento em 2015, com uma terminação média de 900 animais por ano.
Mas neste momento, época que em outros anos ele fazia planos para intensificar a engorda de animais, a situação é outra. Por ora, ele não consegue armar nenhuma estratégia e a intenção é paralisar a parte da operação que deveria estar em curso.
“Os custos estão muito altos e a valorização do boi gordo não está acompanhando. Se o preço da arroba acompanhasse a alta do custo, eu até poderia pagar R$ 13 o quilo do boi magro”, diz Coradini.
Diante da alta de preços, tanto de insumos como da reposição, produtores como Coradini não são poucos. As contas da engorda do boi não fecham. Mas, como a perspectiva é de alta no preço da arroba do boi gordo, há quem aposte que o confinamento deve seguir o curso do mercado de demanda aquecida. Para essa ala de produtores, a ordem do dia é correr risco e apertar as contas. Considerando o tamanho e a capacidade de cada um, a situação é de negócios estáveis em Mato Grosso e em São Paulo, mesmo sofrendo com a alta tão frenética dos insumos. Já situação de Coradini, no Sul, é a mais drástica, mesmo num ambiente de valorização da pecuária.
Escalada nos custos
A conta básica de Coradini, que trabalha com raças taurinas, leva em consideração apenas os preços do boi magro versus o do boi gordo. O quilo do animal magro (forma usual do comércio em sua região) está na média de R$ 11, já a venda do boi gordo é de R$ 10 por quilo.
“Hoje tenho poucos lotes no confinamento, cerca de 110 animais, e que já nas próximas semanas vão para o abate. Depois disso, só esperar para que as condições melhorem na região para retomar o confinamento”, diz Coradini.
A alta mais acelerada dos insumos, em comparação ao boi gordo, é que está levando o produtor a parar a atividade de terminação, pelo menos por um tempo. Para ser ter uma ideia da alta, a tonelada do farelo de soja, em média no Rio Grande do Sul, está atualmente em R$ 2.630, valor 90,6% a mais que há um ano. A título de referência, a saca de 60 quilos do milho, em praças de São Paulo, foi cotada em R$ 91,72 (11/3), com uma valorização de 61,6% em um ano. Já a valorização do boi, tomando São Paulo como referência, a alta foi de 51,9% ao longo de um ano, com a média de R$ 308,8 por arroba (11/3).
Para enfrentar o alto preço da reposição, a meta do produtor é acelerar sua produção própria de bezerros. Atualmente, os animais próprios abastecem cerca de 30%. “A minha intenção é ser autossuficente e não ter de depender de animais de terceiros”, diz Coradini.
Chegando ao limite
Para o pecuarista André Luiz Perrone dos Reis, proprietário do Confinamento Monte Alegre (CMA), em Barretos (SP), a situação não é das mais favoráveis por conta da alta nos custos, mas ainda não sinaliza recuo no ritmo de compra de animais.
O confinamento com capacidade estática para 19 mil bovinos está com uma estimativa de produção de 40 mil toneladas de carne para este ano, se equiparando ao resultado do ano passado.
“Este está sendo um ano extremamente complicado, por causa da compra do animal de reposição. Estamos de olho muito fixo nos custos e pagando o ágio do mercado. De fato, o ano está extremamente atípico. Muitos insumos dobraram de preço e o boi gordo, não”, diz Reis.
Para manter o ritmo de engorda em suas instalações, o pecuarista está pagando um ágio médio de 10% sobre o preço de referência para o Estado do São Paulo. Segundo a Scot Consultoria, o boi magro paulista foi cotado a R$ 4.350 nesta sexta-feira (12/3).
Ano estável
Já na opinião do confinador Francisco Camacho, dono da LFPEC Pecuária Profissional, com terminação intensiva de 100 mil bovinos em confinamentos de Mato Grosso, São Paulo e Bahia, achar boi magro não é a maior dificuldade. Para ele, pesa mais a alta dos insumos e a alimentação do gado.
“Tem boi em Mato Grosso. A oferta não é grande, mas tem boi, sim”, afirma Camacho.
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Mesmo com os custos em alta, o produtor sinaliza um ano de 2021 estável no número de animais confinados. Segundo ele, um dos fundamentos é a própria exportação, onde podem se encaixar a maioria dos lotes terminados em seus confinamentos. Na média, 90% dos animais possuem apenas 4 dentes, ou seja, bois jovens de até 24 meses, e podem acessar mercados como a China e Europa.
“Este ano vai ser muito difícil, de margens mais curtas, mas espero por melhoras. A qualidade de gado que está chegando, por exemplo, está melhorando. E isso é melhor para a terminação, garantindo mais produtividade”, diz Camacho.
Fonte: Portal DBO