
A jornada começa com a cria, fase que vai do nascimento até o desmame, normalmente entre 6 e 8 meses de idade
A pecuária de corte moderna não se resume apenas a produzir carne. Hoje, cada etapa, cria, recria e engorda, precisa ser pensada de forma estratégica, pois influencia diretamente o desempenho zootécnico, a qualidade da carcaça e a rentabilidade da fazenda.
Nos últimos anos, a intensificação a pasto ganhou força com dois modelos que vêm mudando a realidade de muitos pecuaristas: a Recria Intensiva a Pasto (RIP) e a Terminação Intensiva a Pasto (TIP). Mas como esses sistemas se complementam? E o que deve ser feito para que os animais passem de uma fase a outra sem prejuízos ao desempenho, especialmente no que se refere à adaptação do rúmen?
Cria e recria: a base de todo o processo
A jornada começa com a cria, fase que vai do nascimento até o desmame, normalmente entre 6 e 8 meses de idade. Para alinhar oferta de forragem com a demanda nutricional das vacas e bezerros, muitos sistemas programam os partos para o período seco (julho e agosto), permitindo que o desmame coincida com a estação chuvosa, quando o pasto está em melhor condição.
O bom desempenho nessa etapa é resultado do manejo reprodutivo eficiente e dos cuidados com a saúde das matrizes e dos bezerros. Bezerros desmamados mais pesados dão início à recria com vantagem competitiva.
A recria é o elo de transição entre a cria e a engorda, momento em que o jovem bovino precisa ganhar estrutura corporal. É nesse ponto que a RIP se torna uma ferramenta decisiva.
O que é a Recria Intensiva a Pasto (RIP)?
A RIP consiste em unir pastagens de alta qualidade a um programa nutricional com suplementação estratégica. Esse manejo acelera o ganho de peso, reduz o tempo de recria e melhora o aproveitamento da infraestrutura da fazenda.
Entre os benefícios, destacam-se:
- Maior ganho de peso diário em comparação aos sistemas convencionais;
- Redução da idade à reprodução das fêmeas, já que o ganho de peso antecipado permite inseminação mais precoce;
- Animais prontos para a engorda com desempenho superior.
Com a RIP, é possível atingir pesos de terminação entre 18 e 20 meses, enquanto sistemas tradicionais podem levar de 24 a 30 meses para o mesmo resultado.
A transição: preparando o rúmen para a engorda
Um ponto crítico é a passagem da RIP para a TIP. Como a dieta já inclui certo nível de concentrado na fase de recria, a adaptação do rúmen se torna fundamental.
O rúmen, responsável por fermentar fibras e grãos, precisa de um período de ajuste quando há aumento da proporção de concentrados. Essa adaptação gradual evita distúrbios digestivos e assegura que os animais aproveitem ao máximo os nutrientes.
Na prática, a transição ocorre elevando-se o fornecimento de concentrado de forma progressiva, enquanto o pasto continua presente, permitindo o desenvolvimento equilibrado da microbiota ruminal.
O que é a Terminação Intensiva a Pasto (TIP)?

A TIP é a fase final do ciclo. Nela, os bovinos recebem dietas com alta densidade energética mesmo em pastagens, com o objetivo de chegar ao abate com acabamento adequado de carcaça.
Diferente do confinamento tradicional, a TIP usa o pasto como base, o que reduz custos de infraestrutura. O manejo, no entanto, exige monitoramento constante de indicadores como:
- ganho de peso diário;
- consumo de matéria seca;
- tempo de ruminação;
- evolução da condição corporal.
Esse controle garante eficiência e mantém a competitividade do sistema.
Benefícios dos sistemas intensivos a pasto
A integração entre RIP e TIP traz vantagens expressivas:
- Redução da idade de abate: de 36–42 meses em sistemas extensivos para 24–30 meses;
- Maior qualidade de carcaça, com melhor marmoreio e acabamento;
- Uniformidade dos lotes, facilitando a comercialização e o planejamento da dieta;
- Melhor rentabilidade, pela eficiência produtiva e menor tempo até o retorno econômico.
Gestão e tecnologia: aliados indispensáveis
Sistemas intensivos só alcançam seu potencial máximo quando há controle rigoroso de variáveis nutricionais, produtivas e financeiras. O uso de ferramentas digitais, como softwares de gestão pecuária, permite:
- cadastro e acompanhamento de animais;
- controle de reprodução, sanidade e nutrição;
- integração com balanças e leitores eletrônicos;
- formulação de dietas e leitura de cocho;
- análise de desempenho individual e por lote.
Essas tecnologias transformam dados em decisões rápidas e assertivas, aumentando a segurança do pecuarista.
A adoção da RIP e da TIP representa um salto de eficiência para a pecuária de corte brasileira. Quando bem planejados, esses sistemas reduzem o tempo até o abate, aumentam a qualidade da carne e melhoram a lucratividade.
O segredo está em dois pilares: adaptação ruminal bem conduzida e gestão apoiada em tecnologia. Unindo conhecimento técnico e ferramentas digitais, o produtor consegue extrair o máximo potencial de cria, recria e engorda dentro dos sistemas intensivos a pasto.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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