Especialista analisa mercado do boi e dá conselhos a pecuaristas

A Compre Rural, juntamente com o Engenheiro Agrônomo e Analista da Pátria Agronegócios, Matheus Itagiba, analisou de perto as tendências do mercado do boi, fornecendo insights valiosos para os agentes do agronegócio brasileiro; Confira.

O mercado de bovinos no Brasil desempenha um papel crucial na economia, sendo um setor de grande relevância para a produção de carne, exportações e, consequentemente, para o agronegócio nacional. A Compre Rural, atuando nesse cenário, busca entender e analisar os desafios e oportunidades que impactam diretamente os produtores e toda essa cadeia de suprimentos.

Nesse contexto, entrevistamos Matheus Itagiba, Engenheiro Agrônomo e Analista da Pátria Agronegócios, para apresentar o panorama atual dos preços da arroba do boi no país. Neste momento, exploraremos as principais observações de Itagiba e suas perspectivas para o futuro do mercado, considerando os desafios e as estratégias que podem moldar o comportamento do setor nos próximos meses.

Como está o mercado do boi gordo?

Matheus Itagiba destaca que a arroba do boi gordo experimenta uma relativa estabilidade nas últimas quatro semanas, após um período de forte volatilidade entre abril e outubro. O excesso de oferta de bovinos no mercado brasileiro, mesmo com registros de exportações, foi evidente. “Vale destacar que o abate no terceiro trimestre de 2023 cresceu mais de 11% em relação ao ano passado, principalmente decorrente da disponibilidade das matrizes retidas no ano passado, quando os preços estavam altos“, explicou Itagiba.

Quanto aos preços, atualmente, a deterioração das pastagens devido às chuvas irregulares no centro norte do Brasil é um fator de suporte aos preços, e por outro lado, as escalas de abate seguem confortáveis”, apresentou o engenheiro.

Escalas de abate na pecuária bovina

As escalas de abate são um componente essencial na gestão da produção pecuária, influenciando diretamente a eficiência operacional, os custos de produção e, consequentemente, os retornos financeiros para os pecuaristas. Vamos explorar mais sobre o que são e como funcionam as escalas de abate:

Definição de escalas de abate: As escalas de abate referem-se à programação ou planejamento que os frigoríficos e abatedouros realizam para determinar a quantidade de gado que será abatida em um determinado período de tempo. Essa programação leva em consideração diversos fatores, como a demanda de mercado, capacidade de processamento, sazonalidade e até as mesmas condições climáticas.

Ajuste de produção e demanda de mercado: As escalas de abate são dinâmicas e podem ser ajustadas de acordo com a demanda do mercado. Por exemplo, durante períodos de maior demanda, como festas de final de ano, os frigoríficos podem aumentar as escalas de desconto para atender a essa demanda sazonal. Em contrapartida, em momentos de menor demanda ou excesso de oferta, as escalas podem ser reduzidas para evitar excedentes no estoque.

Foto: Getty Images

Influência na oferta e demanda de animais: A programação das escalas de abate tem impacto direto na oferta de animais para abate. Produtores que planejam suas atividades de acordo com essas escalas podem ajustar a carga do gado para atender às demandas do mercado. Essa sincronização entre produção e demanda é crucial para evitar desequilíbrios que poderiam levar a quedas nos preços ou excesso de oferta.

Relação com o tempo de engorda: A programação das escalas de abate também está relacionada ao tempo de engorda dos animais. Os produtores precisam considerar o momento ideal para enviar os animais para desconto, atingindo o peso desejado e otimizando a eficiência de conversão alimentar. Essa sincronização contribui para maximizar a rentabilidade da operação.

Planejamento estratégico para produtores: Para os pecuaristas, compreender como escalas de redução são cruciais para o planejamento estratégico. O conhecimento das programações dos frigoríficos permite que os produtores ajustem seus cronogramas de engorda e comercialização, otimizando a eficiência produtiva e buscando melhores condições de preço no mercado.

Volatilidade e estratégias de mitigação de riscos

O mercado de carne bovina é conhecido por sua volatilidade, o que pode inviabilizar a atividade de muitos produtores menos experientes que desconhecem mecanismos estratégicos, como planejar a produção em diferentes momentos de preços. Segundo o analista, “as flutuações de preços no mercado do boi acabam por inviabilizar a atividade a muitos produtores que desconhecem os mecanismos do mercado e como planejar a produção em diferentes momentos de preços, especialmente os recém-adentrados no mundo da produção pecuária ou que tem interesse e possibilidade de se tornarem produtores. Com isso, o mercado tende a se concentrar a grandes produtores e corporações, que invariavelmente ganham poder de barganha.”

