Muito além da lã: o verdadeiro motivo por que as ovelhas precisam ser tosquiadas

Mais do que estética, a tosquia é essencial para o bem-estar das ovelhas, prevenindo doenças, facilitando o parto e até melhorando o desempenho produtivo dos animais.

A tosquia das ovelhas é uma prática ancestral, mas continua sendo indispensável na pecuária moderna. Mais do que uma questão de aparência, cortar a lã é uma necessidade vital para o bem-estar, a saúde e a produtividade dos animais. O processo, que deve ser feito com técnica e cuidado, ajuda a evitar doenças, melhora o conforto térmico e garante uma lã de melhor qualidade para o mercado têxtil.

As ovelhas, especialmente as raças selecionadas para produção de lã, produzem uma pelagem densa e contínua, incapaz de cair naturalmente como acontece com os pelos de outros animais. Essa característica, desenvolvida por meio da domesticação e da seleção genética, faz com que a tosquia seja indispensável para evitar o superaquecimento e a proliferação de parasitas.

Durante os meses mais quentes, a lã espessa pode provocar estresse térmico e desconforto, prejudicando o apetite, a fertilidade e até a sobrevivência do rebanho. Além disso, a lã suja e úmida se torna um ambiente ideal para moscas depositarem ovos, originando a miíase, uma infestação por larvas que pode causar feridas graves.

Outro ponto importante é a mobilidade do animal: quando a lã fica emaranhada e pesada, pode limitar seus movimentos e causar lesões na pele. A tosquia também permite que criadores inspecionem melhor o corpo da ovelha, detectando feridas ou infecções precocemente.

A tosquia vai além do conforto, ela tem impacto direto na gestação e no parto das ovelhas. Tosquiar fêmeas prenhes, especialmente na região da virilha e do úbere, facilita o nascimento dos cordeiros e o acesso ao leite materno. Além disso, estudos mostram que cordeiros nascidos de ovelhas tosquiadas tendem a ter maior peso ao nascer e maior taxa de sobrevivência, principalmente em regiões frias ou chuvosas.

Uma ovelha da raça merino com a metade do corpo tosquiado. Foto: Divulgação

Quando a lã é removida antes da parição, as ovelhas procuram abrigos mais protegidos, o que ajuda a evitar partos em áreas expostas ao vento e à chuva. Essa simples prática tem efeitos significativos na saúde e longevidade do rebanho.

Os efeitos positivos da tosquia são amplos e vão além do controle de temperatura. Ovelhas tosquiadas regularmente ganham peso mais facilmente, pois se tornam mais ativas e pastam com mais frequência, livres do peso extra da lã. O manejo também se torna mais fácil: é possível identificar doenças, monitorar o escore corporal e evitar acidentes, como quedas em que a ovelha não consegue se levantar sozinha devido à lã pesada.

A tosquia ainda estimula o crescimento de uma lã nova, limpa e de melhor qualidade, valorizando a produção e mantendo a pele do animal saudável.

Apesar de ser uma prática essencial para a maioria das raças, existem exceções. Algumas ovelhas, conhecidas como “ovelhas de pelo”, são criadas para carne ou leite e não produzem lã em excesso, perdendo naturalmente seus pelos durante o ano.

Já nas raças laníferas, a tosquia é uma arte que exige técnica e sensibilidade. Um manejo brusco pode estressar o animal ou causar cortes acidentais. Por isso, a figura do tosquiador profissional é valorizada no campo, unindo habilidade manual e respeito ao bem-estar animal.

Antes e o depois da ovelha Baarack. Foto: Missão de Edgar / Folheto / Reuters)

Casos emblemáticos mostram o quanto a falta de tosquia pode ser prejudicial. A ovelha Shrek, na Nova Zelândia, ficou seis anos sem ser tosquiada, acumulando 27 kg de lã. Já a ovelha Baarack, na Austrália, teve 35,4 kg de lã removidos após cinco anos sem tosa. Ambas mal conseguiam se mover e corriam risco de vida.

Esses casos mostram que ovelhas domesticadas não conseguem viver sem a intervenção humana, e que o excesso de lã pode causar sérios problemas de saúde, de cegueira e dificuldade de locomoção até infestações parasitárias.

A tosquia é, portanto, um ato de cuidado e manejo essencial que assegura a saúde, o conforto e a produtividade das ovelhas. Ela previne doenças, melhora o desempenho reprodutivo e garante o crescimento de uma lã de qualidade superior.

Mais do que uma simples rotina de criação, a tosquia é um compromisso com o bem-estar animal e a sustentabilidade da pecuária ovina, uma prática que reflete o equilíbrio entre tradição e responsabilidade no campo.

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