Quem está melhor no controle ambiental, Brasil ou EUA?

A questão ambiental é um dos temas mais debatidos pela sociedade e relembrado durante o período eleitoral.

A Amazônia foi amplamente abordada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em discurso e durante reunião com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na Cúpula das Américas, que ocorreu na última semana em Los Angeles, na Califórnia.

Segundo o chefe do Executivo brasileiro, “nenhum país do mundo possui uma legislação ambiental tão completa e restritiva” e afirmou que o Código Florestal brasileiro deve servir de exemplo a outros países. “Afinal, somos responsáveis pela emissão de menos de 3% carbono do planeta, mesmo sendo a 10ª economia do mundo.”

“Para proteção das florestas, o governo federal reforçou o combate ao desmatamento e estabeleceu a operação Guardiões do Bioma Amazônia, sob a coordenação e controle do Ministério da Justiça”, completou o presidente. Segundo ele, 84% da floresta está “intacta” no bioma amazônico, acrescentando que o país não necessita da região para expandir o agronegócio.

As declarações do presidente brasileiro vêm em um momento em que o Brasil é alvo de críticas sobre a preservação de seus recursos naturais.

No encontro com Biden, foi abordada uma parceria de desenvolvimento sustentável na Amazônia, “para reduzir drasticamente o desmatamento”. Bolsonaro alegou que sentia a soberania do Brasil ameaçada na região.

Se, por um lado, o Brasil tem sido alvo de críticas, os Estados Unidos, anfitrião das discussões, não são exatamente um exemplo de cuidados com o meio ambiente.

Com a ajuda de especialistas, a CNN elencou vários indicadores e estudos comparando os dois países na questão ambiental:

  • Desmatamento 2011-2021: Brasil: 33,5 milhões de hectares x Estados Unidos 22,2 milhões de hectares
  • Saúde dos oceanos: Brasil: média de 72 pontos x Estados Unidos: média de 73 pontos (até 100 pontos)
  • Clima: Brasil: 54,81 pontos (33º lugar) x Estados Unidos: 37,36 pontos (55º lugar) (melhor para o pior)
  • Qualidade do ar: Brasil: 75ª posição x Estados Unidos: 90º lugar (melhor para o pior)
  • Países mais poluentes em 2020: Brasil: 467 milhões de toneladas de COx Estados Unidos: 4 bilhões de toneladas de CO2
  • Utilização de energia em 2022: Brasil: 9º lugar x Estados Unidos: 58º lugar (melhor para o pior)
  • Energia renovável: Brasil: 9º lugar x Estados Unidos: 53ª lugar (melhor para o pior)

Alexander Turra, professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador da Cátedra da Unesco para sustentabilidade do oceano, e Carlos Rittl, especialista em políticas públicas da Rainforest Foundation da Noruega, concordam que os Estados Unidos possuem na atualidade melhores políticas para a preservação ambiental do que o Brasil.

Acordos climáticos

O Brasil, os Estados Unidos e mais 193 países assinaram o Acordo de Paris em 12 de dezembro de 2015, durante a COP 21 (21ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas). O acordo tem como meta principal a redução das emissões de carbono e entrou em vigor em 4 de novembro de 2016.

Já no ano passado, durante a COP 26, 196 nações–incluindo Brasil e Estados Unidos– assinaram o Acordo de Glasgow. Uma das maiores conquistas foi o compromisso dos países em reduzir a utilização de carvão, o maior contribuinte final para as mudanças climáticas.

Carlos Rittl expõe que foram definidas nos EUA “metas de redução de emissões de gás de efeito estufa, inclusive mais ambiciosas do que a da era Obama [presidente dos EUA de 2009 a 2017], tanto para 2030 como para 2050 na neutralidade de carbono”.

Ritti acrescenta que Biden ainda recuperou “medidas para controle ou para eficiência de motores de veículos, para controle de poluição de indústrias, de era usinas de geração de energia, padrões de emissões de gases de efeito estufa da aviação e mais uma série de outras medidas que visavam pavimentar o caminho pra justamente se atingir a redução de emissões propostas”.

