Há prazo para o fim das turbulências enfrentadas pela pecuária de corte?

Dados apresentados pelo instituto de pesquisa ESALQ/CEPEA mostram que em um ano, preços da arroba, do boi magro e do bezerro caem na mesma intensidade; confira uma análise sobre o futuro da pecuária de corte

O CEPEA, Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada ESALQ, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP), é o grande responsável por balizar preços da arroba do boi gordo e a maioria dos preços pecuários do Brasil. Nesta semana eles publicaram um artigo indicando que entre fevereiro/23 e fevereiro/24, os preços da arroba do boi, do boi magro e do bezerro apresentaram quedas em ritmos semelhantes.

Diante disso, pesquisadores do Cepea indicam que as relações de troca de fevereiro foram praticamente as mesmas das observadas há um ano, havendo apenas ligeira melhora na compra de bezerro. Dados do Cepea mostram que, de fevereiro de 2023 para fevereiro deste ano, o preço médio do bezerro de 8 a 12 meses Nelore acumula queda de 19% no estado de São Paulo, em termos nominais, passando de R$ 2.365,11 para R$ 1.920,25.

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Foto: Nelore Jaburi

Qual o cenário para 2024?

Os preços do boi gordo e da carne encerram fevereiro em queda. Segundo pesquisadores do Cepea, além da maior oferta de animais para abate, a demanda retraída por parte de frigoríficos reforça a pressão sobre as cotações. A demanda pós-carnaval não reagiu, e as cotações tanto para a arroba do boi gordo quanto da carne seguem pressionadas. Segundo pesquisadores do Cepea, alguns frigoríficos com escalas mais alongadas estiveram até mesmo fora das compras no início desta semana.

Considerando-se todas as negociações em praças paulistas, o intervalo médio entre o fechamento da venda/compra e o abate reduziu ligeiramente de janeiro para fevereiro (até o dia 27), passando de 15 para 13 dias, o que ainda significa escala alongada, conforme pesquisadores do Cepea.

Nesse cenário, os preços maiores foram deixando de ser praticados, e as médias regionais foram sendo reajustadas negativamente. No front externo, as exportações de carne bovina in natura registraram ritmo forte nos primeiros 10 dias úteis de fevereiro.

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Vacas Nelore Foto: Divulgação

Abate de matrizes preocupa setor

O abate de fêmeas bovinas em Mato Grosso está levando a uma redução alarmante no número de fêmeas em idade reprodutiva, o que pode ter sérias repercussões na oferta de bezerros a longo prazo. De acordo com dados do Instituto de Defesa Agropecuária do Estado (Indea), o rebanho bovino de Mato Grosso atingiu 34,10 milhões de animais em 2023, conforme o divulgado pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) .

O abate contínuo de vacas e novilhas nos últimos anos resultou em uma diminuição de 6,05% no número de matrizes disponíveis, considerando fêmeas em idade reprodutiva, ou seja, com mais de 24 meses de idade. Isso significa que a participação de fêmeas em idade reprodutiva no total de fêmeas do rebanho atingiu o menor nível já registrado, ficando em 62,88% em 2023.

Além disso, outro indicador que reflete a desmotivação dos criadores é a queda nos protocolos de inseminação artificial. Segundo a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), a comercialização de doses de sêmen destinadas à pecuária de corte em 2023 foi 5,40% menor do que em 2022, marcando o segundo ano consecutivo de declínio.

Considerando que a pecuária é uma atividade de longo prazo, a redução no número de matrizes disponíveis pode ter um impacto significativo na oferta de bezerros desmamados a partir do próximo ano. Este cenário levanta preocupações sobre a sustentabilidade e a viabilidade do setor pecuário em Mato Grosso nos próximos anos.

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Montagem Compre Rural

Há previsão de melhora?

Segundo Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócio, o ciclo pecuário de descarte de fêmeas está se encerrando. Os abates de fêmeas, somadas vacas e novilhas, juntas, representaram 44,1% do total de bovinos abatidos no acumulado de 2023, contra apenas 39,6% em 2022. Em 2024, iniciaremos a reversão do processo do ciclo pecuário.

Com a tendência de diminuição do ritmo de abate de fêmeas este ano, deverá haver maior estabilidade na oferta de animais para abates. Além disso, as exportações de carne bovina deverão ser favorecidas em 2024, com a demanda externa firme, principalmente da China, além do fraco crescimento da oferta dos principais concorrentes, como EUA, União Europeia, Argentina e Uruguai.

Isso permitirá a recuperação gradual dos preços da arroba de boi. Essa alta deverá ganhar corpo e ser mais intensa do que a do último ciclo, em decorrência do grande abate de fêmeas que tivemos nos últimos anos. Entretanto, neste momento, não temos indicativos para apontar uma arroba a R$ 400 em 2025. Mas veremos uma alta consistente dos preços da arroba na transição de 2024 para 2025.

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