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Pecuária leiteira: Informação é matéria-prima

Informação propicia o aperfeiçoamento de práticas de gestão e aumenta a eficiência dos sistemas de produção, gerando lucro – objetivos de qualquer produtor

Por Bruna Silper* – Um dos setores da agropecuária que já se beneficiou muito com os avanços tecnológicos e hoje se vê diante de ainda mais oportunidades para inovar é a pecuária leiteira. Nos últimos 40 anos, o Brasil quadriplicou sua produção leiteira – hoje são mais de 35 bilhões de litros de leite por ano. É também por conta da adoção de soluções inovadoras que muitos pecuaristas avançam em produtividade e outros se mantêm na atividade em momentos de crise.

Apesar desse salto, são muitas ainda as oportunidades de crescimento e desenvolvimento. Os caminhos passam necessariamente pela modernização, seja na geração de dados, seja na automação, seja na utilização de vacinas e medicamentos. Atualmente, informação é matéria-prima. É ela que propicia o aperfeiçoamento de práticas de gestão e aumenta a eficiência dos sistemas de produção, gerando lucro – objetivos de qualquer produtor que queira não só se manter, mas também prosperar.

Para que o acesso à informação seja de fato benéfico, é preciso integrar os dados e interpretá-los de acordo com os objetivos estabelecidos para determinada propriedade, de modo que o gestor possa tomar as melhores decisões. O que dados relativos à ruminação e localização dos animais, por exemplo, podem trazer ao produtor? Por que dados precisos a respeito de variações comportamentais podem resultar em benefícios econômicos para a fazenda?

Sabemos que o tempo de ruminação tem relação direta com saúde, nutrição e produção de leite. O desenvolvimento de diversos quadros – como acidose, pneumonia, deslocamento de abomaso e cetose – está associado à redução na ruminação, frequentemente ao menos dois dias antes do diagnóstico clínico por pessoas experientes. Tecnologias de precisão que monitoram tais parâmetros emitirão alertas de queda na ruminação, os quais deverão ser seguidos de observação e exame clínico para diagnóstico específico e tratamento adequado. Identificar doenças precocemente reduz a severidade dos casos clínicos, contribuindo para o bem-estar dos animais. Além disso, quanto mais cedo um problema é identificado e quanto mais rápido agirmos para solucioná-lo, menor é o impacto na produtividade e na rentabilidade.

Casos clínicos estão associados a custos elevados. Além dos gastos com tratamento e mão de obra, perdas relacionadas a produção de leite, descarte de leite, descarte da vaca, morte e aumento do período de serviço podem ter um impacto significativo no resultado da fazenda. Com o diagnóstico precoce, parte dessas perdas podem ser evitadas.

Tabela: Estimativa de custo total (tratamento, mão de obra, perdas em produção, fertilidade e longevidade) para eventos comuns em rebanhos leiteiros.

Estimativa de custo total para eventos comuns em rebanhos leiteiros.
*Dados de Liang et al., 2017, utilizando conversão de R$ 5,00/USD.

O monitoramento da ruminação é importante também para adequação de dietas e manejo nutricional. Fatores como %FDN e tamanho de partículas são importantes para a determinação do tempo de ruminação, enquanto manejos e interferências na rotina dos animais contribuem para a variação de um dia para outro. Assim, após ajustes de dieta ou manejo, a avaliação da ruminação de determinado grupo ou do rebanho como um todo, em comparação aos dias anteriores, ou mesmo à média de um período, pode indicar o sucesso do ajuste e monitorar a sua consistência. De forma semelhante, o monitoramento diário da ruminação de cada grupo permite identificar precocemente problemas de manejo ou mistura, por exemplo, que podem então ser corrigidos antes que haja impacto financeiro significativo. Ainda a latência do início da ruminação após distribuição de dieta total pode ser importante aliada na avaliação de indícios de acidose ruminal.

Dentre tantos dados gerados por sistemas de sensores, a localização em tempo real é uma informação que pode fazer diferença, da observação dos animais à realização de manejos como aplicação de medicamentos, inseminação e condução de vacas atrasadas à ordenha robotizada. Produtores que utilizam sensores com essa função relatam economia de 5 a 10 minutos para cada animal que precisam encontrar. De acordo com Steeneveld and Hogeveen (2015) é possível poupar, em média, aproximadamente 1h/vaca/mês com a implementação de alguma tecnologia de precisão na fazenda.

Então, como avaliamos se uma tecnologia de precisão será eficaz? De forma simples, o sistema implementado deve proporcionar resultados melhores do que os obtidos na fazenda com as técnicas e o manejo correntes. Para isso, além de confiabilidade no sistema, acurácia dos alertas e durabilidade dos equipamentos, é de fundamental importância o suporte técnico em todas as fases do trabalho, incluindo a adequação de rotinas ao uso das informações geradas pelos sensores. A equação que une gestão diária de dados, conhecimento sobre a atividade e ações certeiras em tempo hábil permite o aumento da eficiência dos sistemas de produção e, consequentemente, maior produtividade e rentabilidade.

*Médica Veterinária, Mestre em Zootecnia e PhD em Animal Science e Especialista em Pecuária de Precisão da Zoetis.

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