
No Brasil, as cadeias de produção de caprinos e ovinos costumam ser descritas como informais, desorganizadas e pouco tecnológicas. A cidade baiana, de pouco mais de 70 mil habitantes, conta com quase 270.000 cabeças de caprinos.
O município de Casa Nova, no semiárido baiano, extremo norte do estado, tem se tornado um dos principais símbolos de caprinocultura do Brasil. A cidade de pouco mais de 70 mil habitantes conta com quase 270.000 cabeças de caprinos. Segundo o último Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2017, é o maior rebanho do país.
A maior parte deste animais, cerca de 78%, está em propriedades rurais de agricultura familiar. Além disso, os caprinocultores do município têm dado passos importantes rumo à profissionalização. No Brasil, as cadeias de produção de caprinos e ovinos costumam ser descritas como informais, desorganizadas e pouco afeitas ao uso de tecnologia. Mas, aos poucos, graças a iniciativas de apoio ao segmento, o quadro tem mudado.
A criação desses animais é extremamente adaptada às condições do semiárido e tem sido a aposta de governos e organizações privadas para promover o desenvolvimento socioeconômico em uma das regiões com maior índice de pobreza do país.
O Nordeste concentra 75% do rebanho nacional de ovinos e caprinos, porém não se aproxima do Valor Bruto da Produção da reigão Sul, onde estão apenas 15% desses animais. São R$ 977.000 contra R$ 2,6 milhões.
“O ambiente institucional minimiza as falhas de mercado no Sul, mas, no Nordeste, esses problemas são mais custosos. Só para se ter uma ideia, 90% da carne de ovinos do país é oriunda do mercado informal. Isso exige que o setor melhore sua organização”, explica José Eustáquio, pesquisador do Ipea.
Em outubro de 2018, produtores da região de Casa Nova criaram a Cooperativa Agropecuária e Familiar de Casa Nova e Região (COAF), que permitiu a seus associados ganhar escala, vender diretamente para frigoríficos e para programas governamentais, dispensando a necessidade de negociação com atravessadores.
Dessa forma, os valores que recebem aumentaram. Até o nascimento da cooperativa, os produtores recebiam, no máximo, R$ 17 pelo quilo do animal vivo, enquanto hoje, o quilo do caprino vivo sai por R$ 23 e o do ovino, R$ 24.
“Antes, os produtores estavam nessa pegada, de muito desânimo, porque trazíamos os animais para a feira, mas o atravessador botava o preço lá embaixo. Tinha gente que levava o animal de volta e tinha quem chegava a ir duas a três vezes à feira para conseguir vender”, diz Valério Rocha, presidente da COAF.
Por meio da cooperativa, os produtores puderam firmar convênios importantes com o governo do Estado. Nessa lista está um investimento de R$ 3 milhões do programa Pró-Semiárido para a construção de um frigorífico próprio, assistência técnica e o recebimento de cinco animais melhoradores da raça sul-africana Dorper, especializada na produção de carne.
Os números dos abates no Brasil dão uma pista sobre o alto nível de informalidade no segmento. No ano passado, os estabelecimentos sob inspeção federal abateram pouco mais de 44 mil ovinos e 120 caprinos.
Além de insignificante em relação ao rebanho nacional, que, segundo estimativas, tem mais de 22 milhões de animais, os registros concentram-se em oito estados, porém nenhum deles do Nordeste.
Segundo Ana Clara Cavalcante, pesquisadora e chefe-geral da Embrapa Caprinos e Ovinos, os desafios que os criadores nordestinos enfrentam são tanto tecnológicos, como sanidade, genética e produtividade do rebanho, quanto não tecnológicos, como o acesso a mercados, o processamento e a logística.
“O que a gente observa é que têm ocorrido mudanças, especialmente nos desafios não tecnológicos, a partir do surgimento de novas lideranças e de novas organizações. Há exemplos muito positivos, que têm mudado a realidade de alguns polos de produção, inclusive abrindo mercados e gerando oportunidades”, destaca Ana Clara.
Emanoel Amarante, técnico supervisor do componente produtivo, de acesso a mercados e sustentabilidade ambiental do Pró-Semiárido, afirma que o apoio à cadeia da caprinovinocultura é considerado estratégico para a política de desenvolvimento agrária da Bahia, estado com o maior rebanho do país.

“Para se ter ideia, nos mais de 140 territórios atendidos pelo Pró-Semiárido, a caprinocultura sempre foi o grupo que mais teve produtores rurais a ser atendidos. Você chegava a um território com quatro comunidades, e 50% a 60% dos agricultores queriam trabalhar com a caprinocultura, porque já era com o que eles trabalhavam. Essa já era a principal fonte de renda deles”, conta Amarante
“Por isso que a gente vem trabalhando forte com o Sistema de Inspeção Municipal e Estadual no contato com essas pequenas agroindústrias. Aqui em Juazeiro mesmo, que está entre os três maiores na produção de caprinos da Bahia, não tem um abatedouro. O abatedouro que tem aqui está fechado. Então como é que a carne vai chegar até o consumidor? Provavelmente grande parte dela é ilegal e não acessa o mercado formal para virar referência”, ressalta o zootecnista.
Fonte: Bnews
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