Rei do gado: Brasil terá 264 milhões de cabeças de gado

O país, segundo os dados, deve atingir um volume de 264 milhões de cabeças de gado e se consolidar como o maior rebanho comercial do mundo!

O rebanho mundial de bovinos deve superar 1 bilhão de cabeças este ano, o que significará o maior patamar desde 2009, com um avanço de 0,7% (ou 6,4 milhões de cabeças) em relação a quantidade de animais verificada em 2020. O USDA acredita que o número deverá crescer 4% neste ano e chegar, em janeiro de 2022, a 264 milhões de cabeças de gado.

Segundo o documento elaborado por Saulo Nogueira, pecuaristas estão retendo fêmeas para produzir bezerros e aproveitar os altos preços do boi. O USDA prevê, ainda, que a demanda global por carne bovina será menor em 2022. Um ponto que chama atenção, é a divergência em relação aos números, vamos avaliar abaixo!

Qual o real tamanho do rebanho brasileiro?

Dados divergentes sobre o tamanho do rebanho bovino brasileiro continuam a gerar ruído na cadeia produtiva e alguma incerteza em planejamentos de longo prazo. Ainda são grandes as diferenças entre estimativas oficiais e privadas, e até o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), cujas estatísticas são referência no comércio internacional, colabora para aprofundá-las. 

Projeção divulgada em agosto pelo órgão americano apontou que o rebanho bovino do Brasil é 40% maior do que o estimado pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) no Beef Report, publicado em junho. No anuário, a Abiec calculou entre 175 milhões e 180 milhões de cabeças de gado, enquanto o USDA, no documento Livestock and Products Annual, indicou que existiam 252,7 milhões de cabeças em janeiro.

A Abiec argumenta, no Beef Report, que o comportamento do mercado desde 2019 indica que não há como o país ter mais de 215 milhões de cabeças em seu território. Sócio-diretor da Athenagro, empresa responsável pela organização dos dados, Maurício Nogueira afirma que nada explica o número do USDA. 

A projeção da Athenagro combina dois levantamentos do IBGE: o Censo Agropecuário de 2017, que estimou 172 milhões de cabeças, e a Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) mais recente, de 2019, que calculou 214,7 milhões de cabeças.

Foto: @joaopedrodiasnc

Nogueira explica que o dado da PPM pode ser “inflado”, já que pecuaristas mantêm gado abatido em seus números de estoque para não ter problemas com o Incra. Acontece que, segundo o diretor, o índice de uso da terra da instituição é calculado em cabeças por hectare, e pecuaristas que abatem gado mais jovem podem ser prejudicados na conta. 

Assim, a consultoria pegou o número base do Censo de 2017 e somou com as variações em volume registradas nas PPMs dos anos seguintes, chegando à projeção que vai de 175 milhões a 180 milhões de animais – podendo alcançar 190 milhões em anos de oferta muito elevada, que não é o caso. 

Luciano Vacari, diretor da Neo Agro Consultoria, afirma que faltam dados sólidos sobre o rebanho brasileiro, mas que tudo indica que a realidade esteja mais próxima do número do Beef Report do que da projeção do USDA.

“Se tivéssemos desfrute de 20%, tínhamos que estar abatendo 50 milhões de cabeças no ano”, diz ele. Segundo o IBGE, em 2020, o país abateu menos de 30 milhões de bovinos sob algum serviço de inspeção oficial. 

Foto Divulgação.

Além de estimar um rebanho maior, o USDA acredita que o número deverá crescer 4% neste ano e chegar, em janeiro de 2022, a 264 milhões de cabeças de gado. Segundo o documento elaborado por Saulo Nogueira, pecuaristas estão retendo fêmeas para produzir bezerros e aproveitar os altos preços do boi. 

O USDA acredita que o número deverá crescer 4% neste ano e chegar, em janeiro de 2022, a 264 milhões de cabeças de gado.

A projeção do USDA também se apoia na perspectiva de que o segmento está se recuperando de uma fase de baixa oferta, que predominou entre 2016 e 2019, e conta com crédito subsidiado pelo governo para melhorar pastagens e adotar tecnologias reprodutivas. 

O USDA prevê, ainda, que a demanda global por carne bovina será menor em 2022. O documento diz que o mercado brasileiro está atento à China, maior importador da proteína do país, com medo que o gigante reduza as compras. Também espera-se uma nova dinâmica do comércio global associada a mudanças no perfil de consumo e no poder de compra, por conta da continuidade da pandemia do coronavírus.

Um quadro de maior oferta e menor demanda pode pressionar mais produtores a deixarem a atividade. Nogueira diz que muitos pecuaristas saíram do segmento para começar negócios mais lucrativos, como o cultivo de grãos. O impacto maior foi sentido entre pequenos e médios produtores do Sul e Sudeste. Já os produtores do Centro-Oeste, que respondem por 35% da produção nacional, contam com mais recursos próprios e opções de financiamento para seguir na ativa. 

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