A raça Santa Gertrudis surpreende no cruzamento industrial com desempenho de 20 arrobas aos 15 meses; Ultrassom de carcaça, genética tropical e rusticidade elevam raça desenvolvida em Sergipe como alternativa eficiente ao Angus e Bonsmara
Em tempos em que o cruzamento industrial busca equilibrar desempenho zootécnico com rusticidade tropical, a raça Santa Gertrudis vem ganhando protagonismo silencioso e estratégico. Um exemplo emblemático vem da Fazenda Boa Vista, em Nova Andradina (MS), que encontrou na genética desenvolvida pela sergipana Fazenda Mangabeira uma resposta prática para um dos grandes gargalos da pecuária intensiva: ganhar peso com precocidade, sem abrir mão da adaptabilidade.
A guinada ocorreu após um diagnóstico claro feito pelo gestor da propriedade, Douglas Rodrigues, há mais de uma década à frente da fazenda. “Os tricross com Angus, Bonsmara ou Brahman até desmamavam pesados, mas perdiam desempenho no confinamento, por conta do excesso de sangue europeu. Faltava consistência”, explica.
Ultrassonografia de carcaça foi a chave para o salto
A solução encontrada foi selecionar touros com base em ultrassonografia de carcaça, focando em três características cruciais: AOL (Área de Olho de Lombo), EGS (Espessura de Gordura Subcutânea) e MAR (Marmoreio). Esses indicadores estão diretamente ligados ao rendimento, precocidade e qualidade da carne — e são o foco há quase 50 anos da Fazenda Mangabeira, localizada em Umbaúba, Sergipe.
Desde 2016, a Mangabeira é pioneira no uso do software BIA para avaliação 100% do rebanho Santa Gertrudis, e seus touros vêm sendo cada vez mais procurados para compor cruzamentos em diferentes biomas. Um desses touros, Justus, foi utilizado nos tricross da Boa Vista com vacas F1.
“Os produtos nasceram com porte ideal, zero problema de parto, e um desempenho que nos surpreendeu. Aos 15 e 16 meses, estavam prontos para o abate com média de 20 arrobas e excelente padrão de carcaça, com GMD alto. O Santa Gertrudis entregou o que faltava: performance com rusticidade”, detalha Douglas.
Santa Gertrudis: Rusticidade, tolerância ao calor e lucro
O desempenho dos animais não se limitou ao ganho de peso. Para o gestor, o diferencial também está no aspecto adaptativo. “Animal de pelo curto, muito mais tolerante ao calor, à pressão de parasitas e ao manejo intensivo. Isso impacta diretamente no custo de produção e, por consequência, no lucro”, pontua.
Segundo a zootecnista Liliane Cunha, doutora em Produção Animal pela UNESP de Botucatu e diretora da DTG Brasil, responsável pelas avaliações do rebanho Mangabeira, o segredo do sucesso está no equilíbrio das características produtivas e adaptativas. “Selecionar AOL, EGS e MAR ao mesmo tempo permite obter animais que crescem rápido, terminam cedo e entregam carne de qualidade mesmo em ambientes quentes e restritivos como o Nordeste”, ressalta.
Touros em centrais e leilão com foco em cruzamento tropical
Esse trabalho consistente já colocou quatro touros da Mangabeira em centrais de inseminação: Choice, Fogo, Hurricane e Hibitionist — este último, oriundo da prova de desempenho a pasto da própria fazenda. A crescente demanda por genética adaptada de alto rendimento tem expandido os horizontes da marca, que agora firma parcerias no Mato Grosso e se prepara para seu leilão anual.
O evento será realizado no dia 4 de dezembro, com transmissão pela Central Leilões (YouTube) e pelo Lance Rural, ofertando touros e matrizes avaliados com foco em cruzamentos industriais tropicais.
Para Gustavo Barretto, gestor da Mangabeira, o momento é estratégico:
“Nosso compromisso é democratizar uma genética capaz de produzir carne de qualidade em clima quente. Entregamos ao produtor a chance de acelerar o ciclo produtivo sem perder adaptabilidade, que é justamente o grande gargalo das raças taurinas especializadas”.
Genética nacional e potencial de escala
O caso da Santa Gertrudis na pecuária tropical mostra que a genética nacional, quando baseada em ciência e consistência, pode competir em performance com raças importadas, com a vantagem da adaptabilidade natural. O uso estratégico da ultrassonografia de carcaça como ferramenta de seleção se consolida, portanto, como um divisor de águas no cruzamento industrial de alta performance para regiões de clima desafiador.
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