O consumo alimentar residual como ferramenta para seleção de bovinos

O melhoramento genético é uma ferramenta para o desenvolvimento do rebanho nacional. O mercado exige eficiência na produção e qualidade no produto final.

Não é possível lucrar “esquecendo” o gado no pasto seco e esperar que ele engorde. 

As DEP’s, (diferenças esperadas na progênie), são estudadas há muitos anos e existem diversos programas de melhoramento genético em torno delas. Elas consistem em prever a capacidade de transmissão de genes de um animal para seus descendentes. 

As mais utilizadas são DEP’s para característica produtivas e reprodutivas são: ganho de peso em diferentes idades, idade ao primeiro parto, intervalo entre partos, perímetro escrotal e características de carcaça, como espessura de gordura subcutânea, marmoreio e área de olho de lombo.

Porém, um dos maiores problemas da seleção de bovinos é o longo processo para obter resultados e, no caso do Brasil, estamos longe do que está sendo feito nos principais concorrentes como Estados Unidos e Austrália, por exemplo. 

Uma característica importante que fez com que a suinocultura e a avicultura se desenvolvesse mais rapidamente e eficientemente que bovinos foi a seleção genética, principalmente para a eficiência alimentar ou conversão alimentar, característica que por muitos anos foi esquecida na bovinocultura devido à dificuldade de mensuração, especialmente dos animais criados em pasto e por estar correlacionada com a taxa de ganho de peso e peso à idade adulta, além de ter uma alta variabilidade entre os animais. 

Ou seja, a seleção para esta característica pode aumentar o peso adulto dos animais, aumentando a energia necessária para mantença, além de poder comprometer a eficiência reprodutiva de vacas.

Era necessário então encontrar uma forma diferente de selecionar para eficiência alimentar sem prejudicar outras características produtivas ou reprodutivas do rebanho já que os custos com alimentação, desconsiderando a compra da reposição, é o item mais caro da bovinocultura, principalmente em um confinamento.

Nos últimos anos, diversos estudos foram direcionados para o consumo alimentar residual (CAR). Essa é uma medida da diferença entre o quanto o animal precisa consumir para atingir certo peso e quanto ele realmente ingeriu.

Ou seja, se o animal possuir um CAR negativo, significa que ele comeu menos do que o previsto para atingir o peso desejado, sendo, portanto, mais eficiente do que o animal que possuir um CAR positivo. 

Diversas pesquisas demonstram que essa característica possui herdabilidade de moderada a alta (0,30 a 0,40) e, ao contrário da conversão alimentar, o CAR indica animais de menor exigência de manutenção e menor consumo sem alterar o ganho de peso ou o peso adulto.

Um obstáculo a ser ultrapassado é a correlação negativa entre o consumo residual alimentar e as características de carcaça, ou seja, estamos ganhando em eficiência e perdendo em qualidade já que animais com CAR negativo apresentam carcaças magras.

O consumo residual alimentar é uma característica de seleção relativamente nova e está sendo estudada em todo o mundo. 

Diversos trabalhos com correção da característica para espessura de gordura estão sendo feitos e já estão sendo encontrados resultados positivos demonstrando uma diminuição na correlação fenotípica na deposição de gordura. 

Outras ferramentas em conjunto com o CAR podem ajudar nessa busca, como a avaliação por ultrassonografia das carcaças, que auxilia na avaliação de acabamento de gordura desses animais e, a genômica, que melhora a acurácia dos dados e permite resultados com maior rapidez possibilitando o desenvolvimento genético do rebanho brasileiro e aumentando a lucratividade e competitividade do setor.  

Texto originalmente publicado pela Animal Business.
Fonte: Scot Consultoria

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