Embrapa propõe nova era para o Cerrado

Cenas épicas de dezenas de máquinas juntas cortando lavouras extensas do Centro-Oeste para colher a soja estão com os dias contados

Cenas épicas de dezenas de máquinas juntas cortando lavouras extensas do Centro-Oeste para colher a soja, seguidas de plantadeiras semeando a safra de milho, estão com os dias contados. A agricultura está evoluindo na direção da sustentabilidade, o foco é produzir mais usando menos

As tecnologias agrícolas que domaram os solos ácidos do Cerrado nos anos 70 e 80, desenvolvidas na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e outros centros e universidades, transformaram a região em um dos maiores polos agrícolas do mundo e levaram o Brasil ao topo do ranking dos players mundiais do setor, com ganhos econômicos altíssimos. Mas, segundo a Embrapa, essas cenas épicas de dezenas de máquinas juntas cortando lavouras extensas do Centro-Oeste para colher a soja, seguidas de plantadeiras semeando a safra de milho, estão com os dias contados.

O motivo é que converter as terras do Cerrado em extensas lavouras produziu além da riqueza ao agronegócio e ao país, a degradação dos vários tipos de vegetação, ao reduzir o bioma a menos de 50% do seu tamanho original, com a destruição da fauna e da flora. As altas taxas de desmatamento no bioma já comprometem a resiliência do Cerrado e sua contribuição para a regulação do clima global, devido às emissões de gases de efeito estufa e ao grave impacto sobre seus recursos hídricos.

O engenheiro agrônomo Maurício Lopes, que ingressou como estagiário na Embrapa de Sete Lagoas (MG) em 1985, no auge da expansão da fronteira agrícola do Cerrado, foi um dos criadores do milho tropical, variedade adaptada às condições do solo do bioma, que permitiu aos produtores sucessivas safras recordes do grão.

Após ocupar a presidência da Embrapa por duas gestões (2012-2018), Lopes hoje se dedica a estudos e modelagens para antecipar futuros possíveis para a agricultura brasileira na Embrapa Agroenergia, unidade criada para construir pontes entre a agricultura e a bioeconomia.

“Também estamos desenvolvendo métricas e análises de impacto para demonstrar que a agricultura está evoluindo na direção da sustentabilidade, o que está se tornando crítico para convencermos os mercados, com evidências e números sólidos, que a agricultura está totalmente ligada na agenda da sustentabilidade”, diz.

Neste ano em que a Embrapa completa 50 anos de existência, a empresa está convencida que o modelo de agricultura que ajudou a construir no Brasil, baseado nas grandes monoculturas, como as que ocupam extensas áreas no Centro-Oeste, precisa mudar e será diferente.

Não vamos ver mais dezenas de colheitadeiras trabalhando lado a lado em áreas imensas de soja”, afirma Lopes, que prevê fazendas menores, mais diversificadas e sustentáveis.

Livro marca 50 anos da Embrapa

O jornalista Benê Cavechini é um dos autores do livro “Embrapa na Agricultura Tropical”, que marca os 50 anos de existência da empresa. Para ele,na Embrapa, o foco agora é trabalhar em sistemas e métodos que diminuam o uso de agroquímicos e promovam uma agricultura mais resiliente e sustentável, favorecendo o meio ambiente. É produzir mais usando menos água e menos insumos”, disse em entrevista ao jornalista Bruno Blecher para o portal Poder 360.

E esse justamente é o grande desafio do agro nos próximos anos para aumentar a produtividade das lavouras com sustentabilidade.

De acordo com um estudo realizado pela FAO (Agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) e a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) 87% da oferta de alimentos nos próximos sete anos ocorrerá no mundo basicamente em função do aumento da produtividade e apenas 6% virão da expansão da área.

No Brasil, segundo projeções da Embrapa e do Ministério da Agricultura, a agropecuária deve manter a tendência observada até aqui –aumentando as safras via produtividade com pouca expansão da área plantada.

No ano de 2032, o plantio deverá crescer 17% e a produção 36%, chegando aos 370 milhões de toneladas de grãos, quase 60 milhões a mais do que nesta safra (2022/2023).

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