Inmet revela cenário de extremos, com previsão de La Niña e impacto direto nas lavouras

Boletim Agroclimatológico do Inmet revela cenário de extremos, com previsão de La Niña e impacto direto nas lavouras e pastagens entre outubro e dezembro

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) divulgou o Boletim Agroclimatológico de outubro de 2025, apontando um cenário de fortes contrastes climáticos no país. Enquanto o Sul e parte do Sudeste devem registrar excedentes hídricos e temperaturas acima da média, o Nordeste e o Centro-Oeste enfrentam déficit de chuvas, altas temperaturas e risco elevado de seca. O relatório também confirma a instalação do fenômeno La Niña, segundo a NOAA e o Instituto Internacional de Pesquisa em Clima (IRI), com 60% de probabilidade de persistir até o fim do ano.

Setembro de contrastes: calor extremo e chuvas localizadas

Durante setembro, o oeste da Região Norte e partes do Sul registraram acumulados acima de 150 mm, enquanto o interior do Nordeste, Centro-Oeste e áreas de Minas Gerais e Goiás tiveram volumes inferiores a 40 mm, com níveis de água no solo abaixo de 25%. No Piauí, Bahia e norte de Minas Gerais, o índice chegou a menos de 5%, comprometendo culturas temporárias e a manutenção de pastagens.

No Sul, o Rio Grande do Sul registrou volumes excepcionais, com São Luiz Gonzaga e São Borja superando os 300 mm. Já no Centro-Oeste, a seca predominou, mas Cotriguaçú (MT) teve 127,2 mm e Sete Quedas (MS) registrou 84,2 mm, favorecendo o início da semeadura da soja. No Sudeste, os maiores acumulados ocorreram no Espírito Santo e Rio de Janeiro, com Santa Teresa (181,4 mm) e Alto da Boa Vista (116,4 mm).

As temperaturas máximas ultrapassaram 36 °C no centro-norte do país e chegaram a 38,5 °C em Porto Nacional (TO) e 38,4 °C em Rondonópolis (MT), configurando ondas de calor que pressionaram o solo e elevaram o risco de incêndios florestais. Em contrapartida, o Sul teve mínimas inferiores a 8 °C em localidades serranas como São José dos Ausentes (RS) e São Joaquim (SC).

Prognóstico: La Niña e seus impactos no agro brasileiro

O boletim indica que o trimestre outubro-novembro-dezembro (OND) será marcado por anomalias climáticas regionais. O modelo multi-institucional (Inmet, INPE e Funceme) prevê chuvas abaixo da média no Pará, norte do Tocantins, Maranhão, Piauí e Bahia, enquanto acima da média no Sul, Sudeste e partes do Acre e Amazonas.

Na Região Norte, os maiores déficits hídricos devem atingir o Amapá, norte do Pará e Roraima, com reduções superiores a 130 mm, podendo comprometer sistemas agroflorestais e pastagens. Em dezembro, a tendência é de recuperação hídrica no oeste e sul da Amazônia, beneficiando agricultura familiar e culturas perenes.

O Nordeste continuará sob forte pressão hídrica. A previsão aponta chuvas abaixo da média em grande parte do Piauí e Maranhão, com déficits superiores a 130 mm, limitando o desenvolvimento de lavouras de sequeiro. Já o leste da região, incluindo Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, deve receber chuvas acima da média, favorecendo milho e feijão da primeira safra.

No Centro-Oeste, as chuvas retornam de forma irregular. O início de outubro será seco, com baixos níveis de umidade, mas a recuperação deve ocorrer em novembro, atingindo 80% de capacidade hídrica em dezembro. Ainda assim, o déficit superior a 100 mm no sudoeste do Mato Grosso pode impactar milho, algodão e pastagens, com risco elevado de incêndios.

Sudeste e Sul: excesso de umidade e riscos de atraso no plantio

O Sudeste deve registrar chuvas acima da média em Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, com recuperação gradual da umidade no solo a partir de novembro. A regularização das chuvas favorece o plantio da soja e do milho primeira safra, mas o excesso hídrico em dezembro pode atrasar colheitas e comprometer o preparo do solo.

Na Região Sul, a umidade deve permanecer acima de 80% durante todo o trimestre, com excedentes superiores a 150 mm no Paraná, oeste de Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul. Essa condição é positiva para trigo, aveia e cevada, mas pode atrasar a semeadura das culturas de verão, especialmente soja e milho 1ª safra.

Condições oceânicas e formação da La Niña

O Inmet confirma que as águas do Pacífico Equatorial apresentaram anomalias negativas de –0,4 °C na região Niño 3.4, indicando o início do fenômeno La Niña. Segundo a NOAA, o evento foi oficialmente declarado em 9 de outubro, com 60% de probabilidade de persistir até o fim de 2025 e 50% até fevereiro de 2026. O La Niña tende a aumentar as chuvas no Sul e reduzir precipitações no Norte e Nordeste, reforçando a necessidade de planejamento hídrico e prevenção de perdas agrícolas.

Impactos diretos para o agro brasileiro

Com a confirmação da La Niña e o avanço da estação chuvosa de forma desigual, o setor agropecuário brasileiro deve se preparar para um cenário de extremos:

  • Risco de seca prolongada em Tocantins, Maranhão, Piauí e Bahia;
  • Alta probabilidade de enchentes e alagamentos em áreas do Sul e Sudeste;
  • Maior risco de incêndios florestais em áreas do Cerrado e norte do Pantanal;
  • Desafios para o plantio da soja devido à irregularidade das chuvas iniciais;
  • Benefício às culturas de inverno e recuperação das pastagens no Sul.

O Inmet reforça que o monitoramento constante e o uso de informações meteorológicas são fundamentais para reduzir perdas e otimizar decisões no campo. O boletim completo pode ser consultado no portal oficial do Instituto (portal.inmet.gov.br).

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