Investidores estão confiantes que Brasil seguirá no rumo após eleições

Lula tem criticado as políticas de Bolsonaro, mas ambos prometem programas de bem-estar social generosos e regras orçamentárias mais flexíveis.

 A eleição presidencial no Brasil se aproxima com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na liderança para substituir o atual presidente de direita e acabar com a regra fiscal mais importante da 10ª maior economia do mundo, mas investidores estrangeiros estão, num geral, despreocupados.

Sua perspectiva equilibrada para o Brasil, onde o real e o Ibovespa acumulam alta neste ano, reflete a confiança de que mesmo uma eleição altamente polarizada não arruinará o status de relativo porto seguro da maior economia da América Latina.

As pesquisas sugerem que Lula vencerá o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de outubro, possivelmente já no primeiro turno de domingo, e tomará posse em janeiro.

“Temos uma visão de médio prazo amplamente positiva sobre as oportunidades de investimento no Brasil”, disse Amer Bisat, chefe de renda fixa de mercados emergentes da BlackRock, apontando para uma combinação atraente de fortes lucros corporativos, um sistema financeiro saudável, além de amplas reservas estrangeiras e superávit em conta corrente graças às fortes exportações de commodities.

Lula tem criticado as políticas de Bolsonaro, mas ambos prometem programas de bem-estar social generosos e regras orçamentárias mais flexíveis.

Lula gastou pesadamente em programas de auxílio em seu primeiro mandato, já que um Orçamento inflado por um “boom” de commodities lhe deu espaço de manobra. Desta vez, ele terá menos folga e já prometeu acabar com o teto de gastos.

Yerlan Syzdykov, chefe de mercados emergentes da Amundi, disse em um evento recente que seria preocupante ver Lula não respeitar a atual âncora fiscal do Brasil. “Mas, durante os últimos dois anos, nem Bolsonaro respeitou, então isso não é algo que choca os investidores.”

Ele disse que o histórico de Lula na política econômica significa que qualquer mudança de regime não seria realmente radical.

O real é uma das poucas moedas de mercados emergentes ganhando no acumulado de 2022 em relação ao dólar, que no exterior está em picos de várias décadas, enquanto os títulos em moeda local e em moeda forte estão entre os de melhor desempenho em sua classe de ativos.

As ações também estão em alta no ano no mercado local e em leve queda quando denominadas em dólar, os bancos têm balanços saudáveis e o mercado de trabalho está em recuperação, enquanto a inflação está caindo graças a altas antecipadas e agressivas da taxa Selic.

“O Banco Central, como instituição independente, provou sua credibilidade por ser um dos primeiros bancos centrais globais a combater a inflação com vigor e determinação”, disse Bisat, da BlackRock.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, cujo mandato vai até 2024 sob uma nova lei que estabelece autonomia formal da autarquia, supervisionou uma série de aumentos de juros bem adiantados em relação ao Federal Reserve, o que ajudou a apoiar o real.

Embora economistas do PT reclamem da recém-conquistada independência do BC, Lula garantiu que pode trabalhar construtivamente com Campos Neto.

“É importante que ele (fique), porque senão qual é o sentido de ter um mandato para o presidente do Banco Central que seja independente do ciclo político?”, disse Graham Stock, estrategista sênior de soberanos emergentes da BlueBay Asset Management, observando a oportunidade para Lula e sua equipe mostrarem que respeitam a independência do BC e o regime de metas de inflação.

No que o Goldman Sachs chamou de “pausa ‘hawkish’ (dura no combate à inflação)”, o Banco Central interrompeu seu ciclo de aperto na semana passada depois de elevar a taxa Selic de uma mínima recorde de 2% no início do ano passado para 13,75%, com a orientação futura sugerindo postura de juros altos por muito tempo.

“Estamos vendo altos rendimentos reais, o que é inédito no mercado no momento”, disse Philip Meier, chefe de dívida de mercados emergentes da Gramercy Funds Management, a investidores, chamando o Brasil de “grande oportunidade” em 2023.

Mesmo com o dólar em pico de 20 anos frente a uma cesta das principais moedas, o real ainda é a moeda flutuante de mercado emergente com melhor desempenho até agora no ano.

Nem todos os investidores estão tão otimistas, e o JPMorgan, que rebaixou a dívida brasileira denominada em moeda estrangeira para “underweight” neste mês, diz que mais vantagens para o país nos mercados de crédito globais podem ser limitadas.

“Incertezas políticas devem persistir antes das eleições de outubro, e a dinâmica fiscal/de dívida continua sendo uma preocupação”, disse Lupin Rahman, chefe de crédito soberano da equipe de gerenciamento de portfólio de mercados emergentes da Pimco.

Investidores ficarão à procura de uma transição política calma. Bolsonaro já preparou o terreno para contestar uma derrota, mas as instituições brasileiras estão se juntando para garantir a integridade do pleito.

Lula pode dificultar a contestação de Bolsonaro se obtiver mais de 50% dos votos válidos no domingo, dispensando a necessidade de um segundo turno em 30 de outubro. Várias pesquisas recentes mostram o petista muito próximo de conseguir a vitória de primeira.

Fonte: Reuters

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