“Rei do gado” ou Produtor rural?

É preciso eliminar a imagem de ‘rei do gado’ no agronegócio. A imagem do agronegócio ainda é muito glamourizada e não traduz a realidade do setor.

Uma das músicas menos conhecidas de Zezé di Camargo e Luciano traz em seus versos a realidade do setor mais produtivo do Brasil: “Se nessa terra tudo que se planta dá, o que é que há, meu país? Tem alguém levando o lucro, tem alguém colhendo o fruto, sem saber o que é plantar.” Quem é do meio rural, sabe das dificuldades que o produtor passa no dia a dia do campo. Quem está de fora, nem faz ideia do quanto é árdua a tarefa de plantar ou criar em um país burocrático como este.

A imagem do agro ainda é muito glamourizada. Muitos acreditam que a vida do ruralista se resume em leilões de gado com cantores famosos e milhões na conta pela colheita de grãos. Mas poucos se dão conta dos problemas pré e pós-porteira que existem e sempre existirão na lista de preocupações dos produtores. A começar pelo clima, que está fora do controle humano em alterar suas condições como ocasionar chuvas e alterar as temperaturas como bem entender. Seria um sonho, inclusive.

Foto: Divulgação

A preocupação com a segurança biológica também é crescente, principalmente com a questão das importações e exportações. Por isso, os produtores sempre devem estar atentos à legislação e gerenciar o controle de pragas tanto na plantação quanto nos cuidados com animais. Assim, é preciso arcar com custos infinitos para garantir boa produção.

O agro realmente pode ser tudo, menos ‘pop’

Aliás, a exigência do consumidor em relação à alimentação mais saudável também faz com o que os produtores busquem alternativas mais orgânicas de controle de pragas e redução do uso de defensivos agrícolas. Além da mão de obra de qualidade, que tem se tornado um grande desafio no setor do agronegócio.

Os produtores estão tendo dificuldades em encontrar pessoal especializado para o trabalho no campo em atividades que envolvem: operações de máquinas (que exigem formação adequada), funções técnicas e também tecnologia no campo, que vem sendo amplamente utilizada no segmento para melhoria das atividades rurais. Hoje em dia é necessário formação e capacitação para quaisquer funções no campo, e os produtores encontram dificuldades em selecionar profissionais preparados para preencher essas lacunas.

soja seca
Produtor Antônio José Meireles Flores, do município de Naviraí (MS). Foto: Pedro Silvestre

E a falta de segurança? Os problemas logísticos? Os preços exorbitantes dos fretes? Falta energia, falta água, falta infraestrutura, falta motivação. As manchetes que trazem os números positivos do setor agropecuário não refletem a realidade do produtor rural que acorda cedo e dorme tarde, tentando sanar as preocupações. Sem contar nas contradições. Em uma mesma página acessada é possível ver que “o otimismo com a safra e com investimentos crescem”, mas ao mesmo tempo “que o prejuízo por conta do clima adverso será enorme para o produtor”. Otimismo não combina com prejuízo.

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O homem do campo, mesmo com centenas de problemas no caminho, segue fazendo muito além da tarefa de casa. Ele garante sua sobrevivência no mercado e também o respiro da economia brasileira. Na maioria das vezes, se sente sozinho nessa luta. Por essas e outras, é preciso eliminar a imagem de “rei do gado” quando tratamos da realidade do agronegócio.

Aquela cena com Antônio Fagundes em cima do cavalo, no meio da boiada e banhado a ouro representa apenas a brilhante abertura da melhor novela já escrita na televisão brasileira. O atual momento do produtor rural é complexo e visa um futuro cada vez mais incerto. Ao que parece, em meio às dificuldades ele consegue, talvez, enxergar uma esperança, já que ela se traduz na cor predominante do setor mais produtivo do mundo que caminha carregando a si próprio nas costas. O agro realmente pode ser tudo, menos ‘pop’. 

Por: CliC101 | Folha Goiás

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