Bos taurus vs Bos indicus: separados há 2 mi de anos

As duas formas de gado, identificadas como taurinos (bos taurus) e zebuínos (bos indicus), são basicamente diferenciadas entre si pela ausência e presença de cupim ou giba.

“Os fetos com poucas semanas já possuem o cupim” – Os bovinos são hoje representados por cerca de 800 raças, numa população mundial de 1,4 bilhões de animais. Destas, cerca de 480 são taurinos e estão na Europa. No Brasil são cerca de 60 raças, o que representa 7,5% do total. Os trabalhos sobre o seqüenciamento e análise do genoma bovino publicados na Science em 2009, realizado em taurinos, zebuínos e seus cruzamentos, representam o esforço de um consórcio de três centenas de pesquisadores de 25 países.

Os resultados são capazes de identificar a variabilidade genética que afetam a produção de leite e carne, a reprodução, a resistência às doenças, bem como um guia para a seleção individual nos programas de cruzamentos.

Os estudos recentes do DNA mitocondrial de fósseis e de animais viventes indicam que populações do extinto auroque (Bos primigenius) foram os progenitores do gado europeu (Bos taurus taurus) e do gado zebu (Bos indicus). Daí a proposta de denominação das duas subespécies de bovinos: Bos primigenius taurus para os taurinos e Bos primigenius indicus para os zebuínos.

Evidências arqueológicas mostraram que taurinos e zebuínos surgiram independentemente em pelo menos dois locais de domesticação entre 10.000 a 8.000 anos atrás provenientes de distintos grupos de auroque. Os taurinos emergiram do Oriente Próximo (Crescente Fértil) e os zebuínos do Vale do rio Indo (hoje Paquistão) com difusão pela India e mais recentemente (3.000 anos) com a introdução de machos no norte da África.

Dados moleculares sugerem que o gado zebu do norte da África originou-se do cruzamento de linhagens primitivas locais de taurinos utilizando a introgressão com machos zebuínos.

Posteriormente, o gado acompanhou a migração humana pela Ásia, África, Europa e Américas, levando a dispersão e cruzamentos de taurinos e zebuínos. O genoma dos bovinos contem, ao menos, 22.000 genes e o tempo estimado de divergência indica que taurus e indicus se separaram há 1,7 a 2,0 milhões de anos atrás com sequência de nucleotídeos 16.338 e 16.339 respectivamente, diferindo entre si em 237 posições.

São classificadas em: “com cupim” que são os zebuínos (nelore) e “sem cupim” os de origem europeia principalmente. As duas subespécies o Bos tauros e o Bos indicus, iniciaram sua diferenciação a cerca de 10 a 20.000 anos atrás.

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Infográfico: Compre Rural

Bos indicus

São originados na Índia, inclusive o nelore brasileiro que foi importado a partir de 1868, eles possuem boa adaptação ao calor dos trópicos e às grandes variações na disponibilidade de alimentos, além de resistência a um alto número de parasitas internos e externos. Por milhares de gerações, a seleção natural para sobrevivência na presença destes estresses ambientais resultou em raças rústicas que têm alta resistência à endo e ectoparasitas, adaptação ao calor, umidade e radiação solar.

Principais raças

Brahman: raça dos Estados Unidos que vem de cruzamentos de nelore, guzerá onde os norte americanos selecionaram um boi rústico, mas com maior carcaça, pois é menor em tamanho comparado com o nelore porém tem mais musculatura. É uma opção pra cruzamento com nelore, haverá uma heterose, porém essa será pequena.

Brahman
Brahman Foto: Divulgação/ Reprodução

Gir: Pode ser encontrado o gir leiteiro e o gir de corte, para produção de vacas leiteiras é bastante utilizado principalmente pela sua rusticidade, porém como gado de corte não é muito recomendado.

Gir Leiteiro / Foto: Divulgação

Guzerá: Tem um temperamento mais bravo e é uma raça de dupla aptidão, ou seja, é raça de corte e de leite. Pode-se fazer o cruzamento com o nelore gerando o Guzonel que trará como resultado ótimas matrizes para reprodução, muito boas de leite sem perder as características de bovino de corte.

Guzerá
Guzerá / Foto: Divulgação

Nelore: uma das raças mais comuns no Brasil, é base para a maioria dos cruzamentos realizados.

