Representantes do setor agropecuário reagem à questão do ‘Enem dos Concursos’ que relaciona o agro à exploração predatória da terra, defendendo uma visão mais equilibrada e fundamentada sobre o tema.
No último domingo (18), cerca de 1 milhão de pessoas realizaram a prova do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU), chamado “Enem dos Concursos”. A prova é conhecida por sua relevância na avaliação de candidatos em seleções públicas e, depois do desgaste com o Enem, a prova gerou polêmica ao relacionar o agronegócio à exploração predatória da terra. A questão em debate, que questionava as práticas do setor, foi duramente criticada por representantes do agronegócio brasileiro, que consideraram o enunciado como “equivocado e parcial”. Confira a questão na íntegra ao final do conteúdo.
De acordo com Ricardo Nicodemos, em entrevista ao Canal Rural, o presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agro (ABMRA), a abordagem adotada pela prova não reflete a realidade do setor agropecuário no Brasil. “O enunciado parte de uma visão deturpada que não condiz com o pensamento do setor. O agronegócio brasileiro é responsável, inovador e comprometido com a sustentabilidade”, afirmou Nicodemos.
Ele ainda destacou que, ao contrário do que a questão sugere, o agronegócio tem investido fortemente em tecnologias que visam a preservação ambiental e a eficiência produtiva. “Temos diversos exemplos de práticas agrícolas sustentáveis, que não apenas preservam os recursos naturais, mas também os recuperam, garantindo a produtividade sem causar danos ao meio ambiente”, completou.
Para muitos, o episódio levanta uma discussão sobre a importância de retratar o setor rural de forma justa e equilibrada nos meios acadêmicos e na sociedade em geral. O agronegócio, que é uma das principais forças econômicas do país, se vê frequentemente no centro de debates sobre sua relação com o meio ambiente. Contudo, como ressalta Nicodemos, é essencial que essas discussões sejam baseadas em dados concretos e não em percepções preconceituosas.
Ele mencionou, ainda durante a entrevista ao Canal Rural, o Projeto Marca Agro do Brasil, que visa monitorar e combater as fake news relacionadas ao agronegócio. “O setor tem que reagir a esse tipo de situação”, lembrou ele.
A ABMRA pretende buscar esclarecimentos junto aos organizadores do concurso, visando evitar que informações equivocadas sejam propagadas. “O que está em jogo é a reputação de um setor que alimenta o Brasil e o mundo, e que tem em sua essência o compromisso com a sustentabilidade e a inovação”, concluiu.
De acordo com o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, ao todo, são mais de 2,1 milhões de candidatos disputando 6.640 vagas para 21 órgãos da administração pública federal. Essa será a primeira edição dentro do novo formato, no qual a aplicação da prova aconteceu de forma simultânea em 228 cidades.
Confira a questão envolvendo o Agro que gerou polêmica no ‘Enem dos Concursos’
A questão de número 6 do Concurso Nacional Unificado trazia o enunciado e as alternativas de resposta abaixo. Pelo gabarito, a opção correta seria a “c”:
“No contexto da redemocratização política do Brasil, em especial em função da promulgação da Constituição Federal de 1988 e graças à mobilização da sociedade civil e de lideranças indígenas, observou-se a ampliação do direito à proteção e ao usufruto das terras dos povos originários.
É muito comum nos depararmos com afirmações de que, no Brasil, ‘há muita terra para pouco índio’, geralmente acompanhadas de assertivas segundo as quais as populações indígenas e tradicionais são um ‘entrave ao desenvolvimento’.
Em função desse modelo de desenvolvimento, voltado para a exportação de produtos primários, os povos indígenas continuam sendo considerados um empecilho ao desenvolvimento, mas um desenvolvimento praticado de forma predatória, ao bem dos interesses particulares de poucos, e não do interesse comum.
Levando em conta o texto acima, a noção de que “há muita terra para pouco índio:
(a) sustenta-se numa premissa nacional-desenvolvimentista, cuja atualização em nossos dias tem como principal objetivo a produção de riqueza e sua distribuição mais equânime, justa e igualitária.
(b) fundamenta-se no reconhecimento da natureza conservacionista dos povos originários, que representam um obstáculo ao desenvolvimento sustentável do país.
(c) relaciona-se com uma certa concepção de desenvolvimento, associada a um tipo de exploração predatória da terra, da qual decorre desacertadamente que o reconhecimento da propriedade indígena representaria um suposto entrave à economia sustentável do país.“
(d) justifica-se pela condescendência da legislação indigenista, própria da constituição federal de 1988, a qual privilegia os povos originários.
(e) legitima-se pelo avanço do agronegócio no Brasil, uma vez que concorre para a ampliação das fronteiras agrícolas, na mesma medida em que contribui para a proteção do direito à terra e para a manutenção dos modos de vida dos povos originários.
Cronograma
Veja abaixo o cronograma com as principais datas que os candidatos, que realizaram a prova durante a manhã ou tarde de domingo (18), devem ficar atentos, conforme divulgado pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI):
- Divulgação preliminar dos gabaritos das provas objetivas: 20 de agosto de 2024
- Prazo para recursos quanto às questões formuladas e/ou aos gabaritos divulgados: 20 e 21 de agosto de 2024
- Disponibilização da imagem do cartão-resposta: 10 de setembro de 2024
- Divulgação das notas finais das provas objetivas e da nota preliminar da discursiva: 8 de outubro de 2024
- Interposição de eventuais pedidos de revisão das notas da discursiva: 8 e 9 de outubro de 2024
- Convocação para o envio de títulos: 8 de outubro de 2024
- Envio dos títulos: 9 e 10 de outubro de 2024
- Divulgação do resultado dos pedidos de revisão das notas da prova discursiva: 17 de outubro de 2024
- Resultado preliminar da avaliação de títulos: 4 de novembro de 2024
- Prazo para interposição de eventuais recursos quanto ao resultado preliminar da avaliação de títulos: 4 e 5 de novembro de 2024
- Divulgação do resultado dos pedidos de revisão das notas dos títulos: 19 de novembro de 2024
- Previsão de divulgação dos resultados finais: 21 de novembro de 2024
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