Ponto certo do corte do milho para silagem

É muito importante saber exatamente o momento de corte da lavoura de milho para silagem de planta inteira afim de maximizar os resultados

​Por Robson Fernando de Paula

A colheita da lavoura de milho para silagem de planta inteira na maturação adequada da planta assegura não somente o fornecimento de açúcares fermentáveis para as bactérias que atuam neste processo, como também na maximização do valor nutricional da silagem a ser fornecida aos animais.

O momento ou ponto ideal de corte da planta de milho para silagem de planta inteira se dá no momento em que a planta atinge 30% a 35% de matéria seca, correspondendo à melhor qualidade nutricional. Em termos gerais, costumáva-se usar como referência a linha do leite, que aparece a partir do estádio fenológico R5.5. Porém, somente a visualização da metade da linha do leite a campo pode não ser o método mais confiável.

Com o objetivo de auxiliar no planejamento da lavoura, da operação e, assim, ter maior assertividade no momento do corte, este artigo tem como objetivo explorar alguns aspectos importantes relacionados ao momento da colheita, do ponto de vista da planta, no que se refere à formação e enchimento dos grãos.

Acúmulo de matéria seca (MS) na planta e o índice de colheita (IC)

A taxa de aumento e a quantidade de Matéria seca acumulada durante a safra diferem entre os componentes da planta. Ainda que todos os componentes sejam somados juntos, isto geralmente segue a curva S de resposta.

Em termos gerais, segundo Abendroth et. all., (2011), mais de 22.400 kg/ha de MS da parte aérea das plantas são produzidas em lavouras com boas condições de fornecimento de luminosidade, água e nutrientes, sem competição de plantas daninhas e danos por pragas e doenças. O colmo e as nervuras centrais das folhas compreendem as maiores quantidades de MS entre os componentes vegetativos, com o máximo de peso alcançado em R2. Depois disso, o volume de MS do colmo e das nervuras centrais das folhas começam a declinar, presumidamente devido à realocação de nutrientes do colmo para a espiga em desenvolvimento. As folhas atingem o máximo de MS em R2, permanecendo até R6 quando as folhas entram em senescência.

Já o Índice de Colheita de uma cultura é determinado pela divisão do volume de MS dos grãos pelo total de MS da planta (MS da parte aérea incluindo os grãos) na fase de maturação fisiológica.

Os híbridos de milho produzidos atualmente apresentam um IC aproximado de 0,5, com algumas evidências de aumento devido aos esforços do melhoramento genético quando comparados a híbridos mais antigos. Sem considerar o exato valor do IC, os produtores buscam pelo aumento da produtividade de grãos por hectare e o aumento de MS da parte vegetativa da planta, que aumenta de forma similar. O aumento de MS dos grãos aumenta significativamente a partir de R2 para, aproximadamente, até R5.75.

Entendimento da fase R5

O entendimento de como acontece o acúmulo de MS na planta e do amido nos grãos, bem como a maturação do grão e a perda de umidade, pode auxiliar técnicos e produtores na organização e planejamento da operação de corte, com a finalidade de levar ao silo a planta com o máximo de qualidade nutricional. Na figura 1 destacamos os estádios fenológicos entre R2 e R6, o que corresponde desde a formação, enchimento, até a maturação fisiológica da planta de milho.

Dependendo do híbrido, das condições climáticas durante o desenvolvimento da lavoura e das práticas de manejo, a planta inteira deve atingir 30% de MS entre quatro e seis semanas após o florescimento (R1).

O estádio de R5 se divide em quatro sub estádios, de acordo com o processo de enchimento de grãos: R5, R5.25, R5.5 e R5.75. A planta deve permanecer de dez a quinze dias neste período até atingir a maturação fisiológica. É fundamental que a ensiladeira, carretas e/ou caminhões estejam sempre de prontidão para cortar e transportar as plantas para o silo, atendendo a fase e o processamento de corte adequados.

Para facilitar a visualização, a espiga da planta em estádio definido de R5 apresenta os grãos “dentados”, ou seja, ocorre uma depressão na extremidade dos grãos devido à redução da umidade, acúmulo e aumento de amido nos grãos. Veja na figura 3, grãos com “dente” já formado na sua extremidade.

O grão apresenta aproximadamente 60% de umidade no início do R5 e a linha do leite é a zona de separação entre a porção branca e pastosa próxima ao sabugo e a porção sólida do amido na extremidade do grão. Também em R5, as espigas apresentam folhas verde-pálido e as bordas marrom claro, conforme pode ser observado na figura 4.

Também é comum para milho acumular de 0.5 a 1.0 ponto de amido por dia até o grão atingir a maturação fisiológica. O acúmulo de amido contribui significativamente na redução de umidade da planta inteira e aumenta a concentração da energia da silagem.

Para realizar a simples identificação da linha do leite, corte no sentido longitudinal do grão no lado contrário ao embrião, e observe internamente. À medida que a planta avança dentro do estádio de R5, a porção sólida de amido se move em direção ao sabugo e o grão vai maturando.

