Qual foi o pior presidente para o agro nos últimos 40 anos?

Durante os últimos 40 anos, o Brasil testemunhou uma série de presidentes, cada um deixando sua marca no cenário do agronegócio do país. Entre esses líderes, um em particular foi objeto de considerável debate no que diz respeito às suas políticas em relação ao setor; confira

O agro brasileiro, ao longo das últimas décadas, solidificou-se como uma força motriz da economia nacional, contribuindo significativamente para o crescimento do país. No entanto, a relação entre o agro e o governo muitas vezes foi marcada por tensões e discordâncias, especialmente quando se trata das políticas adotadas pelos diferentes líderes políticos. Neste contexto, a análise do impacto das ações dos governantes torna-se crucial para compreender as dinâmicas desse setor vital.

Durante os últimos 40 anos, o Brasil testemunhou uma série de presidentes, cada um deixando sua marca no cenário agrícola nacional. Entre esses líderes, um em particular tem sido objeto de considerável debate e controvérsia no que diz respeito às suas políticas em relação ao agro: Luiz Inácio Lula da Silva, presidente pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Desde sua primeira ascensão ao poder, as declarações e propostas de Lula em relação ao setor geram insegurança e desconfiança entre os produtores rurais e empresários do agro; entenda melhor.

Primeiramente, quem é Luiz Inácio Lula da Silva?

Photo by Diego Radames/SOPA Images/LightRocket via Getty Images/Getty Images

Luiz Inácio Lula da Silva, mais conhecido como Lula, é uma figura emblemática na política brasileira, reconhecido por sua trajetória marcada por origens humildes e pela ascensão como líder sindical e político. Sua carreira teve início nas lutas operárias durante a ditadura militar, destacando-se por liderar greves no ABC Paulista e fundar o Partido dos Trabalhadores (PT) em meio ao processo de abertura política. Após várias tentativas, foi eleito presidente do Brasil em 2002, consolidando seu governo com a implementação de políticas sociais como o Bolsa Família e o Fome Zero.

Após deixar a presidência, Lula enfrentou desafios legais relacionados à Operação Lava Jato. Sua libertação veio em 2019, após uma série de decisões judiciais, marcando seu retorno ao cenário político, culminando em sua eleição como presidente novamente em 2022. Com sua vitória sobre Jair Bolsonaro, o petista consolidou sua posição como uma das figuras mais influentes e polarizadoras da história do Brasil.

Importância inegável do agro brasileiro

O agronegócio desempenha um papel fundamental na economia brasileira, contribuindo de forma significativa para o Produto Interno Bruto (PIB) do país e gerando empregos em larga escala. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que o setor agrícola responde por aproximadamente 25% do PIB brasileiro, evidenciando sua importância como um dos principais pilares da economia nacional. Além disso, o agro é responsável por empregar cerca de 30% da força de trabalho do país, proporcionando sustento e renda para milhões de brasileiros, tanto no campo quanto nas áreas urbanas.

quebra na safra de grãos
Foto: Luiz Henrique Magnante

Outro aspecto relevante é o papel do Brasil como um dos maiores produtores e exportadores mundiais de alimentos. O país se destaca na produção de commodities agrícolas, sendo líder mundial na produção de soja, açúcar, café e suco de laranja; ocupando a segunda posição como produtor de carne bovina, celulose e etanol; e levando medalha de bronze no ranking de carne de frango, milho e fumo.

Dados da Embrapa mostram que a participação do Brasil no mercado mundial de alimentos cresceu de forma expressiva nos últimos anos, saltando de 20,6 bilhões para 100 bilhões de dólares. Essa expansão é fundamental não apenas para a economia nacional, mas também para garantir a segurança alimentar global, uma vez que o país desempenha um papel crucial no abastecimento de alimentos para milhões de pessoas em todo o globo.

Análise do governo Lula e o agronegócio

Luiz Inácio Lula da Silva que ocupou a presidência do Brasil de 2003 a 2011 – e, agora, desde 2022 – , desempenhou um papel significativo na expansão do agronegócio brasileiro no primeiro ano de ascensão ao poder em 2003. Durante sua gestão, foram alocados recursos consideráveis para o setor, com o governo direcionando anualmente cerca de 100 bilhões de reais para o agronegócio. Inicialmente, houve um crescimento notável do PIB do setor, exemplificado pelo aumento de 6,54% em 2003, atingindo um total de R$ 508 bilhões.

