Leite: para onde vão os preços ao produtor?

Preços em queda e o pagamento no início de fevereiro, referente às entregas do mês anterior recuou 4,3% na média nacional, para R$ 2,03/litro.

Os preços do leite pagos aos produtores começaram o ano em queda. O pagamento no início de fevereiro, referente às entregas do mês anterior recuou 4,3% na média nacional, para R$ 2,03/litro, pelos dados do Cepea, mas caiu mais de 7% em GO e SC. Apesar disso, a acomodação foi pequena relativamente à forte alta ocorrida ao longo do segundo semestre do ano passado, de modo que o preço atual da média Brasil foi 48,7% maior sobre jan/20.

O reflexo da melhora dos preços aos produtores de leite geralmente se observa no ritmo de produção, dado que a vaca responde muito rapidamente à melhora na alimentação.

O indicador de captação do Cepea acumulou alta de 2,8% nos últimos dois meses do ano em relação a out/20. Apesar de não parecer muito, foi a maior alta dos últimos 6 anos e poderia ter sido ainda maior não fosse o atraso das
chuvas e a alta do custo da ração.

De fato, quando olhamos a relação de troca entre leite e o milho, fica clara a perda do poder de compra do produtor frente ao cereal, o que não é muito diferente no caso do farelo de soja, o que impacta os sistemas mais intensivos em ração (e que conseguem maiores produtividades), tendo a alimentação concentrada um peso mais elevado no custo de produção desses sistemas

Porém, há uma fração relevante da pecuária leiteira brasileira, tipicamente em pequenas propriedades, que ainda usa menos grãos, produz menos leite por vaca e que acaba sendo menos sensível neste cenário de ração em alta. Pela sazonalidade, a produção de leite no Brasil decresce no início do ano, fazendo as mínimas por volta de maio ou junho, quando o período seco se instala na maior parte do país e antes do início da safra no Sul, que geralmente ajuda a ampliar a produção nacional.

Assim, embora os bons preços do leite atualmente estimulem o produtor, um aumento mais expressivo da oferta (em relação ao ano anterior) depende de maior uso de ração nesses sistemas menos intensivos, o que pode conter o ritmo de produção e seguir mais apoiado no uso das pastagens, que têm boa condição neste época. O problema é que apesar dessas razões sugerirem um ritmo controlado da oferta, o que evita desequilíbrios e quedas de preços ao produtor, o consumo dá sinais de fraqueza, com acomodações ocorrendo na maior partes derivados lácteos, embora muito acima dos níveis de um ano atrás.

As quedas dos preços dos derivados no atacado têm ocorrido primeiramente pelo período do ano, cujo consumo é mais fraco, além da ausência do auxílio emergencial, que dificulta a sustentação dos alto patamares históricos dessas cotações. Os spreads da indústria no leite UHT e na muçarela tiveram seu melhor momento em jun/20, quando os preços dos produtos lácteos reagiram bastante, sem a contrapartida da matéria prima. Porém, na medida em que o preço ao produtor escalou diante da disputa dos laticínios no mercado spot, a partir do início do segundo semestre, os spreads começaram a cair, terminando jan/21 bem mais acomodados. No caso do UHT, voltou a ficar bem abaixo da média desde 2012 e na muçarela muito próximo da média.

A maior necessidade da indústria e os altos preços internos também elevou as importações em 24,4% no ano passado. Segundo cálculos da Embrapa Gado de Leite, somente no segundo semestre, as compras mensais foram em média de 180 milhões de litros de leite equivalente, significando entre 8% e 9% do volume mensal produzido no país. Embora os preços internacionais de referência do leite em pó venham subindo bastante, a matéria prima brasileira, atualmente em USD 0,40/litro está bem superior ao da Argentina e Uruguai, próximos de USD 0,30/litro

O primeiro desafio da cadeia leiteira é a sustentação dos preços no atacado em meio ao cenário de incerteza do sucesso das vacinações e consequentemente da retomada econômica, num contexto de alto desemprego e sem o auxílio emergencial. Diante disso, é de se esperar que uma eventual fraqueza das vendas ao consumidor final possa ser transferida ao produtor. Entretanto, é improvável que essa transmissão de preços ocorra na mesma proporção da queda das cotações no atacado dado que esperamos um crescimento limitado da produção de leite esse ano. Caso isso ocorra, a disputa por leite deve dificultar a ampliação das margens da indústria.

Sob a ótica do produtor de leite, além da possível manutenção dos custos de ração bastante elevados, o desafio – que pode afetar toda a cadeia em médio prazo – é não reduzir o rebanho, dado que a atratividade da @ da vaca para abate está alta relativamente ao preço do leite. A coordenação dos objetivos na cadeia leiteira, que é bastante pulverizada, é sempre difícil mas as lições do passado com os altos e baixos, em geral ruim para todos, são sempre um bom guia. 

Com infomações do Agrolink e do Itaú BBA.

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