Veneno de serpente é mais lucrativo que ouro; veja o valor da substância

A comercialização do veneno de serpentes revela-se como um nicho de mercado em ascensão, com uma contribuição valiosa para a indústria farmacêutica. O elevado valor comercial dessa substância é impressionante, podendo valer mais que ouro; confira o valor

Nos últimos anos, um mercado inusitado tem se destacado no Brasil, tornando-se mais lucrativo do que investir em ouro: a criação de serpentes. Marcos Francote, administrador de empresas e especialista em gestão comercial de serpentário, revela que essa atividade, até então pouco explorada no país, tem grande potencial econômico. Segundo ele, a produção de veneno de cobra, utilizada em tratamentos médicos, está se transformando em um negócio promissor.

O administrador destaca a rentabilidade do empreendimento. Esse material é destinado ao tratamento de diversas condições médicas, incluindo câncer, pressão alta, derrame cerebral e hemorragias, entre outras. Neste artigo, exploraremos o mercado de serpentes no país, como é feita a extração das gotas, a funcionalidade que têm e os preços impressionantes que podem adquirir.

Sobre o mercado de serpentes no Brasil

O mercado de veneno de serpentes tem ganhado notoriedade no Brasil devido ao seu alto valor comercial. No entanto, adentrar nesse segmento requer planejamento cuidadoso e capacitação, conforme enfatizado pelo professor Dr. Stefan Tutzer no curso “Criação de Serpentes” promovido pelo CPT – Centro de Produções Técnicas.

O veneno das serpentes, altamente valorizado, encontra seus principais compradores em universidades, laboratórios de pesquisa e indústrias farmacêuticas. Estes utilizam o produto tanto para pesquisas quanto para a produção de medicamentos. Tutzer destaca a importância de vender o veneno devidamente documentado, acompanhado de nota fiscal e certificação de qualidade.

veneno de serpente
Foto: Albari Rosa/ Gazeta do povo

Além do foco no veneno, o criador pode diversificar sua produção. A comercialização de serpentes não venenosas para exportação é uma alternativa viável. Outros nichos incluem o abate dos animais para venda de carne, com destaque para o mercado chinês, e a venda de couro, preferencialmente para os Estados Unidos. O fornecimento de serpentes para pet shops especializados também se apresenta como uma oportunidade de negócio. A possibilidade de oferecer visitações às instalações, com a execução de ações ecológicas e culturais, é uma opção que agrega valor ao empreendimento. No entanto, qualquer mudança ou acréscimo de atividades exige a devida consulta ao IBAMA para cumprir os procedimentos necessários.

O manejo e criação de serpentes demandam atenção e cuidado. Um planejamento sólido é fundamental para o sucesso do empreendimento. O cuidado com a infraestrutura do serpentário, a obtenção de um plantel legalizado pelo IBAMA, a especialização da mão de obra e o manejo adequado das serpentes são fatores cruciais.

É crucial alertar que a coleta de serpentes na natureza sem autorização do IBAMA é considerada crime ambiental, sujeita a multas e detenção. O mesmo se aplica à instalação de um criatório sem a devida licença.

Como é extraído o veneno?

A extração de veneno de serpentes é uma prática delicada que exige habilidade e cuidado para garantir a segurança tanto do manipulador quanto do animal. O processo geralmente é realizado por profissionais especializados, conhecidos como “milkadores de serpentes“. Abaixo estão os passos comuns envolvidos na extração do veneno:

Contenção do animal: O primeiro passo é conter a serpente de forma segura, minimizando o estresse tanto para o animal quanto para o milkador. Isso pode ser feito com ganchos ou pinças apropriadas, garantindo que o manipulador evite mordidas.

Posicionamento adequado: A serpente é cuidadosamente posicionada para expor suas presas. Em alguns casos, é utilizado um suporte apropriado para manter a serpente imóvel durante o procedimento.

Estimulação das glândulas de veneno: Usando uma superfície adequada, como um vidro ou uma lâmina de silicone, o milkador estimula suavemente as glândulas de veneno localizadas nas presas da serpente. Esse estímulo leva à liberação do veneno.

Coleta: O veneno é coletado em recipientes apropriados, muitas vezes de vidro ou plástico. Esses recipientes são devidamente rotulados e mantidos em condições que preservem a qualidade do produto.

Foto: Rogério Nascimento/Ed. Globo

Retorno seguro à jaula: Após a extração, a serpente é cuidadosamente devolvida à sua jaula. É importante garantir que o processo não cause estresse excessivo ao animal.

Período de recuperação: Após a extração, as serpentes precisam de um período de recuperação antes que o procedimento seja repetido. O bem-estar e a saúde do animal são prioridades durante todo o processo.

