Produtores rurais se destacam por fazer “brotar água”

Em Campo Grande cerca de 60 propriedades rurais estão empenhadas na recuperação da bacia do Guariroba.

Todos sabem como água é essencial para vida e por muitos anos a sociedade vem usando este recurso natural sem a consciência de que um dia ele possa acabar. Segundo dados do Ministério das Cidades, o desperdício desse recurso natural no Brasil atingiu um volume total correspondente a 38,8% de toda a água tratada nos últimos anos, sendo que, em algumas regiões do país, esse índice ultrapassa os 50%. Neste processo todo, algumas importantes iniciativas vêm se desenvolvendo e algumas estratégias começaram a ser executadas para amenizar problemas hídricos, umas delas, em Mato Grosso do Sul.

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Reprodução

O Estado é caracterizado pela sua força e tradição no agronegócio, mas um grupo de produtores em especial, vem chamando atenção e ganhando destaque, pela preocupação e conservação da água. A Associação de Recuperação, Conservação e Preservação da Bacia do Guariroba (ARCP) trata-se de um grupo de proprietários rurais da região que desde 1996, articulam-se para a execução de ações que favoreçam a sustentabilidade da bacia hidrográfica do Guariroba, trabalho que se fortaleceu a partir de 2010, com a criação do programa Manancial Vivo.

O Manancial Vivo consiste em uma experiência de pagamento por serviços ambientais, realizado em Campo Grande, por meio da Prefeitura Municipal e parceiros. Trata-se de um plano voluntário de restauração do potencial hídrico e do controle da poluição no meio rural. Ele propõe aos produtores projetos e ações que visam à recuperação e a conservação dos recursos naturais, prevendo pagamentos para aqueles que, por meio de práticas e manejos conservacionistas, contribuam para o aumento da infiltração de água e para o abatimento efetivo da erosão, sedimentação e incremento da biodiversidade. Para ingressar no programa os proprietários precisam ter um PIP (Projeto Individual de Propriedade). Segundo os envolvidos, já é possível ver resultados positivos em seus primeiros oito anos de desenvolvimento.

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Na fazenda Meia Lua, cercamento em área de nascente melhorou qualidade da água e evitou erosões / Foto: Campo Grande News

Resultados já alcançados

Uma das parceiras e incentivadoras do Manancial Vivo, a ONG WWF Brasil, que se dedicada à conservação da natureza com o objetivo de harmonizar a atividade humana, acompanha de perto o Programa.

Conforme os dados da ONG o programa já beneficiou, direta e indiretamente, mais de 11 milhões de pessoas nas áreas de atuação, e já investiu mais de R$ 5 milhões na Bacia do Guariroba, com ações que provocam um aumento na produção de água suficiente para abastecer mais 41 mil pessoas em Campo Grande/MS.

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Nascente do córrego Guariroba, que faz longo percurso até chegar à represa e abastecer mais de 30% da Capital / Foto: Campo Grande News

Ainda de acordo com o WWF, a parceria com os pecuaristas possibilitou a recuperação de mais de 134 hectares na capital sul-mato-grossense, com previsão de mais 32 ha, até maio de 2019. Mais de 89 mil mudas de árvores nativas foram plantadas pelos produtores rurais, e foi criada uma unidade demonstrativa de recuperação de pastagem em solos arenosos e uma de modelo produtivo de integração lavoura-pecuária-floresta.

Para a Analista de conservações do WWF, Paula Martins, houve um progresso muito grande na preservação e conservação da Bacia nos últimos anos, resultado das parcerias entre os produtores e dos programas Água Brasil e Manancial Vivo.

“O WWF acompanha os produtores da região da bacia desde 2010, além do Programa Manancial Vivo, atuamos também com o programa Água Brasil, que é uma parceria entre Banco do Brasil, ANA, Fundação Banco do Brasil e o WWF, com o objetivo de conservar os nossos rios. Ao longo desses oito anos, é possível ver resultados positivos e grande engajamento dos produtores, o que potencializa as ações. É preciso que as pessoas vejam a importância dos programas e seus resultados. Muitos acham que os programas só beneficiam os produtores e suas terras, mas na verdade, o maior beneficiado, é a própria população, que terá água de melhor qualidade e em maior quantidade. Já temos mais água brotando. Há estudo que projeta aumento da vazão de base em 260 litros, até 2027.”

O presidente ARCP Guariroba, Claudinei Menezes, destaca toda a caminhada que os proprietários rurais vêm construindo ao longo deste processo, fala também da importância da conservação do Guariroba e sobre como o projeto Manancial agregou ao trabalho da Associação.

”Desde 96 temos a preocupação pela preservação da bacia. O projeto do Manancial veio para fortalecer e agregar um trabalho já construído, possibilitando uma visibilidade maior e trazendo novos parceiros como: WWF, Universidades e o Sindicato Rural de Campo Grande. Hoje somos 65 propriedades, das quais a maioria de alguma forma está inserida no programa. É importante ressaltar que, mesmo aqueles que ainda não estão recebendo, contribuem nas ações de preservação e conservação. Um dos nossos maiores desejos é que a sociedade civil conheça um pouco mais sobre o nosso trabalho, e que as instituições e escolas, possam trabalhar junto, e mostrar a importância da água”.

Outra parceria importante para o programa é do Sindicato Rural de Campo Grande, um dos diretores, Rafael Gratão, destaca que a entidade tem o papel de auxiliar os produtores locais nas atividades diárias e que a sustentabilidade é um compromisso de todos. “Esse projeto começou lá atrás e ficamos felizes em ver que é reconhecido e se tornando referência”, enfatizou Gratão, que também é presidente do Movimento Nacional dos Produtores (MNP).

Na busca por totalizar o número de propriedades rurais engajadas na recuperação da Bacia do Guariroba, o Sindicato Rural de Campo Grande, juntamente com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana (Semadur) e Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano (Planurb), reuniram produtores rurais interessados na adesão do Programa Manancial Vivo. Nesta reunião ocorrida nesta terça-feira (30), 10 produtores demonstraram interesse, restando apenas 5 para assinar o contrato, do total de 65.

Para o presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, Ruy Fachini Filho, é fundamental a adesão de todos os pecuaristas da região, para que a pecuária continue evoluindo no quesito sustentabilidade.

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“No que se refere ao ambientalmente correto, os produtores têm feito a lição de casa. O Programa Manancial Vivo é um estímulo para se empenhar na preservação, pois além dos pagamentos por serviços ambientais realizados nas Áreas de Proteção Ambiental, as propriedades passam a receber visitas técnicas gratuitas para orientações. É um pacote completo e um projeto que merece ser replicado”, enfatiza Fachini.

Os bons resultados e a perspectivas positivas fizeram com que o programa Manancial Vivo ganhasse destaque mundial este ano, quando foi escolhido como case de sucesso e apresentado durante o 8º Fórum Mundial da Água, maior evento global sobre o tema, que aconteceu em Brasília, em março.

Segundo o superintendente da Agência Nacional de Águas (ANA), Tibério Magalhães Pinheiro, o Programa foi escolhido para representar o país, por ser modelo de um projeto exitoso.

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Texto: Wesley Alexandre O. de Souza, estudante de jornalismo, 2º semestre, Universidade Estácio de Sá – via MNP.

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