Nelore
Nelore / Foto: Divulgação

Tabapuã: raça dócil sem chifres, com precocidade sexual e grande habilidade materna, por serem mais dóceis aceitam mais o confinamento e tem menor número de brigas entre o rebanho, é uma boa opção para o cruzamento com nelore, principalmente em regiões muito quentes que não se pode fazer cruzamento com gado europeu.

Tabapuã / Foto: Divulgação

Bos tauros Britânicos

Sua origem deu-se nas Ilhas Britânicas com a finalidade principal dessas raças têm sido, por muitos séculos, produzir carne para o consumo humano foram selecionadas para velocidade de crescimento, precocidade sexual, fertilidade e qualidade de carne, resultando em raças de tamanho intermediário.

Os principais são:

Aberdeen (Black/Red) Angus: é a base dos bovinos nos Estados Unidos, possui alta precocidade sexual e para ganho de peso, que reflete em menor tempo até chegar ao abate, sua carne apresenta de 3 a 6 mm de gordura e grande marmoreio (gordura entremeada na carne) que lhe confere bastante maciez e sabor.

Pode-se encontrar o Black e o Red angus, onde a diferença está somente na cor da pelagem, o Red é obtido através de um gene recessivo, portanto acasalamentos entre animais com a pelagem vermelha só produzirão animais com a pelagem vermelha, já os animais com a pelagem preta é devido ao gene dominante que pode ser heterozigoto ou homozigoto, com isso pode-se ter como resultado do acasalamento de dois animais pretos, filhos tanto pretos quanto vermelhos, se os pais forem heterozigotos. É a raça hoje que mais vende sêmen no Brasil.

Aberdeen
Aberdeen Foto: Divulgação/ Reprodução
Red Angus
Red Angus Foto: Divulgação/ Reprodução

Devon: raça pouco conhecida e utilizada no Brasil.

Devon
Devon Foto: Divulgação/ Reprodução

Hereford: comum no Rio Grande do Sul, origem muito próximo com o A. Angus, boas características como ganho de peso, gordura, maternal, porém por ter a cara branca deve-se selecionar animais com uma melhor pigmentação na área dos olhos para evitar problemas com úlceras, são os chamados animais de óculos, pois possuem pelagem mais escura ao redor dos olhos que lembram um óculos.

Hereford
Hereford Foto: Divulgação/ Reprodução

Shorthorn: Pouco conhecido e utilizado no Brasil, entra em alguns programas de cruzamentos somente.

Shorthorn
Shorthorn Foto: Divulgação/ Reprodução

Bos tauros continentais

São principalmente os bois italianos, franceses, alemães, suíços, belgas foram selecionadas originalmente para tração na Europa Continental portanto são animais maiores e com mais dianteiro.

Essa seleção com menor ênfase em outras características de produção provocou o aumento da massa muscular e do peso adulto, são conhecidas pelo elevado peso ao nascimento, grande potencial de crescimento (ganho de peso), alto rendimento de carcaça com menor porcentagem de gordura, por isso animais continentais necessitam de mais tempo no cocho no período final de engorda para serem abatidos.

Alguns exemplos são:

Belgian Blue: de origem belga, apresentam desenvolvimento extraordinário de musculatura, têm a carne um pouco mais tenra devido ao menor marmoreio e pouca quantidade de gordura. Por serem animais grandes é comum a intervenção para o nascimento como as cesáreas.

belgian-blue
belgian-blue

Blond D’Aquitaine: originário da França, pouco utilizado no Brasil.

Blond D’Aquitaine
Blond D’Aquitaine

Charolês: é mais comum no Brasil, tem origem francesa e é uma raça que possui alta adaptabilidade a diferentes ambientes e alimentação, também possui pouca gordura de acabamento e muita musculatura, para terminação pré-abate é necessário oferecer ração no cocho.

Charoles
Raça Charolês

Chianina: de origem italiana é uma das maiores raças bovinas do mundo, em tamanho e peso, pois os machos podem alcançar 1,80 m de altura e até 1300 kg de peso vivo, chegando a ganhar diariamente 1,2 kg de peso.

chianina
Raça Chianina

Limousin: raça de origem francesa com animais de médio porte e alto rendimento do carcaça, é uma boa opção para cruzamentos.

