Fazendeiro vende gado para investir em abelhas: ‘dá um bom dinheiro’

Em 2022, o Brasil exportou 55 mil toneladas de mel, de acordo com o IBGE. Os Estados Unidos são os maiores consumidores de mel brasileiro e importaram 28 mil toneladas do produto no ano passado. 

Nos anos 2000, Adriano Adames decidiu vender todo o gado que tinha. Era uma decisão arriscada. A família de agropecuaristas achou “meio doido” e ficou ainda mais surpresa com o motivo dele para a venda. “A partir de agora, decida que vou trabalhar com compostos”, avisou Adriano.

O apicultor é uma figura peculiar: diz ter sido garimpeiro no Norte e, além de criar gado, foi mergulhador de cavernas. O primeiro encontro com as abelhas teria sido em um mergulho, no qual encontrou um enxame secreto em uma gruta. “Me fascina o esquema de trabalho delas”, disse.

A decisão era atípica, mas o ramo tinha futuro.

Em 2022, o Brasil exportou 55 mil toneladas de mel, de acordo com o IBGE. Os Estados Unidos são os maiores consumidores de mel brasileiro e importaram 28 mil toneladas do produto no ano passado. Apesar dos bons índices, o trabalho com abelhas fazia parte de um ramo incomum naquele Mato Grosso do Sul da época.

Adriano encontrou uma colmeia próxima de uma cachoeira na fazenda da qual é proprietário na cidade de Bodoquena, também no Mato Grosso do Sul. Ele notou que os turistas se interessavam em vê-las perguntavam se havia mel para comprar. Assim, decidiu deixar o gado para trás.

Além do mel, o dinheiro do gado foi investido na produção de caixas usadas para agrupar as compostas, de embalagens com bisnaga, e de própolis — além da venda de colmeias já produtivas. Hoje, uma única caixa de colmeia custa de R$ 600 a R$ 700 . “Dá um bom dinheiro”, diz.

O valor médio do mel exportado pelo Brasil, em 2022, foi de 3 dólares o quilo, equivalente a R$ 17, segundo a Associação Brasileira de Exportadores de Mel. De acordo com o IBGE, só as vendas no Brasil movimentaram mais de R$ 800 mil em 2021. Adriano, por exemplo, exporta sua produção para o Canadá.

A confecção e venda de roupas de apicultura foi outra forma de ganhar dinheiro. O uniforme é feito com várias camadas de tecido, cobre da cabeça aos pés, tem uma tela de proteção para os olhos e, claro, luvas acolchoadas para evitar picadas. Pela internet, o uniforme pode chegar a até R$ 600.

As abelhas são fundamentais para a polinização. Das mais de 308 mil espécies de plantas conhecidas, 87% dependem do intermediário de outro ser vivo para a reprodução. Aves, morcegos e insetos como moscas polinizam, mas as abelhas são os polinizadores mais eficientes por se alimentarem só de néctar e pólen. Devido ao cardápio, o mel adquire sabores diferenciados de acordo com as flores polinizadas — por exemplo, sabor de frutas cítricas ou com notas florais.

Apesar de exigirem cuidado para a proteção do mel, pois as abelhas possuem uma organização própria rígida. São divididos entre a rainha, a reprodutora e líder da colmeia, o macho reprodutor chamado zangão e as classes operárias, divididos entre sentinelas, campeiras, cozinheiras e faxineiras.

Mas é uma realidade em risco. No mundo, as abelhas estão desaparecendo devido ao plantio de soja, de milho e de outras monoculturas que ocupam grandes áreas onde existiam mata e animais nativos.

Quando começou a trabalhar com compostos, vi a preservação em primeiro lugar. Adriano Adames

Após comunicar a família sobre a venda do gado, Adriano continuidade pela América do Sul com um portunhol respeitável para estudar e, também, para dar aulas sobre a importância das abelhas e como criá-las. No fim das contas, acredita ter feito um bom negócio. “Me encontrei como ser humano quando encontrei a abelha. Por elas, dei uma reviravolta da qual eu amo”, diz.

Escrito por Marcos Candido,
De Ecoa, em Campo Grande (MS)
Publicado via UOL

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