Inédito no país: Bahia terá cadeia produtiva de jumentos para atender a China

O abate busca atender demanda pelo couro do animal, do qual é extraída substância gelatinosa usada para produzir o ejiao, remédio tradicional chinês

De Vitória da Conquista (BA) @mariobtagro

A pecuária brasileira ganhará, em breve, mais um ramo econômico: a cadeia produtiva dos jumentos, que, de forma inédita no país, será implantada na Bahia para atender a demanda da China pela carne e couro do animal que é símbolo do Nordeste.

A informação foi passada com exclusividade ao Blog do Mário Bittencourt, na noite desta sexta-feira (8), pelo diretor-geral da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), Maurício Bacelar, durante uma live no Instagram do blog.

O tema da live foi a volta do abate de jumentos no estado, o que ocorreu no início deste ano, após a União conseguir derrubar na Justiça a liminar que proibia o abate dos animais, devido aos vários casos de maus-tratos, com centenas de mortes.

Maurício Bacelar informou que “a Adab, antes de liberar o retorno de abate, fez um estudo detalhado, durante meses, junto com técnicos do Ministério da Agricultura, para elaborar uma portaria, para que pudesse, definitivamente, estabelecer uma cadeia de pecuária de jumentos ou asininos no nosso estado”.

Lembrou que já existem cadeias produtivas para diversos segmentos, como bovinos, caprinos, ovinos, para produção de carne, leite e lã, e que os equinos foram criados para o esporte, lazer ou trabalho no campo, “mas o jumento sempre foi o pobre coitado do campo”.

“Nunca se estabeleceu uma pecuária dos jumentos. Com o passar do tempo, o homem começou a utilizar a moto, não tem mais o fogão de lenha, já não se carrega mais água no lombo dos jumentos, e o jumento perdeu o seu uso. Vemos muitos jumentos sendo abandonados nas estradas, em campos. Entendemos que uma cadeia produtiva se estabelece a partir da indústria. Quando o produtor tem a certeza de onde colocar a produção dele, aí se estabelece a cadeia”, disse Maurício Bacelar.

Atualmente, os abates ocorrem no frigorífico da Frinordeste, na cidade de Amargosa, o primeiro a iniciar os abates desses animais, em 2017. Antes da proibição, outros dois frigoríficos abatiam jumentos, um em Simões Filho e outro em Itapetinga.

De acordo com Maurício Barcelar, há um frigorífico na cidade de Vitória da Conquista (sudoeste do estado) já habilitado para fazer os abates, os quais podem ser iniciados a qualquer momento. O nome do frigorífico não foi revelado.

O abate dos jumentos busca atender uma demanda da China pelo couro do animal, do qual é extraída uma substância gelatinosa usada para produzir o ejiao, remédio tradicional chinês que promete combater o envelhecimento, aumentar a libido nas mulheres e reduzir doenças do órgão reprodutor feminino.

Veja a íntegra da live com o diretor-geral da Adab:

Na segunda hora da live, o blog conversou com a coordenadora da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos, advogada Gislane Brandão, de Salvador, e com o advogado Yuri Fernandes, de São Paulo e representante da mesma entidade.

“Não tem cabimento, uma pessoa que fala pelo governo e não sabe a quantidade de jumentos, como ele garante que não vai ter extinção dos jumentos”, questiona Gislane Brandão, para quem os animais devem ser levados para santuários. “Boa parte da população ainda aceita o abate de outros animais, mas não aceita o abate de jumentos”, frisou.

O advogado Yuri Fernandes, por sua vez, disse que “o Estado tem obrigação de proteger os animais, está na Constituição”. Fernandes declarou que as pessoas não são contra o abate devido a sentimentalismos, elas fazem sua argumentação com base em estudos científicos. “A população de jumentos do mundo todo já declinou, já são 19 países que proibiram os abates”, disse o advogado.

Abaixo, a íntegra da live com Gislane Brandão e Yuri Fernandes:

A veterinária Vânia Plaza, do Fórum Animal, também fez críticas ao abate dos jumentos na terceira hora da live. Para ela, a criação de uma cadeia produtiva de jumentos no Brasil é inviável.

“O maior problema de todos é que a gente tem uma cadeia envolvida nesse risco: temos problemas com o bem-estar dos animais; há problemas graves nessa invenção da cadeia produtiva, toda a parte de saúde humana; e a saúde ambiental, que a gente chama de saúde única”, disse.

Confira a íntegra da live com a veterinária Vânia Plaza:

Fonte: Canal Rural

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