Limousin
Limousin

Gelbvieh: origem alemã

Gelbvieh
Gelbvieh

Marchigiana: Italiana, produz uma carne caracterizada por notável desenvolvimento dos músculos e do quarto traseiro, os animais têm um tronco alongado e que tende a ser cilíndrico. Particularmente precoce e adaptado aos ambientes mais difíceis.

Marchigiana
Marchigiana

Pardo Suíço: possuem duas linhagens, uma para corte e outra para leite, ou seja, é de dupla aptidão.

Pardo Suíço
Pardo Suíço

Piemontês: com origem italiana, são animais que possuem dupla musculatura, ou seja, o traseiro tem uma hipertrofia dos músculos que aumentam as regiões de coxa e nádegas, essa raça já foi considerada com três aptidões (produção de carne, de leite e de trabalho), porém com o tempo selecionou-se mais animais para a produção de carne.

Esses animais possuem uma dificuldade muito grande para depositar gordura, por isso no Brasil sua carne é mais utilizada para produção de hambúrguer light.

Piemontes
Piemontes

Normando: Raça de origem francesa, possuem animais de médio porte com dupla aptidão, carne bastante magra e leite com gordura, ideal para fabricação de queijos e manteiga.

Normando
Normando

Simental: com origem na Suíça, essa raça possui dupla aptidão (produção de carne e de leite), apresenta precocidade reprodutiva, de crescimento e produtiva. Como o Hereford também se procura animas com óculos (áreas pigmentadas ao redor dos olhos) para evitar problemas com úlceras na região.

Simental
Simental

Wagyu: Wa= japonês ou estilo japonês / Gyu= gado, é uma mistura de Pardo Suíço, Shorthorn, Devon, Simental, Koreano, Holandês, Ayrshiree Angus, ou seja, é um boi taurino de origem europeia que teve seleção no Japão para um alto marmoreio da carne, que lhe confere extrema maciez, suculência, sabor e aromas incomparáveis.

As linhagens são Tottori, Tajima, Shimane e Okayama. É um mercado importante no Brasil, porém é uma carne extremamente cara, pois para alcançar o marmoreio desejado o animal precisa ficar no mínimo um ano sendo tratado no cocho para terminação, além de ser uma raça tardia, e isso causa custo elevado para sua produção e consequentemente para o consumidor.

Tem-se que tomar cuidado com cruzamentos envolvendo o Wagyu, pois nem sempre se terá as características de marmoreio da raça pura.

Wagyu
Wagyu

Bos taurus adaptados

São raças com maior adaptação quanto a doenças e carrapatos, mais rústicas e menores, por isso têm exigências nutricionais menores.

As raças taurinas adaptadas evoluíram em regiões tropicais quando comparadas com as europeias, essas raças têm maior resistência para calor e carrapatos e ambientes com restrição alimentar.

Devido a sua maior rusticidade e características de adaptação, as raças adaptadas tem um potencial de crescimento mais baixo e menores exigências de alimento e de manutenção que outras raças taurinas.

Para todas as raças taurinas adaptadas, as características de qualidade de carne, incluindo a maciez, estão mais próximas daquelas das raças europeias do que das raças indianas.

Alguns exemplos de Bos tauros adaptadas

Caracú: era originalmente uma raça europeia que foi trazida a mais de 500 anos para o Brasil, com o tempo se tornou bastante adaptada ao ambiente e clima brasileiros, apresenta bastante rusticidade e excelente habilidade materna.

Caracu
Caracu

Romosinuano: raça que também foi trazida na época das grandes navegações, porém para colombia.

Romosinuano
Romosinuano

Senepol: Dependendo dos objetivos que o produtor deseja essa é uma boa opção para cruzamento, essa raça foi adaptada nas ilhas virgens e trazida para o Brasil onde está sendo feito trabalho de seleção, pode ser utilizado para cruzamento em lugares onde o A. Angus não é possível devido às altas temperaturas.

Senepol
Senepol

Resumindo:

  • Bos indicus: Maior adaptabilidade e maior resistência a parasitas;
  • Bos taurus Britânicos: Maior precocidade e mais deposição de gordura na carcaça;
  • Bos taurus Continentais: Maior peso ao abate, carcaças com pouca gordura e mais exigência de manutenção.

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