Redução dos juros brasileiros podem ficar somente para agosto

Banco Central se reúne para definir política monetária; analistas comentam expectativas para a decisão em relação à taxa Selic, que deve ser divulgada nesta quarta em comunicado

Nesta terça e quarta, o Copom – Comitê de Política Monetária do Banco Central se reúne e divulga a decisão em relação a taxa Selic. Apesar da forte pressão do governo para o corte de juros, em entrevista recente, o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central, Renato Dias Gomes, defendeu que o Copom não deve ter pressa na redução dos juros.

Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos e pós-graduado em análise financeira, acredita que a queda de juros não virá nesta reunião. “Os indicadores estão sim melhorando. Tivemos um PIB acima do esperado e inflação arrefecendo. Mas vejo um possível corte a partir de agosto“, afirma.

Essa é também a projeção da maior parte do mercado, apesar de o Banco Central não ter feito nenhuma sinalização a respeito disso. Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações, concorda e acredita que diversos dados econômicos divulgados recentemente contribuem para a decisão de corte de juros nos próximos meses. “A economia brasileira vem de uma maré positiva, com um fluxo de resultados muito bons, o que ajuda a reforçar a confiança do consumidor e do empresário, ajudando a forjar o sentimento de riqueza que estimula as pessoas a consumirem mais e, apesar das previsões de final de ano não serem muito positivas para 2023, o ano vem surpreendendo no mês a mês, e em abril não será diferente. O consumo interno forte, que é um dos grandes motores da economia brasileira, representando mais de 40% do PIB, mostra que devemos manter no segundo semestre o ritmo de crescimento pujante dos últimos meses”, afirma Alves.

Além disso, para Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, outro fator para a queda de juros esperada para agosto é que o Brasil foi também um dos primeiros países do mundo a iniciar o ciclo de aperto monetário. “O Brasil começou o dever de casa mais cedo subindo juros antecipadamente e, com isso, não tivemos uma inflação tão alta crescendo tão rapidamente como outros países tiveram. Isso permite juros estáveis há mais tempo e EUA, por exemplo, só pausou alta de juros agora, sendo esperadas novas altas. Temos o arcabouço fiscal encaminhado, diversos dados positivos, PIB melhor que o esperado. Na minha opinião, o Brasil está em momento que propicia que juros comecem a cair e a própria curva de juros mostra que isso vai acontecer. Campos Neto (presidente do Banco Central) já deu a sinalização de que vai falar sobre essa expectativa nas próximas semanas. Resta aguardar as cenas dos próximos capítulos”, comenta Cohen.

Na última segunda, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse que a equipe econômica do governo federal fez seu “dever de casa” e criou as condições necessárias para um corte de juros em agosto por parte do Banco Central. Para Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, a fala acaba não fazendo preço na curva de juros. “Não acho que qualquer declaração da Tebet ou de outros membros do governo cause interferência na curva de juros. São as falas futuras do Roberto Campos Neto, dos membros do BC, que podem fazer preço, mesmo que haja muita pressão política. Há muito ruído gerado por parte do governo, mas não acho que influencie. A antecipação da queda de juros já vem acontecendo”, diz Jorge. Para ele, o início do corte de juros é esperado para a partir de agosto. A dúvida fica se o “pace” de queda de juros deverá ser em tranches de 0,25 ou 0,50.

Com a taxa provavelmente sendo mantida na reunião de junho, muitos investidores se perguntam onde investir. De acordo com Caio Canez de Castro, sócio da GT Capital, apesar de ser uma janela de oportunidade que está se fechando, as melhores oportunidades de ganho estão nos investimentos de longo prazo, atrelados ao IPCA, como o Tesouro IPCA + ou os títulos de crédito privado como CRA, CRI e debêntures.

“Estes investimentos pagam a variação da inflação e mais uma taxa prefixada, que atualmente está nos melhores níveis históricos, ou seja, uma boa oportunidade para garantir rentabilidades superiores ao mercado no futuro”, ressalta. Castro comenta que para os investidores com pouco capital ou que estão começando, a recomendação é parecida: “Aproveitar a oportunidade para ‘travar’ as melhores taxas hoje, porém com a ressalva de priorizar o maior número de aportes nas suas reservas de emergências que for possível, pois com a alta taxa de juros o efeito da rentabilidade nos investimentos será muito maior e o acúmulo de capital será potencializado”.

Já segundo Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, apesar de haver perspectiva de cortes nas taxas de juros a partir do segundo semestre, a aplicação em renda fixa pós-fixada continua valendo a pena para papéis de até dois anos, pois a taxa deve cair, mas de forma moderada, de acordo com o último Boletim Focus, no qual a maior parte do mercado acredita que a taxa Selic chegue no final do ano em 12,5%, um patamar alto de taxa de juros e ainda distante de chegar em um dígito.

Na visão de Ana, os títulos prefixados estavam mais atrativos há alguns meses quando o mercado ainda não enxergava a queda da taxa Selic. Com os últimos dados de inflação e a possibilidade de queda dos juros, as curvas futuras caíram e as taxas dos títulos prefixados acompanharam essa queda. “Desta forma, os títulos com maiores prêmios são os de longo prazo, de quatro anos ou mais, porém aqui o risco é maior, pois envolve muitas incertezas no meio do caminho, como alta de inflação, uma política fiscal expansionista ou mudanças na condução do BC, o que levariam à necessidade de subir novamente a Selic”, afirma. Por isso, a especialista acaba dando preferência aos investimentos em títulos pós-fixados e os que remuneram de acordo com o IPCA.

Por outro lado, Douglas Medeiros, sócio da Matriz Capital, acredita que o investidor, iniciante ou não, precisa priorizar nesse momento a escolha de títulos que possuem liquidez. “Desse modo, ele não fica com o seu capital preso a um único investimento, podendo tomar decisões rápidas e acompanhar a mudança do mercado”, analisa. Ele também ressalta que, mesmo com taxas atraentes, o investidor deve ter o cuidado de analisar quais são as empresas emissoras dos títulos, se elas são saudáveis ou não. E, se for investir em títulos públicos federais, por exemplo, qual o vencimento do título, pois ele corre o risco de ter o seu dinheiro investido em um título muito longo, que, em uma mudança de cenário de taxa de juros, deixa de ser atraente.

Andre Fernandes, sócio da A7 Capital, explica ainda que o mercado já precifica SELIC a 12,25% para o fim de 2023, por isso a curva de juros vem em queda nas últimas semanas. “Tanto na curva como no relatório FOCUS, isso está ajudando a derrubar os juros futuros nos últimos dias. Além disso, alguns agentes como a XP, já acreditam que o primeiro corte deve vir de 0,25% em agosto e, em seguida, os cortes serão de 0,50% em 0,50% levando a SELIC a 11% até o final do primeiro trimestre de 2024”.

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