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Doença perigosa é confirmada em jumentos!

Mais de oito animais foram infectados pela doença de mormo, animais iriam para o abate e comercialização da carne e couro com a China. Estado está em alerta!

Nove jumentos que seriam abatidos em frigoríficos de Amargosa e Itapetinga, na Bahia, com vistas à exportação de carne e couro para a China e estavam confinados juntos com outros 694 animais, em Canudos (centro-norte do estado), tiveram a confirmação da doença de mormo, zoonose que não tem cura e atinge os equídeos.

A informação é da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), segundo a qual oito dos jumentos com a doença já foram sacrificados – fim semelhante terá o animal cuja confirmação de mormo se deu esta semana: ele será sacrificado na terça-feira que vem, informou a Adab.

O caso é acompanhado pelo Ministério da Agricultura, segundo o qual não há estado do Brasil livre de mormo, porém não apresentou dados atuais sobre a doença. Relatório de 2015 do ministério aponta que em 2013 foram registrados no país 189 casos (4 na Bahia), 202 em 2014 (7 na Bahia) e 266 até agosto de 2015 (1 na Bahia).

O mormo é uma doença infecto-contagiosa dos equídeos, causada pela bactéria Burkholderia mallei, e pode infectar outros animais, como felinos, além do homem. A Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) informou que não há histórico de mormo em humanos no estado, já o Ministério da Saúde não comentou o assunto.

Segundo a Adab, a doença, nos equídeos, se manifesta por um corrimento viscoso nas narinas e a presença de nódulos subcutâneos, nas mucosas nasais, nos pulmões, gânglios linfáticos e pneumonia. Os animais, assim como humanos, contraem mormo no contato com material infectante do doente – pus, secreção nasal, urina ou fezes.

Além de mormo, houve ainda mais cinco animais que tiveram resultados positivos para anemia infecciosa equina (AIE), doença conhecida como “febre do pântano”, causada por um retrovírus e transmitida por insetos sugadores de sangue.

Isolados

Em Canudos, os jumentos estão numa fazenda alugada para confinamento ilegal na fronteira com Euclides da Cunha. Os animais foram encontrados no final de janeiro deste ano pela Adab e pela Prefeitura de Euclides da Cunha, que relatou na época que os animais estavam em situação de maus-tratos e morriam de fome e sede.

Hoje, de acordo com informações da Adab, há 415 jumentos na propriedade. Os outros animais morreram devido a uma doença metabólica sem cura e desenvolvida por causa dos maus-tratos. A fazenda, por conta dos casos de mormo e AIE, foi interditada pela Adab e Ministério da Agricultura – não entra e nem sai animais.

Os jumentos mortos, ainda de acordo com o órgão estadual, foram enterrados numa vala profunda em local distante de fonte de água e dos outros animais da propriedade, que já passaram por exames cujos resultados deram negativos para mormo e AIE. Contudo, eles ficarão isolados por um período de 90 dias e ainda passarão por mais exames.

A Adab diz que informou ao proprietário da fazenda, cujo nome não foi divulgado, a “necessidade de uso de EPI [equipamento de proteção individual] e as restrições em função da ocorrência em curso”.

Jumentos receberam assistência de ONGs em Canudos (Divulgação/The Donkey Santuary)

A tutela dos jumentos, conforme o Ministério Público da Bahia, está com ONGs de defesa e proteção dos direitos dos animais, mas por decisão da Justiça Federal, dada em março deste ano, é a União e o Governo da Bahia quem deve garantir todo tipo de assistência aos animais, como saúde, alimentação e abrigo.

Uma investigação sobre a origem dos animais foi iniciada também pela Adab. Até o momento, se sabe que eles vieram de estados do Nordeste, como Pernambuco, Paraíba, Piauí, Maranhão e do Pará (no Norte). Os animais chegaram à Bahia por meio de transporte clandestino, em caminhões cujas viagens eram realizadas à noite.

A finalidade do confinamento em Canudos era o abate em frigoríficos de Amargosa e Itapetinga, que vinham recebendo os animais por parte da empresa chinesa Cuifeng Lin, multada por diversas vezes por autoridades ambientais da Bahia, devido a casos de transporte ilegal e maus-tratos aos jumentos.

A Bahia é o único estado do Brasil com autorização do Ministério da Agricultura para abater jumentos, o que vinha ocorrendo desd 2017.