Hoje, falando especificamente sobre risco de preços, há os mecanismos de proteção através de papeis de derivativos na Bolsa de Valores. Em cenários de grandes variações de preços, tornam-se muito vantajosos por proteger movimentos que vão na direção do risco do produtor. É um mundo que está sendo descoberto pelos produtores e tende a se popularizar nos próximos anos”, acrescentou Itagiba.

mercado do boi
Foto: Divulgação

Estratégias de mitigação de riscos com derivativos na Bolsa de Valores

Para enfrentar essas flutuações e proteger suas operações contra potenciais perdas financeiras, muitos pecuaristas estão adotando estratégias de mitigação de riscos que envolvem o uso de derivativos na Bolsa de Valores, veja:

Contratos futuros: Os contratos futuros são uma ferramenta comum no mercado de commodities, incluindo o mercado de carne bovina. Esses contratos permitem que os produtores fixem o preço futuro da venda de sua produção, garantindo uma receita previsível, independentemente das variações no mercado. Por exemplo, um produtor pode assinar um contrato futuro para vender uma determinada quantidade de arrobas de boi a um preço acordado, protegendo-se contra possíveis quedas nos preços.

Contratos de opções: As opções são outra forma de derivativos amplamente utilizadas para gerenciamento de riscos. Um produtor pode adquirir opções de compra ou venda que lhe deem o direito, mas não a obrigação, de comprar ou vender uma determinada quantidade de carne bovina a um preço predeterminado em um dado futuro. Isso proporciona flexibilidade aos produtores, permitindo-lhes tirar proveito de movimentos projetados no mercado enquanto limitam as perdas em caso de movimentos desfavoráveis.

Swaps: Os swaps são contratos comerciais em que duas partes concordam em trocar pagamentos, geralmente para proteção contra riscos específicos. No contexto pecuário, os produtores podem considerar swaps para proteger-se contra flutuações nas taxas de juros ou nos preços dos insumos, elementos que também desempenham um papel crucial na rentabilidade.

O uso de derivativos na Bolsa de Valores oferece aos produtores de carne bovina no Brasil ferramentas valiosas para gerenciamento e mitigar os riscos associados à volatilidade do mercado, proporcionando maior estabilidade financeira e previsibilidade em um setor conhecido por sua complexidade.

Perspectivas futuras do mercado do boi

Quanto às tendências futuras, Matheus projeta um curto prazo de preços lateralizados, sem grandes variações. “No curtíssimo prazo, ou seja, no próximo mês, a perspectiva é de preços lateralizados, sem grandes variações. Precisamos olhar os riscos nos dois sentidos para o médio prazo”, disse. No entanto, alerta para possíveis fatores de alta nos valores das rações: “Pode ser um fator de alta os preços das rações, especialmente do milho e do farelo, que estão subindo e podem escalar ainda mais, principalmente do milho, caso a área plantada na segunda safra (de 2024) caia drasticamente”, mencionou o especialista. A melhoria do consumo nas festas de fim de ano também pode ser um fator de suporte. Apesar disso, as escalas de desconto são um contraponto, podendo impedir que os preços acompanhem os custos dos insumos.

Mercado do boi. Imagem: Divulgação

Importância das escalas de desconto

Entender como essas escalas funcionam é crucial para os pecuaristas que buscam otimizar seus retornos financeiros em um ambiente de mercado dinâmico e muitas vezes desafiador. Vamos explorar mais sobre as escalas de desconto:

Definição de escalas de desconto: As escalas de desconto referem-se a uma prática comum na indústria da carne bovina em que os preços pagos pelo gado são ajustados com base em diferentes critérios, como o peso do animal, qualidade da carne, idade e outros fatores. Em geral, os compradores estabelecem faixas de peso ou categorias de qualidade, e os produtores podem receber descontos ou prêmios com base na categoria em que o animal se enquadra.

Peso do animal: A escala de desconto mais comum está relacionada ao peso do animal. Geralmente, há diferentes faixas de peso condicional, e o preço pago por arroba pode diminuir à medida que o peso do animal aumenta ou diminui nessas faixas. Isso reflete a eficiência do abate e do processamento, com animais fora das faixas desejadas, podendo resultar em custos adicionais ou rendimentos menores.