No entanto, a gestão do governo também enfrentou críticas significativas em relação ao manejo do setor agrícola. Em 2006, o país testemunhou uma das piores crises do agronegócio em quatro décadas, com produtores rurais buscando soluções em Brasília para enfrentar a crise. O governo federal foi criticado por adotar medidas paliativas insuficientes para abordar os problemas enfrentados pelo setor, o que exacerbou a situação.

Embora tenha havido momentos de crescimento notável, como o aumento de 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária brasileira em 2010, o setor enfrentou desafios persistentes ao longo dos anos. Além das crises pontuais, como a de 2006, o agronegócio brasileiro também teve que lidar com questões ambientais e pressões internacionais relacionadas ao desmatamento na Amazônia, que afetaram a imagem do país no cenário global.

Mais recentemente, o agro vivenciou uma nova frente de batalha, desta vez relacionada à educação. O governo Lula preparou uma ofensiva contra o agronegócio no Plano Nacional de Educação, buscando incluir pautas progressistas e de viés de esquerda dentro do plano educacional para os próximos anos. Essa medida gerou preocupações entre os representantes do agronegócio, que se viram excluídos das discussões e temiam que o plano resultasse em políticas prejudiciais ao setor.

Além disso, iniciativas como o programa “De Olho no Material Escolar” e o programa “Agrinho“, que, supostamente, buscariam corrigir distorções e atualizar o ensino sobre o agronegócio, foram alvos de críticas por parte de grupos de esquerda. Esses grupos alegam que tais programas têm viés ideológico e não refletem a realidade do setor agrícola brasileiro.

Assim, a gestão do governo Lula é marcada por momentos de sucesso e avanços, mas também por crises e controvérsias que deixam um legado misto no agro.

Agro autossustentável

No governo de Itamar Franco, 1992 a 1995, iniciou-se uma mudança significativa no cenário agrícola do Brasil. Foi a partir desse período que o agronegócio brasileiro começou a se destacar. Houve um significativo aumento na área utilizada para a produção, sobretudo de grãos. Para se ter noção, o país dependia cerca de 5,6% do Orçamento na Função Agrícola, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Com Itamar Franco (1992-1995) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), os dispêndios caíram à metade, para cerca de 2,2% do orçamento. Foi a partir desse período que o agronegócio deslanchou. No início dos anos 1990, o Brasil ocupava 39 milhões de hectares para produzir 58,3 milhões de toneladas de grãos. Hoje, utiliza 78 milhões de hectares (+100% em relação a 1990) e produz 316 milhões de toneladas (+445%), segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária.

Durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que ocupou a presidência de 2003 a 2011 e depois retornou ao poder em 2023 foram anunciados recursos substanciais para o Plano Safra, tanto para médios e grandes produtores quanto para agricultura familiar. No entanto, uma parte relativamente pequena desses recursos foi destinada a juros subsidiados, especialmente para a agricultura familiar e de baixo carbono.

Apesar do apoio governamental, houve um debate sobre a real disponibilidade de subsídios para essa matriz tão importante, com alguns argumentando que o agronegócio brasileiro hoje sustenta a economia por conta própria, sem depender de subsídios estatais. Isso marca uma mudança significativa em relação ao passado, quando o setor rural recebia consideráveis benefícios do Estado. Nos dias de hoje, o agronegócio é visto como uma força autossustentável que impulsiona a economia nacional.

6 motivos dos atuais integrantes do agro não gostar do Lula, segundo Ruralistas

Lula perguntou ao atual ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, por que integrantes do agronegócio “não gostam” dele, confira seis motivos segundos os Ruralistas.

Apoio a Bolsonaro: Líderes do agronegócio demonstraram apoio ao governo de Jair Bolsonaro e apoiaram sua reeleição. Esse alinhamento político gerou descontentamento por parte de Luiz Inácio Lula da Silva, que, segundo análises do setor, não aceitou completamente essa aliança com seu oponente político.