O objetivo é atender ao mercado chinês, onde se extrai da pele e couro do animal substância usada para fazer o ejiao, remédio tradicional que promete combater o envelhecimento, aumentar a libido nas mulheres e reduzir doenças do órgão reprodutor feminino.

Mas os abates na Bahia estão proibidos por decisão liminar (temporária) da Justiça Federal, ainda em vigor, dada pela em 30 de novembro de 2018 pela juíza Arali Maciel Duarte, da 1ª Vara Federal, em Salvador.

Outra decisão também liminar, da Justiça Federal de São Paulo, emitida em dezembro de 2018, proíbe os abates no Nordeste.

Nos dois casos, as proibições ocorreram após casos de maus-tratos registrados pelo Governo da Bahia (Polícia Civil e Adab), com centenas de animais mortos de fome e sede em Itapetinga e Itororó, ambas no sudoeste baiano. Os abates ocorriam desde julho de 2017. Além de Itapetinga e Amargosa, eles ocorriam ainda em Simões Filho.

Dados do Ministério da Agricultura apontam que somente em 2018 a Bahia exportou para o Vietnã 1,28 mil toneladas de carne e couro de “cavalos, asininos e muares”, a US$ 2,5 milhões. Para Hong Kong, foram 24,4 toneladas, por US$ 36.814.

Segundo relatório de janeiro de 2017 da ONG britânica The Donkey Sanctuary, que atua globalmente em defesa do bem-estar dos jumentos, nos últimos 20 anos houve redução de 11 para 6 milhões desses animais na China. Hoje, o país asiático busca esses animais, sobretudo, na África, Tanzânia, Colômbia e México.

O relatório da The Donkey Sanctuary trás relatos diversos sobre animais que estão sendo esfolados para retirada da pele nesses países. Há ainda casos de roubos em comunidades agrícolas que usam jumentos para transporte ou como tração.

Segundo informações da Adab, no estado vinham sendo abatidos de 300 a 400 jumentos por semana nos três frigoríficos, que, segundo a juíza federal Arali Maciel Duarte, da 1ª Vara Federal e que proibiu os abates no estado, estavam com meta de abater 200 mil animais por ano, o que levaria à extinção dos jumentos nordestinos em quatro anos.

A magistrada relatou na decisão que, segundo o Conselho Regional de Medicina Veterinária da Bahia, o efetivo de equídeos (equinos, asininos e muares) no Brasil teve queda de 2,7% entre 2011 e 2012.

O Nordeste foi o que registrou a maior queda absoluta (-4,7%), sendo Bahia e Pernambuco os estados que mais contribuíram para isso, com destaque para o plantel de asininos (jumentos), que teve redução de 7,4% no mesmo período.

Todos os estados desta região registraram queda, sendo esta mais acentuada nos Estados da Bahia (-9,3%) e de Pernambuco (-22,7%), informa o documento nos autos do processo.

“Este cenário já é esperado, e vem acontecendo em outros países por conta da evolução tecnológica no campo e, com isso, da diminuição da utilização destes animais para carga e transporte”, escreveu a juíza federal Arali Maciel Duarte.

A Bahia, segundo a Adab, tem plantel de 96 mil jumentos, mas estima-se que a quantidade de animais, incluindo os soltos, chegue a 200 mil. No Nordeste, a projeção é de 800 mil jumentos. Somente no Frinordeste, em Amargosa, conforme a magistrada relata na decisão, já foram mortos 44 mil jumentos de agosto de 2017 a setembro de 2018.

“Estes dados alertam sobre o risco iminente de extinção do Jumento Nordestino, espécie nativa brasileira, pois se trata de uma ação extrativista e de extermínio anunciado”, escreve Arali Maciel Duarte.

Alerta na fiscalização

Devido ao problema em Canudos, os 22 postos de fiscalização da Adab na fronteira com os estados estão em alerta total, segundo informou o diretor de Defesa Animal da Adab, Rui Leal. Ele disse que os animais foram transportados sem a GTA, um guia que atesta a origem e a sanidade do bicho.

“Esse tipo de transporte, geralmente, é feito a noite e durante a madrugada. Estamos atentos quanto às denúncias que recebemos sobre o assunto e averiguando as informações”, afirmou Leal, que deu como exemplo de trabalho de fiscalização o que está sendo realizado na região de Urandi, sudoeste baiano.