Já o Brasil, em sua visão, está no caminho contrário. “O presidente Jair Bolsonaro ameaçou em 2018, ainda antes de assumir [o mandato], retirar o Brasil do Acordo de Paris –não retirou o Brasil do acordo de Paris por conta de pressões comerciais. Parceiros comerciais do Brasil poderiam adotar retaliações fortes em relação a produtos brasileiros pela falta de uma agenda climática e de um compromisso com os esforços globais de combate às mudanças climáticas”, destacou.

“O Brasil apresentou metas de redução de emissão de gases de efeito estufa em 2020 que são piores do que as anunciadas em 2015. Isso vai contra princípios do Acordo de Paris de não retrocesso, de que sempre uma nova [meta] tem que ser melhor do que as anteriores.”

Para Alexander Turra, ambos os países contribuem enormemente pra emissões e são importantes atores nessa transição, com peculiaridades nas transmissões: no Brasil, gado e queimadas. Nos Estados Unidos, queima de combustíveis e aquecimento das residências.

“No Brasil, mais recentemente, começamos a contribuir mais pela queima de combustíveis das termelétricas, em função de crise hídrica e má gestão da crise”. “Tivemos semelhança entre governo [Donald] Trump e o governo brasileiro em negar as mudanças do clima e fortalecer a agenda do combustível fóssil”.

Desmatamento

Brasil

Segundo dados do Global Florest Watch, em 2010 o Brasil o possuía 492 milhões de hectares de florestas naturais, que se estendiam por mais de 59% de sua área terrestre. Em 2021, foram perdidos 2,9 milhões de hectares, o equivalente à emissão de 1,7 bilhão de toneladas de dióxido de carbono (CO2).

Entre 2011 e 2021, foram perdidos no Brasil 33,5 milhões de hectares de cobertura arbórea (incluindo florestas primárias secas e não tropicais, florestas secundárias, plantações de árvores, e floresta primária úmida). O número é equivalente a uma diminuição de 6,5% desde 2000, com a emissão de 20,2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono e outros gases.

Do total, 69% dos casos ocorreram em áreas onde os fatores dominantes terminaram em desmatamento.

No mesmo período, foram devastados 15,2 milhões de hectares de floresta primária úmida, impactando em uma redução de 4,5% no período. O número representa 45% da perda arbórea.

Os estados que tiveram maiores perdas no período foram:

  1. Pará: 8,35 milhões de hectares;
  2. Mato Grosso: 5,53 milhões de hectares;
  3. Maranhão: 3,83 milhões de hectares;
  4. Amazonas: 2,46 milhões de hectares;
  5. Rondônia: 2,12 milhões de hectares.

Até 2010, 58% do Brasil era de cobertura de floresta natural, com as seguintes medidas:

  • Floresta natural: 492 milhões de hectares;
  • Plantações: 6,20 milhões de hectares;
  • Cobertura arbórea fora de florestas: 352 milhões de hectares.

Conforme Rittl, o governo tem mandado para o Congresso Nacional uma série de propostas que vão aumentar o desmatamento, como a abertura de terras indígenas para mineração.

Alertas de queimadas

Brasil

Entre 10 de junho de 2019 e 6 de junho de 2022, o Brasil apresentou 324 mil alertas de queimadas. O pico foi em 7 de setembro de 2020, com 18 mil chamados.

Estados Unidos

Em 2010, os Estados Unidos possuíam 252 milhões de hectares de florestas naturais, que se estendiam por mais de 29% de sua área terrestre. Em 2021, foram perdidos 1,7 milhão de hectares, impactando na emissão de 775 milhões de toneladas de dióxido de carbono.

Entre 2011 e 2021, foram perdidos nos Estados Unidos 22,2 milhões de hectares de cobertura arbórea. O resultado mostra uma diminuição de 7,9% de vegetação desde 2000. Foram lançados 9,86 bilhões de toneladas de dióxido de carbono e outros gases na atmosfera.

Do total, 5,7% dos casos ocorreram em áreas onde os fatores dominantes terminaram em desmatamento.

No mesmo período, foram devastados cerca de 1.000 hectares de floresta primária úmida, impactando em uma redução de 0,57% no período. O número representa perda de 0,1% da perda arbórea.

Os estados que tiveram maiores perdas foram:

  1. Alasca: 2,29 milhões de hectares;
  2. Califórnia: 1,76 milhões de hectares;
  3. Geórgia: 1,76 milhões de hectares;
  4. Alabama: 1,54 milhões de hectares;
  5. Óregon: 1,25 milhões de hectares.

Até 2010, 27% dos Estados Unidos eram de cobertura de floresta natural, com as seguintes medidas:

  • Floresta natural: 252 milhões de hectares;
  • Plantações: 20,4 milhões de hectares;
  • Cobertura arbórea fora de florestas: 675 milhões de hectares.

Rittl elucida que “o desmatamento nos Estados Unidos se dá pela exploração de madeira. Então, na maior parte das áreas, essa exploração de madeira segue regras de manejo ou de regeneração natural –deixar aquela área descansando um tempo suficiente pra que tenha árvores de porte, que permitam o novo manejam uma nova exploração– ou por recomposição, plantio de árvores, plantio de mudas de árvores exploradas.”

Em seu parecer, “a perda de um ambiente destruído no Brasil, em termos de impacto pra biodiversidade, é muito maior do que o desmate ou o manejo de florestas nos Estados Unidos.”

Entre 10 de junho de 2019 e 6 de junho de 2022, os Estados Unidos apresentaram 640 mil alertas de queimadas. O pico foi em 16 de agosto de 2021, com 45 mil chamados.

“Os Estados Unidos têm áreas muito vulneráveis a incêndios. E basicamente os incêndios, na sua grande maioria, são naturais em função de um clima muito seco, temperaturas muito altas e com uma vegetação muito seca. Então, há ocorrência de incêndios provocados por ações humanas, mas há muitos incêndios que acabam sendo naturais”, justifica Rittl.

“No caso do Brasil, a maior parte dos incêndios é provocado por ações humanas. A Amazônia não é uma floresta que queima naturalmente. Você tem áreas do Cerrado brasileiro que, sim, podem ser estar sujeitos a incêndios naturais, mas não na escala, na dimensão, na extensão que hoje em dia a gente tem de áreas atingidas por incêndios no cerrado”, encerra.

Saúde dos oceanos

Como os países cuidam de seus oceanos? O Ocean Health Index estipula uma média de saúde dos oceanos distribuídos pelas nações que eles banham, em um ranking com indicadores que fazem uma classificação até 100 pontos. Neste indicador, o Brasil alcança uma média de 72 pontos na série histórica entre os índices analisados desde 2012. Os Estados Unidos, por sua vez, somam 73.

Entre as 220 regiões classificadas pelo ranking, os norte-americanos ocupam a posição 63, dez à frente do Brasil, 73º. Para estipular essa média, o Ocean Health Index divide a classificação em uma série de categorias. A pior qualificação brasileira é no quesito “Turismo e Recreação”, em que registra 27; a melhor é no “Acúmulo de Carbono”: 99.

Os Estados Unidos também têm sua pior qualificação em Turismo e Recreação, com 45, e alcançam 97 em “Produtos Naturais”.

Veja os indicadores:

Alexander Turra diz que o processo de degradação dos oceanos acontece por diversas frentes: “poluição por esgoto, lixo, agrotóxicos, fertilizantes, metais pesados, e derivados de petróleo”.

Ele detalha esse processo de degradação: “pesca excessiva, afetando tanto as populações caçadas e efeito via cadeia alimentar; número crescente de espécies exóticas invasoras; mudança climática, por exemplo com acidificação dos oceanos, clareamento dos corais. Precisamos racionalizar e fazer atividades humanas de forma a consumir menos recursos e gerar”, complementa.

Já Carlos Rittl afirma que a proteção costeira no Brasil é maior porque as áreas são menos impactadas pelo nível de desenvolvimento urbano do que nos Estados Unidos.

“Nos Estados Unidos, você tem um desenvolvimento costeiro maior. No Brasil, há muitas áreas em torno de capitais que são próximas ao litoral de algumas cidades de tamanho significativo que são costeiras, mas há muitas áreas que não tem um desenvolvimento urbano intenso, com infraestrutura de residências, rodovias, de portos, tão grande quanto nos EUA”.

Sobre a poluição oceânica, Rittl justifica que os Estados Unidos possuem padrões mais rígidos de tratamento de esgoto que o Brasil. “No Brasil, a gente tem uma parte muito significativa da população que ainda não tem esgotamento sanitário nas suas residências.”

Clima

Assim como ocorre no ranking de saúde dos oceanos, a classificação das mudanças climáticas é o resultado da média de um grupo de critérios aplicados a cada país. O cálculo é realizado pelo Índice de Mudanças Climáticas (The Climate Change Performance Index).

Em 2013, primeiro ano do ranking, os critérios eram os seguintes: emissão de gases poluentes (peso de 30%), desenvolvimento da emissão (30%), energias renováveis (10%), eficiência (10%) e políticas climáticas (20%).

Houve uma alteração em 2018, quando emissão de gases poluentes (40%), energias renováveis (20%), uso de energia (20%) e políticas climáticas (20%) passaram a formar a média.

De 2013 a 2017, os Estados Unidos oscilaram entre a 34º e a 43º posição no ranking de mudanças climáticas. Desde 2018, o país orbitou entre o 55º –neste ano– e o 61º lugar. A média atual do país é 37,36.

Desde 2018, o Brasil caiu 14 posições no ranking, chegando ao 33º lugar em 2022. Antes disso, o país variou da 33ª à 49ª posição. A mudança nos critérios de classificação, em 2018, proporcionou um salto relevante ao país, que subiu 21 posições (do 40º ao 19º lugar) em um ano.

Veja o ranking climático:

Qualidade do ar

O relatório da IQAir, empresa que monitora a qualidade do ar global, divulgado em março deste ano, mostrou que a poluição média anual do ar em todos os países –e 97% das cidades– excedeu as diretrizes de qualidade do ar da Organização Mundial da Saúde (OMS), projetadas para ajudar os governos a criar regulamentos para proteger a saúde pública.

Este foi o primeiro grande relatório global de qualidade do ar baseado nas novas diretrizes anuais de poluição do ar da OMS, que foram atualizadas em setembro do ano passado. Foi reduzida pela metade a concentração aceitável de partículas finas –ou PM 2,5– de 10 para 5 microgramas por metro cúbico.

O PM 2,5 é o menor poluente, mas também um dos mais perigosos. Quando inalado, ele viaja profundamente no tecido pulmonar, onde pode entrar na corrente sanguínea. Ele vem de fontes como a queima de combustíveis fósseis, tempestades de poeira e incêndios florestais, e tem sido associado a uma série de ameaças à saúde, incluindo asma, doenças cardíacas e outros problemas respiratórios.

Em ordem decrescente, do pior para o melhor, o Brasil aparece na 75ª posição, com 13,6 µg/m3, em 117 países. Já os EUA estão no 90º lugar, com 10,3 µg/m3. Ambos excedem em duas ou três vezes as medidas da OMS.

A análise mostra que o Brasil está progredindo na redução das taxas de poluição do ar. Em 2020, as concentrações de PM 2,5 estavam em 14,2 µg/m3. Das 33 cidades brasileiras que foram incluídas no estudo, apenas Fortaleza e Piancó (PB) atenderam aos índices da OMS.

As principais atividades que contribuem para a contaminação do ar brasileirão são: a indústria de cimento, produção petroquímica, de aço, mineração, queimadas agrícolas e produção de veículos.

“Os recentes desafios econômicos no Brasil levaram a um aumento do número de famílias usando lenha como fonte de energia para cozinhar. O desemprego, o aumento de preços e a inflação são alguns dos motivos para que a madeira seja hoje a segunda fonte mais utilizada no país, precedida pela eletricidade. A queima de madeira contribui para o PM 2,5 com a poluição, resultando em ataques de asma, ataques cardíacos e insuficiência cardíaca, entre outros efeitos na saúde”, explicam.

Já nos EUA, a poluição do ar aumentou em comparação com 2020. Das mais de 2.400 cidades dos EUA analisadas, o ar de Los Angeles permaneceu o mais poluído, apesar de ter uma queda de 6% em relação ao ano anterior.

Atlanta e Minneapolis tiveram aumentos significativos na poluição. Em todo o país, cerca de 264 milhões de pessoas habitavam áreas onde os níveis de poluição estavam acima das normas das Nações Unidas.

“A dependência dos Estados Unidos de combustíveis fósseis, o aumento da gravidade dos incêndios florestais, bem como a aplicação variável da Lei do Ar Limpo de administração para administração, tudo isso contribuiu para a poluição do ar nos EUA”, indica.

Países mais poluentes

Conforme números do Global Carbon Project, em atualização de 2020, a China é o país que mais poluí, com lançamento de cerca de 10 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) e demais gases.

Os Estados Unidos aparecem na segunda posição, com cerca de 4 bilhões. O Brasil fica apenas na 12ª, com com 467 milhões.

Confira o ranking:

Emissão de gases poluentes nos Estados Unidos e Brasil

Ainda de acordo com Global Carbon Project, dados analisados entre 2011 e 2020 mostram que os Estados Unidos despejaram uma média de 5 bilhões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases poluentes na atmosfera anualmente.

O maior indicador norte-americano foi medido em 2011, com 5,5 bilhões de gases.

Já o Brasil, chega em uma média de 400 milhões. O auge registrado foi em 2013, com 532 milhões de gases lançados.

Turra manifesta que a qualidade do ar não é só CO2. Há os particulados que vão para atmosfera e derivam da queima do combustível. Há limites de emissões para os particulados nos dois países. Há combustíveis mais emissores dessas partículas, como o diesel.

“O Brasil tem a possibilidade com o álcool, o biocombustível, de reduzir as emissões não só de CO2, mas de particulados. É um potencial que os Estados Unidos têm menos.”

Mas em sua visão, o Brasil tende a piorar na emissão de gases, “e não melhorar no sequestro [plantio e restauração de floresta]. Caminho contrário do que tá acontecendo na Amazônia. Em vez de queimar, plantar.”

Rittl reafirma a posição. “Nos Estados Unidos, as principais fontes de emissões são a queima de energia, nas usinas de geração de energia termoelétricas e queima de combustíveis do transporte, além de emissões de processos industriais. No Brasil, a principal fonte de emissões é o desmatamento, seguido de emissões da agricultura e do setor de energia.”

Veja o comparativo:

Utilização de energia

Muito países aumentaram a utilização de energia a partir de 2019, mas o Brasil se manteve com uma boa média e ficou na 9ª colocação, mostrando um bom uso do recurso, conforme o Índice de Desempenho em Mudanças Climáticas 2022.

Já os Estados Unidos, chegam apenas em 58º, com uma performance muito ruim e um consumo muito alto.

Energia renovável

O mundo vem cada vez mais utilizando fontes renováveis de energia. O Índice de Desempenho em Mudanças Climáticas 2022 mostra que, em 2020, 81% da capacidade total de eletricidade foram desta maneira.

O Brasil ocupa o 9º lugar no ranking, ficando muito acima dos Estados Unidos, que se encontra apenas na 53ª colocação.

Entretanto, menos de 6% da produção de energia em terras brasileiras são de fontes renováveis, como a eólica e solar. O bom resultado é obtido devido ao uso de hidrelétricas como fonte primária.

“Essa dependência torna o país vulnerável às secas, o que por sua vez traz aumento do uso de eletricidade fóssil”, explica o relatório.

No Índice de Atratividade do País para Energias Renováveis ​​(Recai, na sigla em inglês), da EY, divulgado em outubro de 2021, os Estados Unidos estão à frente de quarenta países na questão. O Brasil aparece em 9º.

Os norte-americanos vencem nas categorias de captação de energia eólica no mar e na terra, solar e geotérmica. Os brasileiros superam em biomassa e hidroelétrica.

“A capacidade e geração de energia renovável do Brasil supera em muito a de outros mercados latino-americanos, e é líder global na produção de hidroeletricidade. No entanto, uma dependência excessiva da hidrelétrica a deixou suscetível aos impactos da seca”, justifica a EY.

“A produção de energia solar foi prejudicada por requisitos de conteúdo local que, muitas vezes, impedem os desenvolvedores de acessar financiamento de longo prazo dos bancos de desenvolvimento”, finaliza a entidade.

Alexander Turra explica que “o oceano é nosso manancial de energia limpa e renovável pro futuro. Traz possibilidade de explorar a energia limpa de várias formas. Eólica e solar no mar em vez da terra”.

“No Nordeste há desenvolvimento de parques eólicos offshore: geração de energia a partir de diferença de temperatura e salinidade. Como se o mar fosse uma pilha. Polo positivo e frio ou densidade mais baixa e outra alta, se faz essa energia circular.”

Para Rittl, “quando você olha a matriz energética brasileira e a matriz de eletricidade em especial, o Brasil tem mais fontes não-fósseis do que outros países. Então, isso deve, de uma certa forma, explicar a diferença entre a posição do Brasil e Estados Unidos nesse índice de performance climática.”

Mas quem degrada mais?

Na opinião de Alexander Turra, é preciso relativizar de acordo com a economia e a população. A tendência do Brasil é piorar ou estagnar na agenda do clima. Já os Estados Unidos devem melhorar.

“A comparação tem de ser feita do país com ele mesmo no futuro, por especificidades. Em tendência, há países com inclinação muito maior, como Canadá, Reino Unido, Alemanha, que trabalham mais fortemente na agenda climática que Estados Unidos e Brasil”, fundamenta Turra.

“Os Estados Unidos, há dez anos, tinham relutância muito grande a acordos do clima, mas assinaram. Em termos de transição para economia de baixo carbono, os EUA estão muito mais direcionados a isso que o Brasil.”

Carlos Rittl tem a mesma visão, explicando que os Estados Unidos estão em um processo de adoção de políticas que visam o controle ambiental e de emissão de gás de efeito estufa, enquanto o Brasil abandonou as medidas.

“Então, o Brasil está num momento equivalente ao da gestão Trump, período em que os Estados Unidos saíram do Acordo de Paris, extinguiram ou reverteram uma série de medidas adotadas na gestão de [Barack] Obama no sentido de controle ambiental e das emissões de poluente e de gases de efeito estufa.”

“No caso do Brasil, a gente está vivendo esse momento agora. Houve uma série de medidas infra legais ou adoção ao abandono de políticas, como por exemplo dos planos de prevenção e controle de desmatamento na Amazônia Legal, o equivalente no Cerrado, esses planos foram abandonados.”

Caminhos para preservação do meio ambiente

Os caminhos para a preservação do meio ambiente, segundo Turra, são baseados em políticas lastreadas nas ações efetivas dentro de cada país.

“Para isso, é preciso arranjo institucional, legal, investimento e ações. Quando você tem isso, é como se tivesse clareza, não é só como tivesse interesse, mas comprometimento, que se traduz em recursos, pessoal, financeiro etc. É necessário que não fique só no discurso, que se capilarize em ações efetivas. Se transforme em real comprometimento.”

“A agenda [climática/ambiental] não é algo que você liga e desliga. Ela é de longo prazo, envolve movimento muito articulados. Comprometimento a longo prazo e manutenção das ações.”

Rittl salienta que a cooperação em meio ambiente requer uma aproximação entre os dois países numa agenda mais ampla.

“Na ausência desse alinhamento, dessa convergência de visão de mundo, de visão de desenvolvimento, de visão de desenvolvimento sustentável e de entendimento do problema do desmatamento, por um lado enxerga-se como um problema do outro, aqui no caso do Brasil, há uma condescendência absoluta com o crime ambiental.”

Fonte: CNN
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