Inep culpa Bolsonaro por “demonização do agro” na prova do Enem

Presidente do Inep diz que Enem ‘não demoniza o agronegócio’; O edital que selecionou os elaboradores para da prova do Enem 2023 foi feito em 2020, durante o governo Bolsonaro, justificou o Inep

O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Manuel Palácios, afirmou nesta quarta-feira, 8, que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não demoniza o agronegócio e defendeu o instituto das acusações de viés ideológico na prova. De todas as questões que caíram no primeiro dia do Enem 2023, 86% foram elaboradas durante o governo Jair Bolsonaro (PL)

Palácios foram chamados à comissão de educação da casa para falar sobre o exame, alvo de ataques de políticos de direita e da bancada ruralista. Essa é a primeira edição do Enem sob este mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A prova continua no próximo domingo (12). No domingo, 5, questões que citavam a competitividade e o agronegócio foram alvo de fortes críticas por especialistas, que viram “viés doutrinário” e “esquerdismo raso” nas perguntas. A Frente Parlamentar da Agropecuária quer a anulação das questões da prova.

O debate ocorreu na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados por acordo, sem aprovação dos requerimentos pedindo o comparecimento de Palácios. O presidente da comissão, Moses Rodrigues (União-CE), informou que houve acordo para o comparecimento do ministro da Educação, Camilo Santana, a uma audiência pública conjunta das comissões de Educação; de Fiscalização Financeira e Controle; e de Agriculgura, no próximo dia 22, para tratar do mesmo tema.

Questões sobre agronegócio foram elaboradas na gestão de Bolsonaro, afirma o Inep

As questões do Enem são produzidas por professores universitários a partir de editais modificados pelo governo. Ainda passam por um longo processo de revisão e validação de uma comissão. Professores da educação básica e universitários selecionados por meio de chamada pública elaboram os itens da prova, lembrou Palácios.

Ele também afirmou que não há interferência do governo na prova. Segundo o presidente do Inep, as questões que constam no Enem deste ano foram produzidas ainda na gestão Jair Bolsonaro (PL). O governo Bolsonaro fez o edital que selecionou os elaboradores para o Enem 2023 em 2020.

“Nós estamos falando de professores que foram selecionados em 2020 e que estão exercendo essa atividade até hoje. Se há algum tipo de seleção enviesada, ela vem sendo enviesada há muito tempo”, disse o presidente do Inep. “Na verdade, não há nada além da seleção pública de profissionais da educação por meio de critérios objetivos de currículo”, reforçou.

deputado Sargento Gonçalves (PL-RN) criticou a questão do Enem que abordou fatores negativos do agronegócio no Cerrado, mencionando, por exemplo, a “superexploração” dos trabalhadores e as “chuvas de veneno” (em referência ao uso de agrotóxicos). Ele criticou o elaborador da questão: “Com propósito puramente ideológico, ele impõe ao candidato daquele certame ou que pense igual a ele, que elaborou a prova, ou perca aquela questão.” 

Já o deputado Zucco (Republicanos-RS) afirmou em fala que “o governo transformou o Enem numa prova doutrinária sobre racismo, feminismo, ditadura militar e violência de gênero”. O parlamentar, defensor do agronegócio, criticou a citação de autores de esquerda na prova. Ele também disse que a prova não é equilibrada com a citação de autores conservadores.

Defesa do Inep

Ele ressaltou, na Câmara, que “a resposta correta não depende de opinião” e tem relação com a avaliação de habilidades cognitivas. Disse ainda que os textos escolhidos pelos modificados são extraídos de fontes legítimas e reconhecidas pela comunidade científica e que a composição das equipes de elaboração é feita com critérios públicos.

Inep - Enem
Presidente do Inep Manuel Fernando PalaciosFoto: Waldemir Barreto/Agência Senado

Palácios também defendeu, mais uma vez, a pluralidade da prova e a normalidade de que os temas do exame causam controvérsia. “Ciências humanas lidam com problemas da sociedade, então tendem a ser mais provocadores do que outros temas”, diz. “[Há] trechos que são claramente liberais e estão presentes na prova, mas também não é questão que importe”.

Sobre as acusações de que a prova teria sido usada para atacar o agronegócio, Palácios disse que não houve esse objetivo e insistiu que o foco é avaliar habilidades cognitivas de compreensão. “É claro que o Enem não demoniza o agronegócio, é claro o Inep não demoniza o agronegócio, é claro que todos registramos a imensa importância do agronegócio para o país. Mas isso não precisa ser aqui, é um tanto óbvio e não parece ser um tema relevante nessa discussão”, disse.

Os itens do Enem são elaborados por professores de fora do Ministério da Educação (MEC) e depois pré-testados para ver se são eficientes para compor a avaliação. Por meio de chamada pública, o Inep constitui um grupo de colaboradoresm que formula as perguntas que vão compor o Banco Nacional de Itens (BNI). O BNI é utilizado na confecção de diversas avaliações do Inep e não apenas do Enem.

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