Desinfecção da água na pecuária: contaminação microbiológica e sanitizantes

O regime de tratamento correto da água economizará significativamente mais dinheiro do que custa e a empresa e tratamentos a serem adotados devem ser avaliados.

A água é o nutriente essencial e insubstituível para garantir a saúde na produção de aves, suínos, gado de leite e corte.

Na pecuária, um sistema de água com qualidade adequada é benéfico para evitar prejuízos como infecções nos animais que afetam a performance da produção, contaminação do leite e outros problemas de manutenção. 

A atenção cuidadosa quanto a qualidade da água utilizada pode ter impactos importantes na produção. A água tratada corretamente reduzirá a necessidade de antibióticos, no caso de incubatórios, o condicionamento da água melhora a eficiência ou longevidade de processos críticos, prevenindo corrosão e evitando incrustações, na produção de leite evitará contaminação cruzada reduzindo a contagem de UFC/100 ml para CPPe ajudando no controle da CCS ambiental. 

O regime de tratamento correto da água economizará significativamente mais dinheiro do que custa e a empresa e tratamentos a serem adotados precisam ser cuidadosamente avaliados.

Prejuízos causados pela água e que são ignorados

A grande maioria dos produtores e técnicos desconhecem completamente os efeitos que a água disponível pode ter em sua atividade. Muitos prejuízos seriam evitados ou muitos ganhos seriam melhores se uma atenção maior fosse dada a esse importante insumo da produção animal, a água.

Aspectos como a contaminação microbiológica, excesso de sólidos totais dissolvidos, dureza, pH, temperatura e outros contaminantes específicos podem estar gerando prejuízos que o produtor desconhece e que poderiam facilmente serem tratados e revertidos em maiores ganhos na produção animal.

Em um cenário de altíssima competitividade, onde se exige a eficiência da produção e produtividade, priorizando a genética, nutrição, conforto e manejo adequado, as pequenas perdas ocasionadas pela má gestão da água pedem estar corroendo uma boa parcela do lucro do produtor no campo.

A água é responsável por transportar e transmitir a maior parte das doenças a que os animais estão susceptíveis causadas por bactérias, vírus, protozoários e helmintos. Tais doenças podem ter origem em agentes que se desenvolvem na água, por agentes que não se desenvolveram mas contaminaram a água, por agentes cujos vetores se desenvolveram na água e aquelas que são dispersadas pela água. As doenças de veiculação hídrica podem ter seus efeitos exacerbados com as alterações climáticas e a longo prazo com a mudanças globais. (Águas doces no Brasil 3ª Ed)

A água é responsável pelas incrustações químicas ocasionadas pelo excesso de sais que formam placas causando entupimento nas tubulações, válvulas, sistemas de resfriamento, bebedouros, queima de resistências dentre tantos outros problemas que podem ser evitados com tratamento adequado.

A água é responsável por incrustações biológicas, ocasionadas pela formação do biofilme bacteriano nas tubulações, causando obstrução da rede e demais mecanismos de distribuição da água ou de refrigeração além de aumentar a contaminação microbiológica da água.

A água é responsável pela alimentação e aproveitamento adequado dos nutrientes pelos animais. O consumo de alimento está diretamente relacionado com o consumo de água. Uma água com excesso de sais confere a essa um sabor desagradável, o que inibe o consumo principalmente de suínos e gado. Ainda, dependendo da composição de sais presentes na água essa poderá causar diarreia em aves, suínos e bovinos comprometendo seu desenvolvimento, produção e produtividade.

temperatura é outro fator totalmente ignorado pelo setor, assim como os seres humanos, os animais têm preferência quanto a temperatura da água ingerida e uma água muito fora da temperatura agradável certamente terá restrição no consumo.

A água é responsável pela morte de animais. Águas com excesso de nitritos e nitratos podem causar cianose. Águas de açudes podem conter cianobactérias que em excesso produzem cianotoxinas suficientes para matar um gado adulto.

Nesse sentido é fundamental escolher uma empresa e o produto que atenda o maior espectro de ação possível dentre todos os problemas que a água pode ocasionar. Adotar a técnica e o produto adequado não apenas se tornará menos custoso como facilitará o manejo e resolverá todos os problemas se a necessidade de ter que ficar realizando adequações futuras.

Conhecendo sua água

Tudo começa com a análise da água. A orientação quanto ao que deve ser analisado na água deve partir de um especialista que entenda sobre os parâmetros a serem analisados e os efeitos que podem ter sobre a espécie animal criada. Com o laudo de análise da água em mãos o especialista deve indicar quais os tratamentos devem ser adotados a fim de mitigar os efeitos negativos que essa água oferece além de propor outras técnicas de manejo que contribuam para manutenção da boa qualidade da água na propriedade.

O profissional especialista deve explicar para o produtor ou empresa porque está adotando aquela técnica e qual é o efeito esperado para futuramente se comprovar e eficiência deste. Empresas e produtores devem evitar as soluções simplistas e as incompletas e priorizar soluções integrais.

Simplistas são aquelas soluções que orientam produtores a por exemplo “jogar” um produto no poço, no bebedouro ou no reservatório sem nenhum tipo de controle do que está sendo aplicado.

Incompletas são aquelas soluções que sempre precisam de mais uma solução para resolver o problema, ou seja, aplica um produto sanitizante para tratar a água, mas precisa de outro produto para evitar o biofilme bacteriano.

Priorizem a solução integral, que resolve o problema de forma completa.

Técnicas e métodos de desinfecção da água

A desinfecção é certamente o tratamento mais popular ainda que pouco utilizado.