É que na noite de quarta-feira (29), uma carreta carregada com cerca de 200 bois tombou numa ribanceira ao lado da BR-122, próximo de um posto de fiscalização em Urandi. “O motorista tentou fugir porque estava em a GTA dos animais e acabou virando o veículo”, acrescentou. O motorista sobreviveu ao acidente.

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Jumentos aparentemente sadios no confinameto em Canudos, na Bahia (Divulgação/The Donkey Santuary)

Coordenadora da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos, a advogada Gislane Brandão, de Salvador, declarou que a contaminação por mormo dos jumentos “mostra o absurdo que fizeram, eles autorizaram o abate”. A crítica é direcionada ao governo da Bahia, que incentivou os abates de jumentos, e ao Governo Federal, o qual autorizou os frigoríficos da Bahia a realizarem o serviço.

“Os animais foram transportados de um canto para o outro sem critérios e o mormo se espalhou. Estamos providenciando um documento sobre o caso. Além da maldade dos maus-tratos, há a irresponsabilidade com as barreiras sanitárias. O abate tem que ser proibido definitivamente”, disse a advogada.

O Conselho Federal de Medicina Veterinária, em relatório sobre o abate de jumentos na Bahia, observou, ao criticar as barreiras sanitárias, que no trânsito para o abate de equídeos há dispensa da prova de diagnóstico de anemia infecciosa (AIE), como descrito na Normativa nº 45, de 15 de junho de 2004, do Ministério da Agricultura.

Com relação ao mormo, há a exigência de exame negativo para a doença na Instrução Normativa nº 6, de 16 de janeiro de 2018, também do Ministério da Agricultura, mas ela “é omissa quanto ao exame negativo para mormo quando a finalidade do trânsito for o abate”.

“A referida IN cria zonas livres onde não é necessário o exame para mormo e atualmente todo o Brasil está classificado como não livre. Entretanto, em relação aos riscos de contágio da doença, o novo Decreto nº 9.013, de 29 de março de 2017, que dispõe sobre a inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal, não trata da segurança dos funcionários dos abatedouros em relação ao uso de EPIs e os risco de contágio do mormo”, criticou a entidade.

O Ministério da Agricultura informou que “as medidas de defesa sanitária animal preconizadas na legislação federal vigente foram adotadas pelo Serviço Veterinário da Adab, no sentido de sanear completamente o foco”.

Com relação à área comercial, a chefe do Serviço de Saúde Animal da Superintendência do Ministério da Agricultura na Bahia, Márcia Alves, informou que a exportação de carne, pele e derivados de equídeos, bem como de animais vivos, depende das exigências sanitárias do país comprador.

Segundo ela, o fato de um foco ter sido confirmado em determinado estado, não quer dizer que outros criadores do mesmo estado estejam proibidos de manter relações comerciais.

“Em relação à propriedade onde foi confirmado o foco a movimentação de animais, pois ela permanecerá interditada até que o serviço oficial da Adab conclua as ações de saneamento do foco. Não pode haver trânsito de animais no local”, disse Márcia Alves.

Criadores cobram rigor na fiscalização sanitária e temem prejuízos comerciais

A confirmação de mormo na Bahia gerou preocupação entre criadores de jumentos da raça pêga, animal que no mercado de equinos chega a valer até R$ 100 mil. Entidades de defesa dos direitos dos animais e criadores de jumentos cobraram maior rigor da Adab na fiscalização com relação à entrada de animais na Bahia.

A Associação Brasileira de Criadores de Jumento Pêga (ABCJPêga) declarou que já dá como certo o impacto negativo nas comercialização do plantel baiano, hoje em 5.588 jumentos, segundo maior rebanho do Brasil, que possui 36.318 animais dessa raça. O estado que mais tem jumentos pêga é Minas Gerais, com 15.786 bichos.

A ABCJPêga informou que em reunião recente com o Ministério da Agricultura já tinha sido alertada da possibilidade de mormo na Bahia por conta dos abates de jumentos que vinham ocorrendo e dos casos de maus-tratos.

“Com a confirmação, é certo que haverá prejuízo na comercialização do setor”, disse o superintendente da entidade, Samuel Andrade Pinto, que é veterinário. “Isso é muito ruim”.

Samuel Andrade Pinto informou que nos eventos que a associação realiza no Brasil tem sempre exigido que todos os animais tenham exames negativos de doenças como mormo, AIE e que estejam vacinados contra o vírus Influenza. A entidade espera mais rigor da Bahia na fiscalização no trânsito de animais.