Conforme já mencionado, os grãos de milho em R5 são designados pela progressão da linha do leite: 1/4, 1/2, e 3/4. Observar a progressão da linha do leite é uma boa forma de estimar o desenvolvimento do grão, entretanto, isto não tem correlação direta com o acúmulo de MS. A progressão da linha do leite e o tempo requerido entre cada sub fase R5, R5.25, R5.5 e R5.75 (figura 5), varia de acordo com temperatura, umidade e ciclo do híbrido. O tempo ou período necessário para chegar em R6 a partir de 3/4 da linha do leite é significativamente maior do que entre os outros sub estágios.

O acúmulo de MS do grão representa aproximadamente 45% do total do peso seco no início de R5, deixando mais da metade para ser acumulado durante o restante do período. Quando os grãos atingem o estádio de R5.5 (1/2 da linha do leite), aproximadamente 90% do total da matéria seca do grão já existe. A ocorrência de estresses ambientais durante R5 resulta na redução de carboidratos providos pela planta, o que implica na redução de peso dos grãos e, consequentemente, em menor produção de amido.

Com avanços no melhoramento genético, aperfeiçoamento das práticas de manejo e, principalmente, com o uso de fungicidas foliares, temos observado, em muitas situações, que lavouras com espigas com os grãos na metade da linha do leite ainda não atingiram 30% de matéria seca. Isto ocorre porque lavouras bem conduzidas têm mantido as plantas ainda verdes na fase de enchimento de grãos. Cortes antecipados, ou quando a planta ainda está abaixo do teor de 30% de matéria seca, reduzem significativamente o conteúdo de amido da silagem.

Conforme já citado, à medida que o desenvolvimento do grão avança dentro das sub fases do estádio R5, o conteúdo do amido vai aumentando nos grãos. Em estudos recentes, Seglar et al., (2014) citado por Mahanna (2015), mostra que silagens colhidas entre a fase de R5.5 ou metade da linha do leite até R5.75 ou 3/4 da linha do leite, apresentaram 24% do peso de grãos e 27% em ganho de amido.

Existem alguns métodos e/ou equipamentos bastante conhecidos para verificar a MS da planta para a correta tomada de decisão de iniciar o corte. Entre os métodos mais conhecidos estão a determinação da matéria seca em micro-ondas e o método de Koster.

Sempre que possível, o produtor deve buscar ou solicitar a seu técnico a determinação correta do conteúdo de matéria seca de sua lavoura para cortar a planta no ponto mais correto possível. Porém, na grande maioria das situações, o produtor não dispõe destes métodos na propriedade, então como medida prática, para auxiliar na tomada de decisão, é sugerido para silagem de planta inteira, que lavouras de boas condições sejam colhidas com o grão em, aproximadamente, 2/3 da linha do leite (figura 6), uma vez que nesta fase a planta estará muito próxima de ter atingido 30% de matéria seca e já capturado bons conteúdos de amido.

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É importante ressaltar que não podemos esquecer dos cuidados na operação de corte, atentando para a regulagem adequada da ensiladeira, sendo ela automotriz ou movida a trator. As regulagens devem ser apropriadas para o teor de matéria seca da lavoura que está sendo colhida, atendendo ao tamanho das partículas e ao adequado processamento ou quebramento de grãos.

Quanto tempo após o plantio, em média, o milho chega no padrão mencionado R5?

É muito difícil precisar em dias quando o híbrido estará em R5, pois o princípio de desenvolvimento do milho é baseado em unidades de calor acumuladas diariamente para que a planta complete cada fase.

Então, depende do ciclo do híbrido, das condições climáticas e de manejo onde a planta está se desenvolvendo.

Para verificar se a planta está iniciando a fase de R5, deve-se iniciar o monitoramento da lavoura por volta de 30 a 40 dias após o seu florescimento. Aproximadamente neste estádio, a planta deve entrar em R5, que é o início do acúmulo de amido. Vale lembrar ainda que o ponto de corte para silagem deverá ocorrer alguns dias após o início de R5, quando os grãos da metade da espiga apresentarem 2/3 da linha do leite, o que corresponde a fase de R5.75.

Qual a porcentagem de grãos na silagem de milho?

Em uma boa silagem, os grãos representam em torno de 65% do valor energético. Para que isso aconteça, a lavoura de milho deverá ser colhida com os grãos da metade da espiga já em torno de 70% acumulado, ou seja, os grão devem estar em 70% duro e 30% pastoso. Como o valor do alimento é medido em matéria seca, que é o que o animal ingere por dia, em uma boa silagem, os grãos devem representar 50% da matéria seca da silagem.

Via Robson Fernando de Paula Gerente de Desenvolvimento de Mercado de Silagem DuPont Pioneer Brasil e Paraguai

Referências Bibliográficas

Abendroth, L.J., R.W. Elmore, M.J. Boyer, and S.K. Marlay, 2011. Corn Growth and Development. PMR 1009. Iowa State University Extension, Ames, Iowa
Mahanna, B., B. Seglar, F. Owens, S. Dennis, and R. Newell. 2014. Silage Zone Manual. DuPont Pioneer, Johnston, IA.
Endicott, S., B. Brueland., R. Keith, R. Schon, C. Bremer, D. Framham, J. DeBruin, C. Clausen, , S. Strachan, and P. Carter. 2015. Corn Growth and Development. DuPont Pioneer Johnston, IA.

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