O objetivo da desinfecção é eliminar ou reduzir a níveis seguros para cada espécie a contaminação microbiológica das águas, mantendo um residual do produto ao longo de toda rede de distribuição e reservatórios com objetivo de evitar que ocorra nova contaminação ou mesmo novo crescimento microbiológico pela reprodução de possíveis sobreviventes ao processo inicial. Para tanto vamos avaliar os principais produtos e tecnologias destinados a desinfecção da água, o cloro em todas suas formas, dióxido de cloro, ozônio e UV.

O produto mais popular utilizado na desinfecção é o cloro. O cloro pode ser encontrado nas formas de cloro gás, hipoclorito de sódio, hipoclorito de cálcio, dicloro ou tricloro. Todas as formas de cloro podem exigir altas dosagens (maior que 10 mg/L) para ter ação efetiva.

O ácido hipocloroso, formado pela adição de todos os tipos de cloro na água é quem tem a ação sanitizante, mas sua eficácia é prejudicada pela matéria orgânica, pelo pH e pela temperatura da água.  Em águas com alto teor de matéria orgânica o cloro primeiro precisa oxidar toda matéria orgânica, para depois matar as bactérias. O pH alcalino, acima de 7 e a baixa temperatura, aumenta o tempo de ação mínimo do cloro, que é de 30 minutos, para matar uma bactéria podendo chegar em até 60 minutos num pH 9 dependendo da temperatura.

Embora gerem um residual ao longo da rede para manutenção da desinfecção, não são efetivos contra o biofilme bacteriano, exigindo outro produto e manejo para limpeza das redes de abastecimento.

cloro também não mata bactérias alojadas nas incrustações sejam de origem química ou microbiológica. Além disso, cloro não elimina oocistos de alguns protozoários e ao matar as cianobactérias lentamente permite que estas liberem as cianotoxinas na água como um mecanismo de defesa, o que gera a intoxicação da água e pode matar animais e seres humanos.

O dióxido de cloro ainda é pouco conhecido por produtores e técnicos do mercado agropecuário. O dióxido de cloro mantém residual na rede e não precisa de altas dosagens como o cloro para ser eficiente, isso porque a matéria orgânica não afeta sua ação. O de ação do dióxido de cloro é instantâneo, mata bactérias em segundos e protozoários entre 1 e 3 minutos.

O dióxido de cloro não perde eficiência quanto ao pH ou a temperatura da água, sua ação rápida não será afetada. O dióxido de cloro elimina o biofilme bacteriano evitando a incrustação e matando microrganismos, sem necessidade de outros tratamentos paliativos. O dióxido de cloro elimina oocistos e mata cianotoxinas tão rápido que não há tempo da liberação das toxinas na água. Por essa razão o dióxido de cloro é um produto que age de forma integral e promove maior segurança.

O ozônio também elimina microrganismos como bactérias, fungos, vírus e protozoários em segundos, comparado a vários minutos do cloro. O ozônio é gerado quando uma corrente alternada de alta voltagem é descarregada na presença de oxigênio. O maior exemplo é o que ocorre na natureza, quando em dias de tempestade há grande produção de ozônio na atmosfera devido às elevadas descargas elétricas provenientes dos relâmpagos.

O gerador de ozônio basicamente reproduz, de forma controlada e eficaz, este fenômeno natural, aliando alta tecnologia na área de materiais à eletroeletrônica avançada. Após 20 minutos o ozônio se decompõe novamente em oxigênio, não deixando qualquer residual sobre as superfícies, água ou alimentos tratados e aqui esta o problema.

Na produção animal o risco de contaminação cruzada da água é grande. Por isso ter um produto que mantenha um residual ao longo de toda rede de distribuição, reservatórios e bebedouros é fundamental. O ozônio cumpre muito bem a função em uma água que será ozonizada e imediatamente consumida, por isso não é uma solução integral.

Tratamento com ultravioleta utiliza os raios UV-C, que possuem ação germicida. Eles são capazes de eliminar diversos patogênicos e microrganismos danosos, como bactérias, vírus, fungos, esporos etc. A dosagem de UV recomendada para a desinfecção varia de acordo com a carga bacteriana. É importante destacar que uma dose mal calculada pode causar apenas danos temporários aos microrganismos, permitindo-os se regenerar. Á água a ser tratada para consumo com UV deve ter baixa turbidez isso porque as bactérias podem sobreviver na sombra de partículas em suspensão na água.

O método de desinfecção por UV não deixa resíduo na água e, portanto, assim como o ozônio não é adequado para aplicação no meio rural. Ainda, assim como ozônio ele esteriliza a água naquele ponto que foi aplicado não sendo recomendado armazenamento posterior e sim o consumo ou uso imediato.

Quadro comparativo da eficiência dos sanitizantes conhecidos

Quadro comparativo da eficiência dos sanitizantes conhecidos
*NA: Não se aplica, indica que a VU não oxida matéria orgânica.

Respostas em verde indicam que o produto é eficiente no quesito apresentado, em vermelho indica que não atende. Pontos totais é apenas a soma de todos os quesitos atendidos atribuindo 1 ponto para cada item sem considerar o grau de eficiência ou a amplitude da ação do produto.

  • O cloro em todas suas formas comparando com os demais é o que recebe a pior classificação, apenas 1 ponto.
  • O ozônio não atende num ponto fundamental, a manutenção do residual de segurança ao longo de todo sistema de distribuição.
  • A radiação UV não atende num ponto fundamental, a manutenção do residual de segurança e não oxida a matéria orgânica.
  • O dióxido de cloro atende todas os quesitos necessários e por isso é uma solução integral.
Fonte: MilkPoint

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