Picanha com água: será que pode?

“Carne congelada de bovino sem osso mecanicamente amaciada, adicionada de 15% de solução de água, colágeno e aromas”; a indústria pode adicionar água na carne?

Recentemente nós desvendamos sobre a ‘picanha fatiada’ pode ser considerada verdadeira?. Agora nos chegou, através das redes sociais, um vídeo mostrando um processo automatizado onde é possível ver um belo pedaço de carne bovina sendo espetado por dezenas de agulhas com uma solução, aparentemente sendo água, dentro da indústria frigorífica. Mas, o que está havendo? Será que o Ministério da Agricultura sabe disso? Afinal, o que está liberado (ou não) no processamento das carnes?

Confira o vídeo abaixo:

Algumas substâncias são adicionadas nas carnes com o objetivo de conservar o alimento, realçar o sabor e até mesmo controlar bactérias. O ácido ascórbico, popularmente conhecido como vitamina C, por exemplo, é um desses ingredientes químicos que são utilizados para conservar o alimento.

O ácido ascórbico é uma substância antioxidante de origem natural que tem a função de garantir que não haja alteração no sabor do produto. Respeitando a dosagem, os antioxidantes e conservantes não oferecem risco à saúde. A mesma lógica vale para o nitrito e o nitrato, que auxiliam no controle de bactérias e também servem para manter a cor rosada nos produtos cozidos, como no presunto. Essas substâncias só se tornam tóxicas ou cancerígenas se usadas em grande quantidade, acima dos limites legais permitidos.

A indústria produtora de alimentos sempre busca novos processos tecnológicos que permitam o melhor e mais amplo aproveitamento das matérias primas, principalmente das de origem animal, pela sua qualidade nutricional e o custo de produção, a propiciar que um maior número de consumidores possa ter acesso aos produtos delas derivados.

Na linguagem popular se diz que de um bovino tudo se aproveita, até o ‘berro do boi’, e esta verdade está no fato de que na pré-história parte mais importante deste animal era a pele que servia como abrigo, já que não existiam processos de conservação da carne, que se perdia em pouco tempo.

Assim, modificações mesmo que simples, na apresentação de um corte de carne poderá ensejar confusão entre os consumidores, como por exemplo no produto “Carne congelada de bovino sem osso amaciada mecanicamente adicionada de 10% de solução de água e colágeno”, em que o amaciamento mecânico e a adição de água tem como finalidade torna-la mais tenra e macia, descaracterizando assim a sua característica de naturalidade acrescida do fato da adição de aroma de contrafilé.

Embalagem de carne amaciada

Alguns consumidores, mesmo com a informação contida na embalagem, se dizem enganados. “O funcionário foi super atencioso e conhecia bem do que falava, no entanto considero que meu problema não foi resolvido, pois o produto continua sendo 85% de picanha e 15% de solução de água, colágeno e aroma picanha. Prefiro ir no açougue comprar uma 100% picanha até que parem com essa prática abusiva de aumento de preço disfarçado e sabe-se lá o que é esse tal aroma picanha.” – relata um consumidor no site Reclame Aqui.

Adição de água está dentro da lei?

Buscando as informações na internet encontramos o vídeo da Professora Naiá, médica veterinária, mestre e doutora Unesp (Jaboticabal). Nele a doutora explica tudo sobre o assunto, inclusive, mostra o Manual de Procedimentos de Inspeção e Fiscalização de Carnes e Produtos Cárneos em Estabelecimentos Registrados sob Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. “Tudo está de acordo com o que a legislação determina” – enfatiza a médica veterinária.

Porque da confusão?

É possível entender a confusão. Em um passado não tão distante, em 2012, a Polícia Federal (PF) investigou um esquema de adulteração em carnes bovinas e suínas que aumenta o peso do produto em até 50%. Chamada Vaca Atolada, a operação começou no fim de 2011, após denúncia feita pelo Exército brasileiro em Juiz de Fora, que percebeu furos no produto. Há suspeita de que as carnes também seriam comercializadas em supermercados de todo o país.

O esquema funcionava da seguinte maneira, para aumentar o peso nas carnes, as empresas colocavam água no alimento. “Eram injetados fosfato, soro de leite e soja para não deixar a água vazar. O ganho de peso era de 20% a 50%”, afirmou Marcílio Miranda Zocrato, delegado da PF. Em uma das empresas, o esquema era feito em 20 toneladas de carne diariamente. O intuito das empresas era “claramente obter um ganho econômico”, segundo ele, a partir da adulteração do peso e do sobrefaturamento do valor das carnes.

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