Taxa zero para importação de milho não alterou preços

A expectativa da indústria da carne era de que, com a mudança, os preços do grão, matéria-prima utilizada para produzir ração para os animais, caíssem.

Anunciada na última semana e válida a partir desta terça-feira, a suspensão do imposto de importação de milho de países de fora do Mercosul até o fim do ano não surtiu efeito no mercado interno do país, de acordo com analistas consultados pelo Valor. A expectativa da indústria da carne era de que, com a mudança, os preços do grão, matéria-prima utilizada para produzir ração para os animais, caíssem. No entanto, com as fortes altas do milho no mercado internacional, o impacto da medida foi nulo.

De acordo com o monitoramento de preços da consultoria StoneX, entre os dias 16 – data de seu último levantamento antes do anúncio da medida – e 23 de abril, a cotação do grão subiu em praticamente todas as praças que a empresa monitora no país.

A maior alta, de 5,13%, ocorreu em Lucas do Rio Verde (MT), onde o preço passou de R$ 78 a R$ 82 por saca de 60 quilos. Na sequência apareceu a região da Mogiana (SP), na qual o aumento foi de 3,16%, de R$ 95 para R$ 98 a saca.

O maior valor nominal, de R$ 103 a saca, foi registrado em Maringá (PR) – o aumento foi de 3%. Em Rio Verde (GO), o preço da saca passou de R$ 88 a R$ 90 (+2,27%), e em Passo Fundo (RS) ele ficou estável, em R$ 95 a saca.

“Temos preços elevadíssimos em Chicago (os maiores em oito anos), estoques apertados e um alto custo logístico. O milho de fora do Mercosul não chega em um patamar tão atrativo”, afirma João Lopes, analista da StoneX.

O governo federal suspendeu a cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC), e voltaram a cair as tarifas de 8% sobre as importações de soja em grão e de milho, de 10% sobre óleo de soja e de 6% sobre farinha e pellets. Não foram estabelecidas cotas para as compras.

“Esperava-se um efeito de baixa ou, pelo menos, de interrupção das altas para que, em um segundo momento, os preços se estabilizassem. O que se viu é que a medida não conseguiu nenhuma das duas coisas”, diz o analista de mercado Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócio.

Segundo cálculos da consultoria, a paridade de exportação do cereal dos EUA – hoje o fornecedor mais viável – não está mesmo atrativa para os criadores brasileiros. Enquanto seria possível trazer milho da Argentina por cerca de R$ 100 a saca de 60 quilos, o grão americano chegaria aos compradores do Brasil custando em torno de R$ 108 por saca.

Além dos custos, há restrições ao milho dos EUA, já que algumas variedades plantadas pelos americanos não são autorizadas no Brasil. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa a Sadia (BRF) e a Seara (JBS), tenta desde 2016 obter da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) a liberação desses grãos exclusivamente como ração, até agora sem sucesso.

Outra alternativa seria utilizar o trigo como ração, em substituição ao milho. Porém, em meio à valorização dos grãos em Chicago, os preços do cereal também estão altos, além de a oferta no mercado interno ser muito pequena.

As incertezas da safrinha de milho relacionadas ao clima e o forte movimento de vendas antecipadas, que passam de 50% da produção prevista, também dão suporte aos preços do grão.

Fonte: Valor Econômico.

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