Qualidade da carne: Além do peso, a qualidade da carne também pode influenciar as escalas de desconto. Certas características, como marmoreio (infiltração de gordura na carne), cor e textura, podem ser consideradas na determinação do preço final. Animais que atendem a padrões de qualidade específicos podem receber prêmios, enquanto aqueles que não atendem podem receber descontos.

mercado do boi
Foto: Divulgação

Idade e categorias específicas: Em alguns casos, a idade do animal e categorias específicas, como novilhos ou animais de corte especial, podem afetar as escalas de desconto. Certos mercados podem preferir animais mais jovens devido às características de sabor e textura da carne.

Adaptação às preferências do consumidor: As escalas de desconto não refletem apenas fatores operacionais e de processamento, mas também buscam se alinhar às preferências do consumidor. Animais que atendem a padrões específicos de qualidade e características de sabor podem receber prêmios, incentivando os produtores a focarem na produção de carne que atenda às demandas do mercado.

Estratégias para minimizar descontos: Os produtores podem adotar estratégias para minimizar descontos, como a seleção genética, manejo nutricional adequado e práticas de criação que visem atender aos critérios definidos nas escalas. Além disso, o acompanhamento das tendências do mercado e a adaptação às preferências dos compradores são essenciais para melhorar os retornos.

Conselhos para pecuaristas sobre o mercado do boi

Precisamos considerar três fatores quando olhamos para decisões baseadas nas cotações: primeiro, o tempo que o animal ficará retido engordando; segundo, o custo de produção; e terceiro, a finalidade do animal, pois, o custo pode fazer a decisão de compra ou venda de um boi magro, ser diferente de uma novilha, ou de um bezerro” destacou Matheus. O pecuarista deve avaliar cuidadosamente esses elementos para obter uma perspectiva sólida de retorno, especialmente em negócios de curto prazo. A consideração do tempo de engorda, custo de produção e insumos, juntamente com a análise da particularidade do animal, são fundamentais para decisões de compra ou venda.

Mercado do boi. Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução*

Como o fazer

Consideração do tempo de engorda: O tempo de engorda é um fator crítico na produção de bovinos, influenciando diretamente a qualidade da carne e os custos associados. Os pecuaristas precisam avaliar cuidadosamente a raça do animal, a dieta e o manejo para determinar o período ideal de engorda. Além disso, é essencial considerar as condições climáticas, que podem afetar o ganho de peso. Estratégias eficazes de gestão do tempo de engorda envolvem o acompanhamento regular do desenvolvimento dos animais e ajustes na dieta conforme necessário.

Custo de produção e insumos: A análise do custo de produção é uma parte fundamental da tomada de decisão para os pecuaristas. Isso inclui avaliar os custos associados à alimentação, medicamentos, mão de obra e infraestrutura. A variação nos preços dos insumos, como grãos para ração, afeta diretamente os custos de produção. Os pecuaristas devem buscar estratégias, como negociação de preços e adoção de práticas sustentáveis, para manter os custos sob controle.

Análise da particularidade do animal: Cada animal é único, e essa particularidade pode ter um impacto significativo nas decisões de compra e venda. A idade, o peso, a saúde e a genética são aspectos essenciais a serem considerados. Por exemplo, um boi magro pode ter um tempo de engorda mais curto, mas um custo inicial mais baixo. Por outro lado, um boi mais pesado pode exigir mais tempo e recursos, mas pode resultar em uma melhor margem de lucro. A compreensão da particularidade de cada bicho permite que os pecuaristas tomem decisões mais informadas, alinhadas com seus objetivos e condições específicas de produção.

Conclusão

Portanto, em resumo, avaliar o tempo de engorda, custo de produção e insumos e a finalidade do animal. Com isso, o pecuarista consegue ter uma boa perspectiva do retorno que ele terá, especialmente para negócios de curto prazo“, concluiu o Eng. Agrônomo e Analista da Pátria Agronegócios.

O cenário dos preços do boi no Brasil é complexo e influenciado por uma série de fatores. A estabilidade recente, após um período volátil, e as perspectivas futuras destacam a importância de uma abordagem estratégica por parte dos pecuaristas. A Compre Rural, juntamente com profissionais como Matheus Itagiba, continua a acompanhar de perto essas tendências, fornecendo insights valiosos para os agentes do agronegócio brasileiro.

Escrito por Compre Rural.

VEJA TAMBÉM:

ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Juliana Freire sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias

Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM