Ratos podem causar danos superiores a 30% das plantações de milho em Mato Grosso

Os roedores, de hábitos predominantemente noturnos, realizam perfurações no solo em busca das sementes de milho, deixando um rastro de destruição em seu caminho.

A presença alarmante de ratos nas plantações de milho em Mato Grosso tem gerado inquietação entre os agricultores, resultando em perdas consideráveis para os produtores locais. Na região de Nova Mutum, localizada no médio-norte do estado, uma propriedade específica está enfrentando prejuízos significativos, calculados em cerca de 30% da produção total de milho, devido à infestação dessa praga.

Renan Leal Favretto, produtor responsável pela propriedade em Nova Mutum, relata que, dos quatro mil hectares destinados ao cultivo do milho nesta segunda safra, aproximadamente 350 hectares foram invadidos pelos roedores. Apesar de terem sido adotadas medidas de manejo para controlar a situação, o ataque repentino revelou-se devastador. Renan destaca que as perdas foram expressivas em várias áreas da plantação, evidenciando a complexidade da situação.

“É algo completamente inesperado. Nunca imaginamos enfrentar uma situação como essa. É difícil identificar a localização deles, pois existem várias tocas. Tentei até jogar água nos buracos, mas alguns têm ratos saindo, enquanto em outros não. Eles estão espalhados por diversos lugares”, relata o produtor.

Segundo Renan, os roedores têm hábitos noturnos, perfurando o solo para acessar e consumir as sementes de milho, deixando para trás um rastro de destruição em seu caminho.

“Quando veem que o milho está ali, cavam buracos para arrancar os grãos. Isso é mais crítico nesta fase, pois as plantas ainda não possuem raízes desenvolvidas. Como resultado, a planta é arrastada junto com o grão, tomba e acaba morrendo. Estamos enfrentando uma redução significativa no estande, chegando a 30%”, explica o agricultor.

Foto: Pedro Silvestre

Rato é praga de rápida disseminação

A presença preocupante de ratos nas plantações de soja durante a temporada agrícola de 2023/24 já havia sido destacada por produtores e especialistas, conforme apontado pelo consultor Cledson Guimarães Dias Pereira. Ele observa que diversas lavouras sob sua supervisão na região também foram alvo da praga. Em uma propriedade de quase três mil hectares, aproximadamente metade da área apresenta registros de perdas decorrentes da infestação.

O consultor ressalta que, inicialmente, a presença dos roedores foi notada na soja, onde se alimentavam das vagens, mas o problema se intensificou significativamente no milho.

Ao analisar a situação, Cledson aponta a irregularidade das chuvas no atual ano-safra como um possível fator contribuinte para a proliferação dos roedores.

“As tocas deles estão secas, e isso não os afetou. Eles não precisaram migrar para outras regiões em busca de abrigo. Acredito que essa seja uma das razões pelas quais estamos testemunhando tantos ataques nas lavouras este ano. Os ratos têm uma biologia que favorece uma disseminação rápida. Pode-se ter 100 em um ano e, no próximo, chegar a 20 mil. É uma situação complicada”, afirma o consultor.

A explicação oferecida destaca a importância de compreender os fatores ambientais que contribuem para o aumento da infestação de roedores nas lavouras, enfatizando a necessidade de estratégias adaptativas por parte dos agricultores diante das condições climáticas variáveis. Essa análise ressalta a complexidade do desafio enfrentado pelos produtores na proteção de suas culturas contra as ameaças imprevisíveis, exigindo abordagens inovadoras e proativas para o manejo eficaz dessa problemática.

Menos estande, mais prejuízo

De acordo com o engenheiro agrônomo Naildo Lopes, a redução significativa nos estandes das áreas cultivadas, variando entre 30% e 50%, está gerando consideráveis prejuízos aos agricultores. Este cenário se agrava diante de um ano-safra caracterizado por uma queda nos preços e custos de produção ainda elevados.

Lopes destaca a presença de corujas e gaviões como fatores benéficos em certas regiões das plantações, uma vez que essas aves atuam como inimigos naturais dos ratos, minimizando os danos causados às plantações.

A preocupação tanto dos profissionais da área agronômica quanto dos produtores é encontrar estratégias eficazes para superar esse desafio. A situação de estandes reduzidos, que já representa prejuízo financeiro para os agricultores, impede a obtenção de uma produção que cubra os custos de produção.

Naildo ressalta a inexistência de uma solução de curto prazo para o problema da praga. Ele enfatiza a necessidade de implementar soluções de médio e longo prazo, envolvendo tecnologias e esforços contínuos, para atenuar os riscos e reduzir a população de ratos, cuja tendência é aumentar. Essa abordagem visa enfrentar os desafios de forma mais abrangente e sustentável ao longo do tempo.

Sobras de colheita são atrativos

A presença abundante de resíduos de colheita, especialmente provenientes do milho, é identificada como o principal fator estimulante para a proliferação de ratos nas áreas agrícolas. Para mitigar esse desafio, a recomendação técnica enfatiza a implementação de um rigoroso manejo de limpeza após a conclusão de cada safra, visando significativa redução na população desses animais nas plantações.

O chefe de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Soja em Londrina (PR), Adeney de Freitas Bueno, destaca a importância dessa prática fitossanitária como a principal estratégia preventiva para conter o crescimento do problema. Ele ressalta a necessidade de colher o milho de maneira eficiente, evitando que as espigas permaneçam no solo, eliminando assim o atrativo para os roedores e, consequentemente, reduzindo os impactos causados por esse desafio.

Além disso, Bueno enfatiza que a mesma abordagem é aplicável à cultura da soja, não apenas para evitar a presença de roedores, mas também como medida preventiva contra outras pragas e doenças que possam afetar a plantação. Essa prática abrangente visa não apenas mitigar os problemas relacionados aos ratos, mas também fortalecer a saúde geral das lavouras.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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