Inovação: conheça as técnicas de captação de Água no Nordeste

A vitalidade da pecuária e da agricultura está intrinsecamente ligada a um recurso natural imprescindível: a água. Nesse contexto, as pesquisas têm inovado e consolidado técnicas avançadas de captação e armazenamento hídrico na região Nordeste.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem se dedicado incansavelmente em benefício dos produtores do Sertão nordestino. Esta região já abriga mais de 30 milhões de cabeças de bovinos. A Embrapa Semiárido celebra em 2023 seus 50 anos de intensa pesquisa, consolidando-se como uma das mais antigas e ativas unidades no Brasil. Mais de 70 pesquisadores dedicam-se incansavelmente à busca por tecnologias e ferramentas que aprimorem a qualidade de vida da população nordestina.

O foco inicial recai sobre as técnicas inovadoras de captação e armazenamento de água, seguidas pelo desenvolvimento de alternativas alimentares adaptadas à caatinga e pela integração eficiente entre os sistemas de produção. Este arranjo produtivo distinto destaca-se como uma abordagem singular em relação ao restante do Brasil.

A importância da captação e armazenamento de água na Caatinga

Significando “mata ou floresta branca” em tupi-guarani, a caatinga revela um relevo acidentado, esculpido ao longo de milênios, em uma das regiões mais áridas e quentes do planeta. Lá, aproximadamente nove meses por ano se passam sem que uma única gota d’água alcance o solo, desafiando a tenacidade dos habitantes e exigindo soluções inovadoras.

Em um ciclo pluvioso caracterizado pela regularidade, por vezes sem atingir sequer os 300 milímetros anuais, e em anos de escassez, o solo revela-se predominantemente raso e pedregoso. Essa topografia dificulta a retenção hídrica, transformando a paisagem em um desafio para a vida vegetal. Entre arbustos retorcidos e cactos espinhosos, como o xique-xique e o Mandacaru, que se tornaram emblemas desse local brasileiro peculiar, a caatinga se destaca como um bioma singular e exclusivo do Brasil.

Esta região única no mundo apresenta uma riqueza de vegetação e fauna muito além das demais regiões semiáridas globais, abarcando aproximadamente 11% do território nacional e dominando 70% do Nordeste brasileiro. Diante da majestosa presença do Rio São Francisco, com seus quase 3 mil quilômetros de extensão e influência sobre mais de 500 municípios em cinco estados, incluindo Bahia, Pernambuco e Sergipe, por vezes nos esquecemos do desafio crucial enfrentado pelo Nordeste: a escassez de água.

Nesse contexto, a problemática vai além da ausência de chuvas, tão escassas e concentradas em curtos períodos. A realidade do Sertão brasileiro destaca-se pela falta de infraestrutura para o armazenamento dessa água, tornando a vida no sertão não apenas um desafio, mas uma verdadeira proeza, especialmente quando se trata da produção de alimentos. É nesse cenário desafiador que a Embrapa Semiárido assume um papel crucial.

Em 1975, a Embrapa iniciou suas primeiras formações de unidades, e desde então, assumiu a missão dedicada de trabalhar incisivamente no semiárido. O propósito que norteia essa instituição é o desenvolvimento sustentável dessa região, buscando alinhar as atividades econômicas locais com as potencialidades dos recursos naturais. Ao longo do tempo, essa missão persistiu como um desafio constante, e olhando para o futuro, vislumbra-se um horizonte complexo, dada a vasta diversidade de atividades no semiárido.

A jornada da Embrapa tem sido marcada por esforços contínuos para abordar as diversas facetas dinâmicas do semiárido em suas atividades de pesquisa. Isso implica, naturalmente, a busca por parcerias que fortaleçam o compromisso da instituição em promover o desenvolvimento desses Estados. O desafio central enfrentado é tornar a água disponível nos três meses do ano capaz de ser captada, armazenada e utilizada de maneira racional para impulsionar as atividades agrícolas. Se isso já se configura como um desafio para a agricultura, torna-se ainda mais complexo para a pecuária, onde produzir alimentos não é apenas uma escolha, mas a única via para garantir produtividade.

