DECA e DEP não são verdades. Cuidado!

Artigo brinca com o 1º de abril, Dia da Mentira; Nele, o autor, fala sobre as DECAs e DEPs: índices usados para avaliar geneticamente os bovinos brasileiros

Antes de iniciarmos o artigo, vamos ao glossário – Uma DEP (Diferença Esperada na Progênie) é uma previsão da capacidade de transmissão de características de um animal, ou em outras palavras, da capacidade de um animal transmitir para sua descendência genes que afetarão o desempenho desta descendência em uma determinada característica. A

DECA é um modelo criado à partir de 2019 pelo Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ). O percentil (TOP) utilizado para a classificação foi extinto e os animais passaram a ser agrupados em DECAS de 1 a 10, ou seja, classes de 10. Ficando da seguinte forma:

  • DECA 1 agrupa o conjunto dos 10% melhores animais avaliados;
  • DECA 2, aqueles entre 11 e 20%,
  • e assim sucessivamente até a DECA 10, que inclui os 10% de animais com as piores avaliações.

Sim, são dois índices, DEP e DECA, usados em programas de melhoramento genético. O próprio nome de cada um estampa, como primeiras palavras na sigla, DIFERENÇA ESPERADA, não é uma “Diferença Certa”. Uma aposta como jogar na loteria (qualquer delas). E pode até nem buscar o prêmio, como aconteceu ontem com um ganhador de quantia milionária de jogo pela Caixa Econômica Federal.

Inclusive a mudança de DEP para DECA foi empreendida para diminuir um pouco as grandes diferenças entre as tabelas e as realidades dos próprios animais e suas progênies.

Insisto sempre que a Biologia não é Matemática. Nunca foi ou será.

Os cálculos são matemáticos para os programas de melhoramento genético. Mais ainda com a tecnologia da informática, tudo transformado em sequências de 0 e 1. Juntados, certamente, nem próximo do que acontece com a junção de um espermatozoide e um óvulo (Não existem dois irmãos próprios iguais mesmo. Nem gêmeos!)

Os programas usados hoje por nós com raças zebuínas nasceram embasados em outros feitos nos Estados Unidos (pioneiro nisso). O número de animais avaliados por lá, na querida terra do Tio Sam, nem chega perto da quantidade de animais registrados como zebuínos ou até os “ceipados” (com “tantos e muitos” touros nas centrais de sêmen).

Pura verdade. Sem nenhuma má intenção.

Alguns técnicos destacados e publicações com chancela da Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – de muita militância nas áreas de estudos e pesquisas, expressam que sumários realmente não leva a algo consistente.

Leia o que diz uma conclusão de trabalho exposto pela nossa Embrapa Gado de Corte (CNPGC – Campo Grande/MS, Luiz Otávio Campos da Silva, como autor): “Os animais identificados como melhoradores em um determinado ambiente não serão, necessariamente, os melhores quando transferidos para outro ambiente.”

A classificação dos reprodutores, baseada no desempenho de suas progênies, varia de uma região para outra. Assim, a escolha correta dos reprodutores para fazendas específicas é fundamental para maximização do progresso genético.”

Outra publicação que fortaleça isso. Sim. Outras. Mas vamos a uma na sequência aqui. De autoria do mesmo Luiz Otávio da nossa Embrapa, que o conheço desde a última década de 80: “Os altos valores das herdabilidades maternas para P205 (peso aos 205 dias) sugerem que o efeito materno deve ser incluído nos modelos de avaliação genética em razão da sua expressiva participação nessa fase. As baixas correlações genéticas e os valores das correlações de ordem indicam que a interação genótipo x ambiente é importante para P365 quando se consideram as combinações envolvendo a região Nordeste com as demais regiões. Reprodutores com melhores resultados nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste não apresentam o mesmo desempenho na região Nordeste.”

As DEPs e DECAs, como ranking geral não prestam ou serve para nada!

Fazendo verificações, PESQUISADORES DE VERDADE estavam cientes das limitações da tecnologia das DEPs bem antes de 2008, ano esse da primeira Expogenética pela ABCZ. E tantos outros e entidades vendendo aos pecuaristas/selecionadores um sistema com defeitos e limitações, e sem avisá-los, amplamente, para terem cautelas com as utilizações dessas ferramentas.

A estatística biológica é extremamente delicada, e o melhoramento genético não pode ter um raciocínio básico raso e pouco sábio, ortodoxo no imediatismo. Infelizmente, estão buscando uma nossa atividade com um terrível slogan: “Pecuária rumo a avicultura e suinocultura”.

Mais uma lembrança: galinhas e porcos têm períodos de vida útil produtiva bem diferentes dos bovinos de corte e até de leite. Tem muita maquiagem em muitas DECAs e DEPs. (Veja que nem estão expressando os diversos tipos de criação dos “DEisados”. Será uma salada de regimes “intensivo, semi-intensivo ou extensivo”?)

Da nossa pecuária seletiva para a “geralzona” não pode aumentar custos de produção; e, dia a dia, perder muito do que conseguiu para um trono que tem no mercado mundial.

Cuidado mesmo relativo ao aumento, a grandes custos, da produtividade com finalidade frigorífica; indo embora os lucros reais, e o pecuarista fique um enjaulado deles, ou um simples empregado “sem direito a férias ou 13º salário anual”. Mais, pioradamente, a eliminação dos pequenos e médios produtores do setor.

Muitíssimo grave a situação da nossa atmosfera seletiva e, sequencialmente, do gado geral. Essas festas aos redores e dentro dos programas de melhoramento, com “máscaras”, até pelo nosso Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, necessitam acabar. Precisamos usar outras máscaras, as para não respirarmos mentiras de números viróticos.

O estudo, a detecção e a inclusão dos efeitos das interações do genótipo com o meio ambiente nos programas de melhoramento genético animal são importantes, necessários para aproximarmo-nos mais de resultados e bons retornos financeiros. Afinal, pecuária de seleção, do pequeno ao grande produtor, é negócio.

Os programas de melhoramento, atualmente, dão possibilidades demais de escolhas de animais pouco adequados aos diferentes ambientes de criação. Esse efeito, ainda mais, desfavorável quando os animais são selecionados em núcleos que empregam níveis elevados de tecnologia, alimentação e manejo e, posteriormente, utilizados como reprodutores em rebanhos comerciais, de criação extensiva e um pouco emprego de “coisa longe de verdade!”.

A foto usada aqui é de autoria do excelente Rubens Ferreira. Quando a vi, na minha cabeça, exclamação pela lindeza da mesma. Creio que casa bem com o meu texto, pois certeza de nem os nossos bovinos querem maquiagem de resultados para seguirem para uma boa, melhor genética “para todos e felicidade geral da Nação”, dona do maior rebanho produtor de carne do mundo, e de maioria Zebu, nos puros e nos cruzados.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM