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Novas regras podem tirar touros das centrais de inseminação

Criadores manifestam-se contrários à novas diretrizes aprovadas pelo CDT da ABCZ limitando o perfil de touros que podem coletar e comercializar sêmen nas centrais

Recentemente o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) remeteu o Ofício de número 10/2022 ao superintendente técnico da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), Luiz Antônio Josakian. O Ofício pede ao superintendente a revisão dos critérios apresentados pela Associação, pois a Instrução Normativa 13/2020 estabeleceu regras e procedimentos para a inscrição de reprodutores em centros de coleta e processamento de sêmen visando promover ganhos genéticos aos rebanhos nacionais.

O Ofício cita ainda a que há no Brasil a disseminação de material genético comprovadamente inferior, e cria uma série de regras para que os animais possam ingressar em centrais de inseminação, para a coleta de material genético.

Confira algumas regras estabelecidas:

  • Peso à desmama – menor ou igual a Deca: 4;
  • Peso ao ano – menor ou igual a Deca: 6;
  • Peso ao sobreano – menor ou igual a Deca: 5.

As Decas são uma forma de avaliar e agrupar os melhores animais avaliados para aquela característica ou para o Índice ABCZ. Essa é uma forma de classificar os animais de uma maneira mais clara, indicando a avaliação e a visualização dos animais superiores e inferiores.

Um dos motivos para a nova regulação, segundo o Ofício, pode ser atribuído a criadores que não tem feito melhoramento dos seus rebanhos. Confira um dos parágrafos do documento:

– Cabe ressaltar ainda que nem todos os criadores com interesse em comercializar o sêmen de seus reprodutores efetivamente promovem o melhoramento de seus rebanhos. Por isso, aumentar o rigor na aprovação e inscrição de reprodutores em centrais de inseminação visa também evitar a multiplicação deste material genético não melhorado (Ofício de número 10/2022).

Consultado, o médico-veterinário e membro do CJRZ, Antonio Carlos de Souza, considera que a nova determinação é ditatorial, e obriga que os sócios ingressem em programas de avaliação, ou mesmo, de quem deve comprar sêmen, determinando uma reserva de mercado perigosa podendo levar ao insucesso, da qual discorda totalmente.

“O Registro não pode simplesmente ser deixado em segundo plano, nem inferiorizado frente às avaliações. O Registro, bem como o padrão racial é, e deve continuar sendo soberano, e nunca sobreposto por programas de avaliações, seja qual for. Foram os animais selecionados e registrados pela ABCZ que povoou este país e o tornou o maior produtor e exportador de carne do mundo.” – pondera Antonio Carlos.

E finaliza – “O que deve definir um reprodutor como produtor e vendedor de sêmen, sempre é a sua caracterização racial e seu registro definitivo, acompanhado de sua característica produtiva, para o qual pedimos encarecidamente que seja melhor cuidado, melhor executado, seguindo devidamente o padrão de cada raça.

Caso essas regras sejam aprovadas, muitos touros que estão em centrais de inseminação poderão ser descartados, pois não atendem aos requisitos da Instrução Normativa. Inclusive nós consultamos alguns grandes raçadores, pilares da raça no Brasil e eles também poderiam hoje, caso estivessem vivos, serem removidos da lista de “Touros Melhoradores”. Por exemplo: Gabillamu da SC, Gim de Garça, Ludy de Garça, Hanuman da Matinha e dezenas de outros touros.

Usando as novas regras de Deca no GIM de Garça
Gim da Garça
Foto: Estância JM
regua de dep do guim de garca
Avaliação Genética do GIM de Garça, genearca da raça / Fonte: ABCZ

Também consultado, Paulo Leonel, diretor do Grupo Adir, salienta que cabe à ABCZ tomar a decisão final sobre o assunto levantada pelo MAPA, e se diz temerário sobre estas ações, podendo estar beneficiando centrais de inseminação e criadores participantes de programas de melhoramento genético, ferindo a lei de mercado – “Ninguém pode ser excluído de comprar ou vender material genético que escolher utilizar, desde que cumpra as exigências sanitárias impostas pelo MAPA”.

O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Gir (Assogir), William Luiz Ferretti, também manifestou-se contrário a decisão. “Sobre essa deliberação, informo aos amigos Giristas, pois acredito que isto irá prejudicar muito nossos criatórios. Posso dar o meu exemplo, no meu ver Gir dupla aptidão, Indubrasil e Sindi serão muito prejudicados. Em suma, esta decisão impedirá touros sem avaliações serem coletados em central.”

Carta dos criadores

O Ofício gerou grande revolta em dezenas de criadores, selecionadores e profissionais ligados ao setor seletivo da pecuária, que remeteram uma carta, endereçada à Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). O documento manifesta repúdio a votação realizada pela entidade quando avaliza ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento mudanças nas regras de coleta e comercialização de sêmen bovino das raças registradas pela associação.

Ainda segundo os criadores, tal atitude fere de maneira abusiva a liberdade de escolha, cerceia e até denota benefício a um nicho específico de criadores. “Não podemos aceitar que está decisão seja enviada ao MAPA sem que haja relutância e indignação por boa parte dos associados desta casa, pois é imprescindível no processo seletivo o uso de material genético que vez ou outra não estejam dentro da regra que buscam implementar, bem como a liberdade de todo criador, associado ou não, em usar de linhagens importantes que desaparecerão mediante este ato.”

“Não podemos aceitar calados a redução da importância do Registro Genealógico Definitivo (RGD) perante a insistência de valorização de programas de avaliação, que são combatidos com veemência por muitos, pois sua eficácia ainda não esta comprovada, sendo que até mesmo a ABCZ quando da realização de provas de ganho de peso, evita a realização de prova aberta buscando favorecer aos animais avaliados por programas questionáveis.”

Depois das manifestações dos criadores e nosso pedido de posicionamento, a ABCZ, através de sua assessoria, emitiu a seguinte nota:

NOTA OFICIAL DA ABCZ

Em respeito aos interesses dos associados, tenho defendido a todo tempo a prorrogação dessa alteração de critérios para ingresso de touros nas centrais.

Nesta terça-feira (21), conversei pessoalmente com o Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Marcos Montes, e com o Secretário de Defesa Agropecuária do MAPA, José Guilherme, pedindo adiamento desta decisão, que ouviram com atenção e acolheram com boa vontade a reivindicação.

Uma reunião presencial foi agendada entre o presidente do Conselho Deliberativo Técnico (CDT), Marcelo Toledo, com os representantes do Ministério para a próxima sexta-feira (24), da qual deve sair uma nova orientação oficial. A carta foi assinada pelo Presidente da ABCZ, Rivaldo Machado Borges Júnior.

Atualização terça-feira, 28 de julho de 2022.

A Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), emitiu uma Nota Oficial na tarde dessa terça-feira (28), falando sobre a ampliação do prazo para revisão dos critérios para inscrição de reprodutores em centrais. Confira:

Após negociação junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, conseguimos a ampliação do prazo para revisão dos critérios para inscrição de reprodutores em Centrais de Coleta e Processamento de Sêmen. 

Em respeito aos interesses dos associados, enquanto presidente da ABCZ, defendi a todo tempo essa prorrogação e recebi nesta terça-feira (28) sua confirmação por parte do Departamento de Saúde Animal, que atendeu nossa reivindicação.

De acordo com o ofício do MAPA,  o  Conselho Deliberativo Técnico (CDT) terá até o dia 31 de março de 2023 para reavaliar os critérios zoogenético exigidos desses touros. Assim, serão mantidos os critérios até então vigentes para que o assunto tenha tempo hábil para ser avaliado com a devida atenção e esmero técnico pelas comissões das raças.

Aproveito para agradecer publicamente o Ministro Marcos Montes, e o Secretário de Defesa Agropecuária do MAPA, José Guilherme, que nos ouviram com atenção, compreenderam a importância do pleito e acolheram de forma positiva nossa reivindicação.  

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