Mudanças no Ministério da Agricultura: Logo após assumir a presidência, Lula promoveu mudanças na estrutura do Ministério da Agricultura, transferindo órgãos importantes para outras pastas. Essa reorganização incluiu a perda do Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (CAR) para o Ministério do Meio Ambiente e a transferência de outros órgãos para o Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Invasões do MST: As invasões de terras promovidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) geraram grande preocupação e insatisfação entre os ruralistas, que condenam tais ações e cobram do governo uma resposta mais enérgica.

reprodução/Reprodução

MST na China: A presença do líder do MST, João Pedro Stédile, em um encontro oficial com o presidente da China, causou desconforto entre os ruralistas, especialmente após declarações públicas de Stédile sobre a retomada das invasões de terra.

Fascistas“: Comentários feitos por Lula em eventos do agronegócio, como a referência a “fascistas” durante a Agrishow, geraram desconforto e indignação entre os representantes do setor, que se sentiram desrespeitados pelo presidente.

Feira do MST: A presença de membros do governo, incluindo o vice-presidente Geraldo Alckmin, em uma feira nacional do MST, enquanto o movimento promovia invasões de terras, foi vista como uma afronta pelos ruralistas, que interpretaram o gesto como um apoio indireto às ações do MST.

Relembre brevemente esses 40 anos

José Sarney: Sarney foi o primeiro presidente civil após o período da Ditadura Militar no Brasil. Durante seu governo, uma das principais realizações foi a elaboração de uma nova Constituição em 1987. No entanto, enfrentou desafios significativos, como a forte oposição de grupos econômicos interessados em barrar certas propostas, como a reforma agrária.

Fernando Collor de Mello: O governo Collor foi marcado por medidas econômicas controversas, incluindo o confisco de poupanças dos brasileiros, conhecido como Plano Collor. Ele enfrentou um processo de impeachment em 1992 por acusações de corrupção, renunciando antes de ser condenado pelo Senado. Durante seu governo, ocorreu um período de transição no cenário agrícola brasileiro, com mudanças que posteriormente se consolidariam nos governos subsequentes.

Itamar Franco: Itamar assumiu a presidência após o impeachment de Fernando Collor. Seu governo foi marcado por mudanças significativas no cenário agrícola brasileiro, com uma diminuição nos dispêndios do orçamento para a função agrícola, mas um aumento notável no destaque do agronegócio brasileiro.

Fernando Henrique Cardoso: FHC foi o primeiro presidente a ser eleito para dois mandatos consecutivos desde a redemocratização. Durante sua gestão, houve uma série de reformas econômicas, incluindo a adoção do Plano Real, que estabilizou a economia brasileira. No campo agrícola, o país experimentou um forte crescimento do agronegócio.

Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010 e 2022 – atualidade)

Dilma Rousseff: Dilma foi a primeira mulher a ocupar a presidência do Brasil. Seu governo enfrentou desafios econômicos, incluindo uma recessão e uma crise política. Ela implementou políticas voltadas para a agricultura, como a demarcação de terras indígenas e a reforma agrária.

Michel Temer: Temer assumiu a presidência após o impeachment de Dilma Rousseff. Seu governo foi marcado por medidas para enfrentar a crise econômica e pela aprovação de reformas controversas. No campo agrícola, ele lançou planos para diminuir a burocracia e sancionou leis para renegociar dívidas de produtores atingidos pela seca.

Jair Bolsonaro: Bolsonaro é um político de direita que assumiu a presidência com uma plataforma conservadora. Seu governo foi marcado por políticas que incluíam questões ambientais e agrícolas, como o relaxamento das regulamentações ambientais e o apoio aos interesses dos ruralistas.

Em suma, os desafios enfrentados pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao agronegócio evidenciam as complexidades das relações entre política e setores econômicos. As divergências ideológicas, políticas e estratégicas entre o governo e os representantes do agro levaram a um cenário de tensões e desconfianças mútuas, dificultando a construção de uma relação de colaboração e diálogo.

A falta de consenso em questões como invasões de terras, declarações polêmicas e alinhamentos políticos evidenciam a necessidade de um maior esforço de conciliação e entendimento mútuo para promover o desenvolvimento sustentável e equilibrado do setor agrícola no Brasil.

Escrito por Compre Rural.

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Juliana Freire sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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