Forrageiras adaptadas à seca no Nordeste

A pesquisa conduzida pela Embrapa visa diversificar as forrageiras disponíveis para os produtores, introduzindo gramíneas mais resilientes à seca, como o buffel. Alternativas como a glicídia, uma leguminosa rica em proteína, e a Palma forrageira, que contribui com energia e água, são exploradas para compor sistemas integrados de produção de alimentos no semiárido. A Palma, em particular, desempenha um papel vital nas bacias leiteiras, sendo uma fonte fundamental de alimentação devido à sua resistência à seca, alta produtividade e riqueza em energia, magnésio e cálcio. É uma peça crucial no puzzle do desenvolvimento sustentável do semiárido.

Bovinos comendo palma forrageira direto no cocho. Foto: Divulgação

Solução

Desenvolvendo os animais, a Palma apresenta uma composição que inclui cerca de 85 a 90% de água, o que a torna crucial no contexto do semiárido. Essa característica é potencializada quando combinada com o teor de proteína elevado da glicemia. A glicemia, quando transformada em silagem com ramos, alcança um teor de proteína bruta entre 18% e 20%, proporcionando uma combinação ideal de nutrientes para os animais. A união entre a alta energia da Palma e a proteína da glicemia forma uma espécie de “arroz e feijão perfeito” para atender às necessidades alimentares dos animais.

Paralelamente, a ciência se empenha em preservar e multiplicar um núcleo genético diferenciado da raça Cindy, reconhecida por sua rusticidade e dupla aptidão, adaptando-se eficientemente às condições do Sertão. A raça Sindi, com sua resistência à seca, torna-se altamente desejável em uma região caracterizada por déficit hídrico e períodos prolongados de seca. Integrando-se a outras tecnologias, como o manejo de forragens e pastagens adaptadas, busca-se atender às demandas dos produtores e à diversidade do nordeste brasileiro.

O desafio se amplia diante da pluralidade da Caatinga, com suas distintas tonalidades de solo, clima, arranjos produtivos e vegetação. A pesquisa se propõe a trabalhar dentro do conceito de territórios, explorando áreas de altitude e regiões mais próximas do Agreste, que ainda desfrutam de uma precipitação pluvial mais significativa. Ao considerar a diversidade do semiárido, busca-se criar estratégias adaptadas às diferentes realidades, promovendo o desenvolvimento sustentável em meio a um contexto tão multifacetado.

Nesse espaço do Agreste, situado na fronteira entre o Sertão e o Agreste, observa-se uma próspera exploração na cultura leiteira, uma atividade competitiva que deu origem a diversas empresas robustas no país. Essas empresas têm desempenhado um papel crucial no desenvolvimento de produtos lácteos e na consolidação de sólidas bacias leiteiras em vários estados do Nordeste, como Sergipe, Alagoas e Pernambuco. Ao longo do tempo, essas bacias leiteiras tornaram-se pilares econômicos em diversos municípios, constituindo uma cadeia produtiva consolidada.

água
Bovinos de corte em área de pasto. Foto: Reprodução

Estratégias

Diante desse cenário, busca-se estender essas práticas para as regiões de depressão sertaneja, caracterizadas pela oferta mínima de água. Contudo, essas regiões apresentam elementos que permitem a adoção de estratégias para reduzir o risco de perda de safra. Os produtores, ao invés de dependerem exclusivamente de tecnologias isoladas, podem adotar abordagens integradas. Isso inclui a combinação de técnicas de captação e uso de água de chuva com estratégias eficazes de conservação do solo.

Essas estratégias visam manter a umidade próxima às plantas, permitindo o cultivo de variedades mais tolerantes às condições adversas, exigindo menor quantidade de água para o crescimento e produção. Simultaneamente, busca-se conciliar esse conjunto de atividades, permitindo que o produtor diversifique suas fontes de renda ao longo do tempo. Essa abordagem integrada possibilita a coexistência de práticas agrícolas, pecuárias, extrativistas e outras formas de aproveitamento, criando uma cristalização local que fortalece a resiliência econômica da propriedade frente às frequentes adversidades climáticas.

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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