Pecuária leiteira produz menos da metade da média mundial

Brasil conta com aproximadamente 1,3 milhão de pecuaristas de leite, atuando em fazendas que, por sua vez, são responsáveis pela ordenha de 23 milhões de vacas.

A produção brasileira de leite mais que dobrou nas últimas duas décadas, ao saltar de 15,7 bilhões de litros em 1994, para 35 bilhões, em 2014, conforme dados mais recentes da Pesquisa Pecuária Municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O desempenho da produção nacional de leite, ainda assim, fica bem aquém em comparação à média mundial: 1,6 mil litros contra 3,5 mil litros por vaca ao ano. Nos Estados Unidos, de acordo com o Sistema de Inteligência Setorial (SIS) do Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), algumas fêmeas bovinas alcançam uma média anual de 10,4 mil litros.

Conforme Renata Magalhães Schneider Simone, analista de Inteligência do SIS/Sebrae, em entrevista à equipe SNA/RJ, essa discrepância se deve a fatores relacionados ao clima e às raças mais produtivas, mas principalmente à alimentação.

“A quantidade de leite produzido por vaca está diretamente relacionada com as condições as quais o animal está submetido, ou seja, fatores como a alimentação, clima ou até mesmo a tecnologia no manejo influenciam a produtividade”, comenta a especialista.

Diretor da Sociedade Nacional de Agricultura e representante da SNA na Câmara Setorial do Leite e Derivados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Alberto Figueiredo ressalta que a “maior parte do rebanho bovino nacional não tem especialização genética para produção de leite”.

“Também não são observados os requisitos mínimos de conforto animal e alimentação adequada, sendo essas as principais causas da baixa produtividade média”.

Segundo Figueiredo, que também é secretário Municipal de Agricultura de Resende (RJ), “pelo fato de essas tecnologias exigirem maior comprometimento financeiro por parte do produtor, aumentam os riscos de insucesso, se não forem observados conceitos técnicos indispensáveis, o que leva uma grande maioria de produtores a submeter seus rebanhos a condições inadequadas de alimentação, trazendo, como consequência, a redução da produção média”.

A analista de Inteligência do SIS/Sebrae reforça que o “Brasil é um país extenso, com regiões bastantes distintas uma das outras”. “Por conta disso, alguns Estados possuem características mais ou menos propícias à produção de leite”, comenta Renata.

Ela cita que no Sul do país, por exemplo, estão os maiores produtores de leite, “provavelmente pelo fato de lá existir um clima mais adequado para a atividade”. “Já na região Sudeste, principalmente acima do Estado de São Paulo, o animal sofre um estresse térmico que prejudica a produção de leite.”

A analista comenta que também “é importante ressaltar que a média brasileira de produção de leite considera produtores rurais que não investem o suficiente na modernidade do campo e, consequentemente, possuem baixo nível técnico e controle de custos, logo, possuem baixa produtividade”.

Conforme Renata, “mesmo com condições climáticas atípicas, é possível aumentar a produção de leite investindo na alimentação do animal, fornecendo uma nutrição específica, de acordo com a fase em que ele se encontra”.

Ordenhadeira Mecanica
Foto: Divulgação

TECNOLOGIAS

Algumas tecnologias associadas à atividade leiteira podem contribuir para o aumento da produção, como softwares de gestão de rebanhos.

“Sem sombra de dúvida, o controle sobre os resultados, tanto de índices de produtividade quanto, principalmente, de custos, é fundamental para o constante aprimoramento do processo produtivo. Nesse caso, os softwares existentes no mercado, e/ou produzidos nas próprias propriedades, com base em planilhas simples, são fundamentais, uma vez que o número de dados a ser considerado dificulta esse controle por métodos manuais”, salienta o diretor da SNA.

Segundo Figueiredo, que apresenta ampla experiência como pecuarista, “o problema é que a maioria dos produtores sequer anota as informações diárias, chegando ao ponto de não saber a data prevista para o parto ou a necessidade de encerramento de lactação”.

“As cinco prioridades para o aumento da produção de leite são: 1. alimentação adequada; 2. alimentação adequada; 3. alimentação adequada; 4. alimentação adequada; 5. alimentação adequada. Depois que se consegue esse parâmetro, pode-se pensar em conforto animal e em genética, para melhorar as condições de produção dos animais”, sentencia.

Por equipe SNA/RJ

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