Registro e documentação: Todo o procedimento é registrado, incluindo informações sobre a serpente, a quantidade de veneno coletada e a data do procedimento. Isso é crucial para garantir a rastreabilidade e a conformidade com as regulamentações.

Para que serve o veneno extraído?

O veneno de serpentes tem uma variedade de usos, sendo valorizado principalmente por suas propriedades medicinais. Aqui estão alguns dos principais usos do veneno de serpentes:

Produção de soros antiofídicos: O uso mais conhecido do veneno de serpentes é na produção de soros antiofídicos. Esses soros são essenciais para tratar vítimas de picadas de cobras venenosas, neutralizando os efeitos tóxicos do veneno e evitando complicações graves ou morte.

veneno de serpente
Foto: Divulgação

Pesquisas científicas: O veneno de serpentes é uma fonte rica de compostos bioativos, incluindo enzimas e proteínas. Pesquisadores utilizam o veneno para estudar propriedades farmacológicas, entender a biologia das serpentes e desenvolver novos medicamentos.

Desenvolvimento de medicamentos: Componentes do veneno têm sido explorados na pesquisa para o desenvolvimento de medicamentos. Alguns compostos têm propriedades analgésicas, anticoagulantes e anti-inflamatórias, sendo estudados para possíveis aplicações terapêuticas.

Tratamentos médicos: Além dos soros antiofídicos, o veneno de serpentes tem sido investigado para possíveis tratamentos em diversas condições médicas. Há estudos sobre seu potencial no tratamento de câncer, pressão alta, derrame cerebral e até mesmo para o desenvolvimento de cola cirúrgica.

Agricultura: Alguns compostos presentes no veneno de serpentes têm potencial aplicação na agricultura, atuando como pesticidas naturais para proteger cultivos contra pragas.

Cosméticos: Alguns ingredientes derivados do veneno de serpentes são explorados na indústria cosmética. Alega-se que certos peptídeos presentes no veneno têm propriedades antienvelhecimento e podem ser incorporados em produtos de cuidados com a pele.

Qual o valor e como é comercializado?

O veneno de serpentes é altamente valorizado na indústria farmacêutica, alcançando preços significativos no mercado internacional. Algumas substâncias presentes no veneno chegam a custar impressionantes US$ 3 mil por grama. As gotas mais caras do mundo são as do veneno de cobra-coral-verdadeira: 1 mililitro dele chega a custar quase 60 mil reais! Esse valor elevado reflete a importância desses componentes na pesquisa médica e na produção de medicamentos.

veneno de serpente
Coral-verdadeira — Foto: Renato Gaiga

A comercialização do produto é uma operação que exige rigor e conformidade com regulamentações específicas. Para entrar no mercado, o veneno deve ser vendido com nota fiscal e certificação de qualidade do produto. Essa certificação é obtida por meio da análise laboratorial do veneno, geralmente estabelecendo convênios entre o serpentário e universidades ou laboratórios terceirizados.

O processo de análise laboratorial é fundamental para assegurar a pureza e a qualidade do veneno, garantindo que atenda aos padrões exigidos pelo setor. Essa etapa é parte integrante do processo de certificação que respalda a rastreabilidade e a conformidade com as normativas da indústria de fármacos.

A comercialização internacional requer cuidados adicionais, pois exige que a documentação do produto e da empresa esteja em conformidade com as exigências alfandegárias. A certificação de qualidade e a transparência na documentação são cruciais para que o veneno seja aceito nos mercados internacionais.

Conclusão

A criação e comercialização do veneno de serpentes revelam-se não apenas como um nicho de mercado em ascensão, mas também como uma contribuição valiosa para a pesquisa médica e a indústria farmacêutica. O elevado valor comercial dessas substâncias, destaca a importância econômica desse setor. Contudo, é essencial ressaltar a necessidade de práticas éticas e sustentáveis na extração do veneno, assegurando o bem-estar das serpentes e a conformidade com regulamentações ambientais.

Além do valor monetário, a certificação rigorosa do veneno, obtida por meio de análises laboratoriais e parcerias com instituições especializadas, reforça a seriedade desse empreendimento. A transparência na comercialização, aliada à qualidade do produto, não apenas sustenta a reputação do mercado, mas também facilita o acesso a mercados internacionais exigentes. Nesse contexto, a criação de serpentes não apenas oferece oportunidades de negócios lucrativas, mas também impulsiona avanços na pesquisa científica e no desenvolvimento de medicamentos, consolidando-se como uma atividade multifacetada com impacto significativo.

Escrito por Compre Rural.

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Juliana Freire sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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