A notícia sobre o mormo gerou preocupação no criador Sálvio Neris de Andrade, um dos 35 criadores de jumento pêga na Bahia – ele é dono do Haras Ypiranga, em Itororó (sul da Bahia), onde cria 160 animais, sendo 32 machos e o resto fêmeas.

“Ter um foco dessa doença na Bahia é um fator de muita preocupação porque ele pode se espalhar. O que esperamos é que o governo tome as medidas sanitárias com a maior responsabilidade possível”, ele disse.

Andrade informou que esse mês enviou 40 animais para os Estados Unidos, um macho e o restante fêmea, “todos com os devidos documentos atestando resultado negativos para doenças”.

“Não sei se eles soubessem desse foco no estado se iriam querer comprar os animais. Por mais que seja uma questão individual e que consigamos provar que nosso plantel está livre de doenças, a confirmação do foco acaba sendo um fator negativo na negociação”, comentou.

Saiba mais sobre o mormo e a AIE

O mormo é uma doença infecto-contagiosa dos equídeos, causada pela bactéria Burkholderia mallei, que pode ser transmitida ao homem e também a outros animais. Manifesta-se por um corrimento viscoso nas narinas e a presença de nódulos subcutâneos, nas mucosas nasais, nos pulmões, gânglios linfáticos, pneumonia, etc. Os animais contraem o mormo pelo contato com material infectante do doente: pús; secreção nasal; urina ou fezes.

Os sintomas mais comuns são a presença de nódulos nas mucosas nasais, nos pulmões, gânglios linfáticos, catarro e pneumonia. A forma aguda é caracterizada por febre de 42ºC, fraqueza e prostração; pústulas na mucosa nasal que se transformam em úlceras profundas com uma secreção, inicialmente amarelada e depois sanguinolenta; intumescimento ganglionar e dispnéia.

A contaminação ocorre pelo contato com material infectante (pus, secreção nasal, urina ou fezes). O agente penetra por via digestiva, respiratória, genital ou cutânea (por lesão). O germe cai na circulação sanguínea e depois alcança os órgãos, principalmente pulmões e fígado.

O mormo apresenta forma crônica ou aguda, esta mais freqüente nos asininos. Os animais suspeitos devem ser isolados e submetidos à prova complementar de maleína, sendo realizada e interpretada por um veterinário do serviço oficial. A mortalidade dessa doença é muito alta.

Devem ser realizadas as seguintes medidas:

  • Notificação imediata à Defesa Sanitária;
  • Isolamento da área da infecção e isolamento dos animais suspeitos;
  • Sacrifício dos que reagiram positivamente à mesma prova de maleína;
  • Cremação dos cadáveres no próprio local e desinfecção de todo o material que esteve em contato com eles;
  • Desinfecção rigorosa dos alojamentos;
  • Suspensão das medidas profiláticas somente 120 dias após o último caso constatado;
  • Bloqueio e suspensão do trânsito animal da propriedade;

A anemia infecciosa equina (AIE) é uma afecção cosmopolita dos equídeos, causada por um RNA vírus do gênero Lentivirus, da família Retrovírus. O vírus, uma vez instalado no organismo do animal, nele permanece por toda a vida mesmo quando não manifestar sintomas. É uma doença essencialmente crônica, embora possa se apresentar em fases hiperaguda, aguda e subaguda.

Os cavalos infectados podem apresentar febre de 40 a 41, 1° C, hemorragias puntiformes embaixo da língua, anemia, inchaço no abdômen, redução ou perda de apetite, depressão e hemorragia nasal. A doença afeta também os asininos (jumentos e jumentas) e muares (burros e mulas).

A transmissão ocorre através de picada de mutucas e das moscas dos estábulos; materiais contaminados com sangue infectado como agulhas, instrumentos cirúrgicos, groza dentária, sonda esofágica, aparadores de cascos, arreios, esporas e outros materiais, além da placenta, colostro e acasalamento.

O animal positivo para o teste de IDGA (imuno difusão em gel de Ágar, aprovado para diagnóstico da AIE). O animal deverá ser isolado e, posteriormente sacrificado, pois é disseminador da doença.

As agulhas e seringas utilizadas deverão ser descartáveis. A comprovação de qualquer eqüídeo positivo para AIE deverá ser comunicada à agência. Não há tratamento efetivo ou vacina para a doença. O animal infectado torna-se portador permanente da doença, sendo fonte de infecção.

Fonte: Canal Rural

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